Campos Neto diz que críticas de Lula deixam trabalho do BC 'mais difícil'

Em entrevista ao Valor, presidente do BC diz que atual patamar da Selic vai levar indicador a convergir para a meta no longo prazo e que atual cenário não é de alta nem de queda da taxa


Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto Raphael Ribeiro

RESUMO

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GERADO EM: 28/06/2024 - 09:30

Taxa de juros de 10,5% para controle da inflação

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirma que a taxa de juros de 10,5% é suficientemente alta para controlar a inflação a longo prazo. Ele destaca que o cenário atual não prevê alta ou queda da taxa, buscando uma comunicação clara com os agentes econômicos.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse em entrevista ao Valor, publicada nesta sexta-feira, que as críticas do presidente Lula à condução da política monetária dificultam o trabalho de controle da inflação. Ele disse que as acusações de suposta falta de independência por sua proximidade com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se baseiam em “factoides” e ignoram o fato de os juros terem subido durante as eleições presidenciais.

- Quando você tem uma pessoa da importância do presidente questionando aspectos técnicos da decisão do Banco Central, gera um prêmio de risco na frente. Essa incerteza maior acaba fazendo com que o nosso trabalho fique mais difícil.

Campos Neto também negou que tenha sido convidado para ser ministro da Fazenda, caso Tarcísio seja candidato a presidente.

- Posso ser próximo de uma pessoa e ser independente na tomada de decisão. Foi isso que o Banco Central mostrou ao longo do caminho. Fez a maior alta de juros em um ano de eleição na história do mundo emergente. A gente precisa considerar não os ‘factóides’, e sim o que de fato foi feito. Quando começaram a sair essas notícias, estava no período de silêncio. Não tive a capacidade de me explicar.

E afirmou ainda que não tem qualquer problema com como ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apesar dos ruídos recentes.

- Acho que ele está fazendo um esforço fiscal muito grande - afirma

Campos Neto também disse que a projeção alternativa de inflação apresentada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) com juros em 10,5% ao ano mostra que a Selic é “suficientemente alta” para, num período mais longo, fazer a inflação convergir para a meta.

- Já houve no passado momentos em que a gente desenhou os cenários alternativos para mostrar que a taxa de juros é suficientemente alta, que num período mais longo ela traz a inflação para a meta - disse Campos Neto.

Ele disse que "estava tendo muito ruído em torno dos números de curto prazo" e que o comitê buscou levar uma comunicação mais clara aos agentes econômicos.

De acordo com Campos Neto, o BC não trabalha com um cenário de alta ou de baixa de juros. Por isso, no comunicado após o anúncio da manutenção da Selic, foi usada a palavra interrupção do ciclo de cortes.

- Hoje a comunicação é compatível com um cenário base, que não é de alta e não é de queda. A comunicação está direcionada ao fato de que teve uma interrupção, a gente precisa de tempo para observar - disse.

Campos Neto afirmou ainda que a última reunião do Copom, cuja votação foi unânime, teve um grade espírito de equipe, após a divisão entre os diretores no encontro anterior.

- A decisão do Copom anterior gerou um prêmio de risco grande. Eu diria que essa foi uma das reuniões do Copom onde a gente teve o maior espírito de equipe dos últimos tempos.

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