Com nova queda da Selic, veja como planejar seus investimentos em 2024

Para especialistas, renda fixa segue sendo atrativa, com boas opções em crédito privado. Renda variável tende a se beneficiar de futuras quedas da Selic

Por — Rio


Com juros a 11,75%, veja onde investir Freepik

Após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltar a cortar a taxa básica de juros, a Selic, nesta quarta-feira, para 11,75%, os investidores podem começar a se questionar se ainda vale a pena manter seus investimentos na renda fixa, que ganhou bastante atratividade nos últimos anos.

Apesar da quarta baixa consecutiva da Selic, a classe deve continuar apresentando bons retornos, na avaliação de especialistas. Isso porque os juros ainda se mantêm em patamar elevado e a inflação vem desacelerando.

Sendo assim, a avaliação é que o investidor não abandone a renda fixa agora. Para aqueles que aceitam tomar mais risco, o aumento de aplicações na renda variável começa a ser uma opção, mas deve ser feito com cautela e a depender dos objetivos e prazos de cada investidor.

— Ainda vemos muita oportunidade no mercado de renda fixa para 2024. Mas o investidor não vai ver os mesmos preços no novo ano como ele viu em 2023. O risco soberano na renda fixa continua sendo fundamental no portfólio de qualquer investidor. Estamos falando muito de IPCA+, com ganho acima da inflação — destaca a planejadora financeira do C6 Bank, Larissa Frias.

Nova composição: Presidente e diretores do Banco Central

9 fotos
Comitê de Política Monetária (Copom) é formado pelo presidente do BC e mais oito diretores

A tendência é que a Selic continue a cair nas próximas reuniões, com o mercado se questionando sobre o ritmo que será dotado pelo BC em 2024. O boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central (BC) com as expectativas de agentes de mercado, projeta a Selic a 9,25% ao final do próximo ano.

Onde investir?

Especialistas continuam vendo boas opções nos títulos pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, e nos indexados à inflação, que pagam uma taxa fixa mais a variação da inflação no período.

São os casos dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs), títulos do Tesouro Selic, IPCA +, além letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do agronegócio (LCAs).

No crédito bancário, o risco de calote dos títulos emitidos pelos bancos privados sempre existe, mas o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) oferece proteção até o limite de R$ 250 mil por CPF por instituição financeira.

Vale destacar também que LCIs e LCAs são isentos de Imposto de Renda.

— A renda fixa ainda segue atrativa com rentabilidade real dos rendimentos. O pós-fixado me parece mais atraente. Em 2023, foi atraente para quem estava investido em prefixado, especialmente para quem pegou aqueles juros mais altos no início do ano, mas não vemos mais grandes diferenças entre o pós-fixado e o prefixado nos próximos anos — ressalta o head de gestão de investimentos da Warren, Igor Cavaca.

Para aqueles que buscam objetivos de curto e médio prazo, os investimentos atrelados à Selic e ao CDI seguem na mesa. Além de bom retorno, esses títulos têm maior liquidez, sendo mais adequados para a formação de reserva de emergência.

Os títulos atrelados à inflação também oferecem maior segurança em um cenário marcado por incertezas quanto ao cenário fiscal interno nos próximos anos. Essa classe pode ser mais indicada para estratégias de médio e longo prazo, já que possuem uma volatilidade maior do que os indexados ao CDI.

O indicado é alinhar a data de vencimento dos papéis aos objetivos pessoais de cada investidor, porque os títulos podem causar perdas se resgatados antes do fim do prazo.

E os prefixados?

No caso dos prefixados, que pagam uma taxa determinada no momento da aplicação, as incertezas são maiores. Isso porque, há o risco de a Selic cair mais lentamente do que o esperado e o investidor acabar preso em um papel que rendeu menos do que a taxa básica de juros.

O especialista de portfólio da Santander Asset, Clayton Calixto, não avalia que a classe deva seguir gerando as melhores oportunidades à frente.

— O prefixado não é a opção mais atrativa para o investidor. Quando observamos os juros prefixados de curto prazo, que vencem até dois anos, eles estão muito próximos dos valores justos, que é o que acreditamos para a trajetória da queda de juros. Isso tira um pouco o brilho desse ganho. Para os investimentos prefixados mais longos, tem um prêmio que tende a ser ganho, mas há o risco da volatilidade.

Crédito privado têm opções

Os analistas ainda observam que há boas oportunidades no mercado de crédito privado. Após um início de ano bastante negativo em meio aos problemas corporativos, esse mercado já apresenta melhora, com aumento do número de ofertas e diminuição dos spreads.

— A reversão do ciclo de juros torna o cenário mais atraente para o crédito privado, porque as empresas acabam tendo mais fôlego para fazer o pagamento dessas dívidas e o investidor tem um retorno maior do que se investisse apenas em títulos soberanos. A expectativa é que começaremos a ver uma redução de risco, com menor pressão sobre o balanço das empresas— disse o head de gestão de investimentos da Warren

Nesses casos, os especialistas recomendam comprar papéis de empresas com histórico consolidado e bom rating.

Renda variável

Com o andamento da queda de juros, é inevitável que o investidor volte os olhos para a renda variável, que sofreu nos últimos anos em meio ao avanço dos juros, com uma onda de saques dos fundos de ações e queda dos ativos.

Após sofrer em outubro com a piora de condições no mercado externo, o Ibovespa subiu 12,54% em novembro, apresentando seu melhor desempenho mensal em três anos.

Os especialistas destacam que não é apenas juros baixos que elevam a Bolsa. Ainda há dúvidas sobre como as medidas de busca de arrecadação do governo podem impactar as empresas e como será a continuidade da dinâmica de atividade macroeconômica.

Calixto, do Santander, ainda não aconselha a entrada do investidor de forma mais forte na renda variável, mas reconhece que a classe tende a gerar mais atratividade à frente.

— Conforme os juros chegaram mais próximo aos 9%, a Bolsa passa a ter uma atratividade maior. O que enxergamos na Bolsa é que o investidor que queira entrar vá para setores mais defensivos, onde as ações tendem a oscilar menos — disse Calixto, destacando papéis como os do setor elétrico.

Quanto vai render?

A queda dos juros tende a diminuir o custo do crédito e o rendimento de algumas aplicações financeiras de renda fixa, principalmente aquelas atreladas à Selic ou ao CDI, que acompanham os juros de perto.

Na poupança, a rentabilidade é limitada a 0,5% ao mês, ou 6,17% ao ano, mais a variação da Taxa Referencial (TR). Com os juros acima de dois dígitos, a TR deixou de ter retorno zero, e deve agregar alguma remuneração à poupança.

Veja mais

Segundo cálculos do C6 Bank, ao aplicar R$ 1 mil em Tesouro Selic ou CDB que oferece 104% do CDI durante um ano, após a incidência de Imposto de Renda de 17,5% para esse intervalo, os resgates seriam de R$ 1.105 e R$ 1.108, respectivamente.

Ao investir o mesmo montante em LCI ou LCA que paga 96% do CDI, isentas de Imposto de Renda, para esse período, a retirada seria de R$ 1.100,03.

A conta considera a expectativa de Selic em 10,52% e a previsão de CDI em 10,42% daqui um ano. Já na poupança no mesmo intervalo, o investidor sacará R$ R$ 1.080,70, considerando a TR esperada nesse período, de 1,90%.

Parte dos títulos de renda fixa estão sujeitos ao pagamento de Imposto de Renda pela tabela regressiva. Para saídas entre 361 dias a 720 dias, a alíquota é de 17,50% sobre a remuneração, o percentual usado no cálculo acima. Após dois anos, a tributação cai para 15%.

Mais recente Próxima Banco Central reduz juros para 11,75% e indica mais cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões