Dólar cai 9,27% no semestre: é hora de comprar?

Movimento ocorre em meio a perspectiva mais positiva sobre cenário local e com proximidade do fim do ciclo de alta de juros no exterio

Por O GLOBO — Rio


Avaliação da S&P e freio nos juros dos EUA aceleram queda do dólar no Brasil Pixabay

O dólar fechou em R$ 4,78, nesta sexta-feira. No mês, a moeda caiu 5,60% e, no ano, já acumula queda de 9,27%. Este foi o melhor primeiro semestre para o câmbio desde 2016, quando o dólar caiu 18,61%.

Diante do desempenho, para quem vai viajar para o exterior ou quer fazer investimentos lá fora, surge logo a pergunta: É hora de comprar? Ou a tendência é que a queda se acentue? Especialistas avaliam que há espaço para a divisa cair mais. A recomendação é comprar aos poucos, para se formar a "cotação média".

O que tem ajudado?

A sequência de dados que mostram o processo desinflacionário na cena local, o crescimento resiliente da economia e o encaminhamento de pautas econômicas que têm como objetivo conter a evolução da dívida do país alimentaram a visão mais construtiva do Brasil nos últimos meses. Entre elas, o fato de agência de risco S&P ter revisado sua perspectiva de rating para o país de estável para positiva.

Em entrevista recente ao GLOBO, o sócio e gestor da Galapagos Capital, Sérgio Zanini, chamou atenção para o aumento das commodities, as expectativas de fluxos para bolsa e renda fixa brasileira, e investidores locais gradualmente saindo de apostas negativas com Brasil . Ele ressaltou ainda a projeção do mercado de início de um ciclo de corte de juros.

Na cena externa, o Federal Reserve manteve os juros inalterados na reunião de junho. Mesmo que o BC americano volte a subir as taxas em julho, o que é esperado, o fim do ciclo de altas nos juros está próximo por lá. Segundo o analista, isso ajuda a economia brasileira a começar a acelerar novamente antes do esperado e sustentando os preços dos ativos locais.

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Perspectivas mais otimistas

Após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre acima do esperado, diversas casas revisaram para cima suas projeções de crescimento. Na avaliação do CEO da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez, essa revisão de instituições relevantes do mercado estão impulsionando investimento estrangeiro no país.

As revisões também chegam no câmbio. Os estrategistas do Goldman Sachs alteraram suas estimativas para o câmbio doméstico e passaram a projetar o dólar em R$ 4,40 no fim do ano.

A revisão é ancorada nos dados de inflação mais fracos e na leitura mais otimista acerca da economia brasileira, que resultou, na semana passada, na alteração da perspectiva do rating do Brasil pela S&P.

O banco americano cortou a estimativa para o dólar de R$ 4,90 para R$ 4,60 no prazo de três meses; de R$ 4,85 para R$ 4,40 no espaço de seis meses (no fim deste ano); e de R$ 4,80 para R$ 4,40 no intervalo de 12 meses.

Ainda que o diferencial de juros tenha beneficiado moedas emergentes, como o real, os estrategistas do Goldman Sachs destacam que questões locais têm contribuído para a boa performance da moeda brasileira.

“No quesito inflação, a leitura do IPCA de maio surpreendeu pelo lado de enfraquecimento e apontou para um progresso visível nos componentes do núcleo e de serviços”, destaca os estrategistas do banco, em relatório.

Dólar tem o melhor primeiro semestre desde 2016 — Foto: Bloomberg

Na avaliação do Goldman, mesmo que o BC passe a cortar a Selic em um horizonte próximo, dado o elevado ponto de partida das taxas de juros reais e o contínuo progresso na inflação, os diferenciais de juros continuem favoráveis ao câmbio, com os fluxos de entrada para a renda fixa permanecendo um importante vento favorável para o real.

Há espaço para novas quedas?

Na visão de especialistas, o real ainda pode ceder mais. Para isso, fatores como a aprovação do arcabouço fiscal sem grandes alterações pelo Congresso e sinalizações positivas para a economia, como a não reversão de marcos legais estabelecidos nos últimos anos, devem ocorrer.

Para os analistas, a votação do arcabouço no Senado é vista como mais um atrativo para o investidor estrangeiro. Em entrevista recente, o diretor da FB Capital, Fernando Bergallo, ressalta que ainda com os juros mais alto do mundo, com o cenário fiscal melhorando e juros lá fora parando de subir, o Brasil ainda fica mais atraente.

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