Com maior interesse pela leitura após pandemia, pequenas livrarias investem no atendimento personalizado

Estabelecimentos têm em comum a busca por uma conexão mais próxima do público

Por Vitor da Costa — Rio


Livraria Janela. Leiticia Bosisio (à direita), com a sócia Martha Ribas: os lançamentos de livros são uma forma de reforçar o faturamento Ana Branco/Agência O Globo

O setor de livrarias também viu o surgimento de lojas menores, muitas voltadas para nichos. Esses estabelecimentos têm em comum a busca por uma conexão mais próxima do público, já que não podem competir com os preços cobrados por gigantes como a Amazon.

— Elas têm uma personalidade muito clara, definida e muitas vezes têm oferta segmentada. Não é somente o atendimento personalizado, mas a proposta diferenciada —ressalta o editor e diretor institucional da ANL, Bernardo Gurbanov.

A Livraria Janela, por exemplo, foi aberta no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, na semana em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia. As sócias, Leticia Bosisio e Martha Ribas, sentiram-se “atropeladas”.

— Nem estávamos preparados para vendas on-line, porque a proposta é ser uma livraria de bairro. Tentamos fazer algumas coisas pelas redes, como lives e vendas pelo WhatsApp. A questão não era tanto econômica, mas para não deixar a marca ser esquecida — conta Letícia.

A loja só abriu de fato em 13 de julho de 2020. O espaço tem café, bar e sala de leitura, e aposta em lançamentos.

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— Uma livraria não pode viver só de vender livros. Os lançamentos fazem uma diferença fundamental para a receita da livraria — diz Letícia.

Até março, as sócias devem abrir outra unidade, no Shopping da Gávea.

A Livraria Megafauna, em São Paulo, viveu história semelhante: com previsão de ser inaugurada em abril de 2020, só abriu as portas em novembro de 2021. Criada por um grupo de profissionais ligadas ao meio editorial e literário, a Megafauna foi pensada não só como um espaço de venda de livros, mas também de encontros e debates.

— Os eventos e encontros em torno do livro trazem um retorno muito grande em vendas — explica a sócia-diretora Irene de Hollanda.

Ela conta que no ano passado a média de faturamento mensal cresceu quase 20%, com a possibilidade de realizar mais eventos literários após a flexibilização das restrições contra a Covid-19.

— O surgimento das pequenas livrarias, com uma atualização mais especializada, mais voltada à curadoria, vem no contraponto às redes de comércio on-line. Essas redes dificultam bastante a sustentabilidade de uma livraria. É difícil concorrer com um link que está logo acima ou logo abaixo do seu e vende o mesmo produto por 30% menos — diz Irene.

Uma questão de preço

A concorrência de gigantes que oferecem preços agressivos é queixa comum no setor. Tramita no Congresso a Lei Cortez, de autoria da então senadora Fátima Bezerra (PT-RN). Inspirada em uma legislação francesa, a lei prevê que, no primeiro ano de vida, o livro tenha desconto máximo de 10% sobre o preço de capa determinado pela editora. O projeto está parado no Senado.

Para Gurbanov, a medida beneficia tanto o setor como os consumidores:

— A lei não engessa o mercado, mas coloca certos parâmetros iniciais para que a comercialização do livro não seja destrutiva do ponto de vista da competitividade. Não se trata de eliminar concorrentes. Esse mecanismo pode contribuir para a variedade de livros que não têm a obrigação de se tornarem best sellers.

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