Após crise no mercado imobiliário, 'shadow banking', setor que movimenta US$ 3 tri, assombra a China

Fundo que atua no chamado mercado paralelo de bancos dá calote em investidores, e governo monta força-tarefa para evitar contágio. Um dos riscos é de aperto no crédito imobiliário

Por Bloomberg — Pequim


Escritório da Zhongrong International, em Pequim: empresa deu calote nos investidores Bloomberg

Um calote num setor que funciona como uma espécie de sistema bancário paralelo na China aumentou a preocupação com a economia do país nesta quarta-feira. A Zhongrong International, que oferece crédito privado ao setor imobiliário chinês, deixou de pagar rendimentos a investidores em dezenas de seus produtos e disse que não tem plano imediato para ressarci-los.

Wang Qiang, secretário do Conselho de Administração da Zhongrong, teria dito a investidores em uma reunião no início desta semana que a empresa não pagou um lote de produtos em 8 de agosto, somando-se a atrasos em pelo menos dez outros desde o final de julho, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Pelo menos 30 produtos estariam com pagamentos atrasados, ​​e os resgates de alguns instrumentos de curto prazo foram interrompidos, disse uma fonte. A proporção do calote veio à tona hoje, mas não foram revelados números.

A Zhongrong International faz parte do chamado shadow bank, uma indústria de fundos que movimenta cerca de US$ 3 trilhões na China, captando recursos junto a famílias e clientes corporativos para fazer empréstimos e investir em imóveis, ações, títulos e commodities. É um setor do tamanho da economia britânica e excessivamente exposto ao setor imobiliário.

Cerca de metal é erguida na sede da Zhongrong, em Pequim: investidores fizeram protesto em frente ao escritório da empresa — Foto: Bloomberg

Protesto de investidores

Os problemas da Zhongzhi, que tem US$ 138 bilhões sob gestão, são mais profundos do que se pensava inicialmente, já que apenas três clientes até agora revelaram publicamente a falta de pagamentos das duas empresas.

Um grupo de investidores protestava em frente ao escritório da empresa em Pequim nesta quarta: "Nos devolva o dinheiro!" e "Por que você não nos dá uma explicação clara?", gritavam.

As autoridades chinesas já criaram uma força-tarefa para estudar qualquer possível contágio. Também pediram a alguns fundos que não vendam mais ações do que comprarem nesta semana, para evitar que a crise se agrave. A Bolsa de Xangai fechou em baixa de 0,82%.

Efeito sobre bancos

Há vários desdobramentos possíveis. A crise desencadeada pelo calote no setor de shadow bank “pode resultar em condições mais rígidas de financiamento imobiliário e afetar os lucros e balanços dos bancos”, disse Shuo Yang, analista do Goldman Sachs.

Além disso, pode afetar a já frágil confiança do consumidor, na ausência de medidas de apoio mais robustas de Pequim.

O Barclays foi um dos vários bancos globais a reduzir suas previsões de crescimento para a China em 2023, após divulgação de dados fracos da economia chinesa nos últimos dias. Ele citou uma deterioração mais rápida do que o esperado no mercado imobiliário, o que o fez baixa a previsão de crescimento do PIB chinês para 4,5%, ante 4,9%.

Veículos da polícia estacionados perto dos escritórios de Zhongrong, para evitar que os protestos aumentem — Foto: Bloomberg

Urgência de medidas

Alguns economistas dizem que muitos consumidores e pequenas empresas podem já estar sentindo um baque econômico tão profundo quanto o provocado por uma recessão, dado o desemprego entre os jovens em taxas recordes acima de 21%. A deflação também está afetando o lucro das empresas.

Agravando o cenário, os preços das novas casas na China caíram em julho pela primeira vez neste ano, o último de uma série de dados desanimadores que destacam a urgência de um apoio político mais audacioso.

O governo cortou os juros em 0,15 ponto percentual na terça-feira, para 2,5%, no maior corte já feito desde 2020.

Com agências internacionais

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