E-mail, o novo front na guerra da Apple contra Google e Facebook

Novo recurso da dona do iPhone vai dar mais privacidade aos usuários ao ler suas mensagens, evitando coleta de dados pessoais

Por Bloomberg


Tim Cook: privacidade dos usuários será protegida também nas mensagens de e-mail AFP — Foto:

CUPERTINO, Califórnia - Exercer influência sobre nossa caixa de entrada de e-mails há muito tempo é privilégio do Google, cujo serviço Gmail tem relegado mensagens a guias chamadas "promoções" e "social" (uma espécie de purgatório entre o inferno de nossa pasta de spam e o paraíso da inbox principal) desde 2013. Agora, a Apple está entrando em ação para competir com a gigante de buscas nesse setor.

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Em sua conferência anual de desenvolvedores no início de junho, ela revelou ferramentas destinadas a dar aos usuários de seu aplicativo de e-mail maior controle sobre quais dados compartilhar. Mas, ao proteger o usuário, a Apple também está servindo aos seus próprios interesses.

A maioria dos boletins informativos ou e-mails de marketing que recebemos no e-mail incluem imagens que não estão incorporadas na mensagem, mas são hospedadas remotamente em outro servidor. Ao abrir o e-mail, o servidor envia um comando para fazer o download do gráfico.

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Mas, ao fazer isso, ele também informa ao remetente a hora em que você abriu a mensagem, sua localização aproximada e o dispositivo que está usando, por exemplo. Marcas usam esses dados para avaliar a eficácia de seu conteúdo.

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A Apple resolveu acabar com essa invasão de privacidade com um recurso que chamou de “Proteção de Privacidade do E-mail”. A ferramenta irá baixar automaticamente os dados hospedados remotamente, quer você abra o e-mail ou não, enquanto ao mesmo tempo protege sua localização.

O remetente será, portanto, informado de que o e-mail foi aberto, mesmo que não tenha sido, e não receberá mais informações sobre o destinatário.

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De olho nas mensagens

O recurso também posiciona a Apple como um espécie de guardião para sua caixa de entrada de e-mails. Isso é significativo: cerca de metade de todos os e-mails hoje são abertos em aplicativos da Apple, estima a empresa de análise Litmus Software, de Cambridge, Massachusetts.

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Usar o recurso privativo, por outro lado, prejudicará os anunciantes e editores de boletins informativos que dependem desses dados. E acirra a batalha da Apple com a indústria de tecnologia de publicidade on-line, um mercado dominado por Google, Facebook e Amazon.

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As iniciativas anteriores do CEO da Apple, Tim Cook, para impedir que os anunciantes rastreiem a navegação na web e o uso de aplicativos se mostraram eficazes: os gastos com anúncios no iOS aumentaram apenas 10% nas dez semanas desde 22 de março, enquanto aumentaram 21% no Android do Google, de acordo com dados da empresa de marketing Warc.

Preservando a venda de dispositivos

Mas a medida também posiciona a Apple de forma mais poderosa como a porta de entrada para anunciar em iPhones.

“Eles estão focando muito na privacidade, mas a Apple está interessada no mercado de publicidade e já ganha muito dinheiro lá”, disse Andy Yen, CEO do provedor de e-mail criptografado Proton Technologies.

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As iniciativas de privacidade atendem ao lado dos usuários. Mas elas também ajudam a proteger o negócio de hardware de US$ 220 bilhões da Apple contra as incursões de seus rivais.

Enquanto a Apple ganha a maior parte de seu dinheiro com dispositivos, o Google e o Facebook ganham a maior parte de sua receita vendendo anúncios com base nos dados que coletam sobre os hábitos e interesses de seus usuários. Isso significa que eles podem vender smartphones, alto-falantes inteligentes ou fones de ouvido de realidade virtual a preços mais baratos, porque o custo é subsidiado pelo valor dos usuários como público-alvo de um anúncio.

Em resumo, nossos e-mail são o mais novo front de uma guerra muito maior.

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