Depois de duas intervenções do BC, dólar fecha em alta de 0,17%, a R$ 5,63

Moeda, que sofreu duas tentativas de baixar a cotação, encerrou o dia em alta; aumento no juro brasileiro segue no radar do mercado

Por — Rio de Janeiro


Dólar Bloomberg Creative Photos

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 30/08/2024 - 09:04

Dólar cai para R$ 5,57 com leilão do BC e incertezas econômicas

O dólar cai para R$ 5,57 com leilão do BC e vencimento de contratos futuros de Ptax. Anúncio ocorre após indicação de novo presidente. Incertezas econômicas e saída de recursos do Brasil também impactam o mercado. Leilão de US$ 1,5 bilhão é considerado atípico.

O dólar, que sofreu duas intervenções de câmbio pelo Banco Central nesta sexta-feira, não arrefeceu. A moeda encerrou o dia em alta de 0,17%, valendo R$5,63. Para especialistas, a condução da política fiscal segue contribuindo para o patamar elevado e, se não fossem as intervenções, a divisa ultrapassaria a casa dos R$ 5,70 nesta sexta.

Só hoje, foram realizadas duas intervenções no câmbio. A primeira foi concluída às 9h43, segundo o Banco Central: a disponibilidade de US$ 1,5 bilhão foi totalmente adquirida. A operação à vista tem como objetivo reduzir o aumento do valor da moeda quando é percebida, pela autoridade monetária, uma disfunção.

A segunda aconteceu pela tarde. Às 12h47, o BC anunciou a venda de outros US$ 1,5 bilhões de dólares no mercado futuro através de swap cambial: troca-se dívidas à frente em real por pagamento em dólar. O mecanismo é comumente utilizado pelas autoridades monetárias em regimes de flutuação cambial, como é o caso do Brasil.

Dessa venda, só pouco mais da metade dos 30 mil contratos foram vendidos, a US$ 765 milhões.

Para analistas, as intervenções frearam uma alta ainda maior. Isso porque a cotação reagiu a piora das contas públicas, divulgadas também hoje pelo Banco Central. O déficit primário foi de R$ 21,3 bilhões, acima da expectativa de agentes. O Itaú, por exemplo, previa um déficit para o mês de R$ 12,9 bi. Com o resultado, a dívida pública do país subiu para 78,5% do PIB em julho, ante 77,8% de tudo que é produzido.

— A intervenção (cambial) freou uma alta ainda maior. O câmbio deveria estar nesse momento buscando ou ultrapassado os R$ 5,70. O leilão, se não tivesse acontecido, principalmente o de swap (da tarde), já teria encostado nesse valor — afirma Marco Maciel, economista-chefe do Banco Fibra.

Segundo Alexandre Viotto, gerente de câmbio da EQI Investimentos, cada US$ 500 milhões em intervenções freiam um centavo da cotação:

— US$ 3 bilhões de dólares enxugou gelo. Ele jogou no mercado cedo e, com essas contas, seguraram seis centavos. Quando o BC entra fazendo essas intervenções, ele diz: “não vem contra mim, porque eu posso colocar mais”.

Ele explica que o leilão de venda à vista, chamado no jargão de “leilão em linha”, possui efeitos para o dia, e que os leilões de swap produzem um efeito mais duradouro na flutuação da divisa.

— O leilão de linha serve para o dia, (quando o BC) detecta algum movimento de saída de capital do Brasil. Em outros momentos, como em final de ano, quando temos muita remessa de lucro de multinacionais sendo enviadas para o exterior, é mais comum — ele diz, afirmando que o swap atua no controle em um maior prazo.

Para Maciel, além do resultado do setor em julho, a proposta de orçamento de 2025 pelo governo embute perspectivas difíceis de serem cumpridas, como aumento de arrecadação de impostos e revisão de benefícios sociais.

— Esses pontos todos que giram em cima do curto prazo, como o déficit de julho, com despesas obrigatórias crescendo, como questões estruturais de longo prazo do lado fiscal para 2025 embutem endereçamentos insuficientes para equilíbrio das contas este ano e no ano que vem — diz o economista do Fibra.

Para o Itaú BBA, com os dados preliminares indicando uma nova surpresa para cima nos gastos com Previdência em julho e agosto em relação ao esperado pelo governo, “será fundamental um novo bloqueio de despesas no relatório bimestral de setembro para garantir o cumprimento do limite de despesas em 2024", disse em relatório assinado pelo economista Thales Guimarães.

Mudança em índice

O MSCI, índice do banco Morgan Stanley que é referência para fundos internacionais que aplicam em Bolsas do mundo inteiro, passará a aceitar, na sua composição, ações de empresas brasileiras negociadas no exterior.

Com isso, o Nu Holdings (holding do Nubank), as empresas de “maquininhas” StoneCo e PagSeguro, além da XP e do banco Inter, são ações listadas no exterior que vão integrar o MSCI Brasil. Isso acaba pressionando o dólar.

A chegada do fim do mês já traz volatilidade ao preço do câmbio. Isso porque a liquidação de contratos futuros é realizada com base na PTAX, uma cotação calculada pelo BC com base nas taxas de mercado.

Com a proximidade do fim do mês, a tendência é que, com a realização desses contratos de câmbio com base na PTAX, o valor da divisa tende a aumentar. Isso acontece porque agentes embutem no "preço" possíveis cenários de incertezas, tanto locais quanto internacionais, que poderiam prejudicar seus rendimentos.

Dados americanos não pressionaram câmbio

Entre a quinta e a sexta-feira, foram divulgados dados importantes da economia americana, como o PIB do segundo trimestre, os pedidos de auxílio-desemprego e, nesta sexta, os dados de inflação ao consumidor de julho, o chamado PCE.

Esse dado é lido de perto pelos diretores do Fed para balizar a política monetária do país. Ele veio em linha com as expectativas, crescendo 0,2%.

O número reforça a análise de que a economia americana passa por um “pouso suave”, ou seja, uma desaceleração sem que haja recessão.

Com isso, aumentam as apostas num corte mais brando na taxa de juro americana. Segundo a pesquisa FedWatch, do CME, 69,5% dos agentes agora creem numa redução de 0,25 ponto, para a banda entre 5% e 5,25%.

— O resultado é positivo, e consistente com a perspectiva de um corte de 0,25 ponto em setembro. A inflação vem mostrando trajetória de convergência em relação à meta de 2%, e os números parecem de fato consistentes com um pouso suave da economia — diz José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos.

Para Maciel, do Fibra, a situação de desconfiança local com as contas impactou mais o preço da moeda nesta sexta, deixando de lado a leitura de uma queda menor no juro americano do que o anteriormente esperado.

Anúncio de leilão foi divulgado na quinta à noite

O aviso de que o BC faria um leilão de dólares veio um dia após o governo apontar o atual diretor de Política Monetária da instituição, Gabriel Galípolo, como sucessor do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Na quinta-feira, o dólar subiu 1,2% e fechou cotado a R$ 5,62, após chegar a ser negociado a R$ 5,66 na cotação máxima do dia.

Mais recente Próxima O que esperar do dólar hoje? Banco Central fará a 1ª intervenção no câmbio desde 2022