Marisa faz parceria com a Credsystem para crédito e mira expansão de concessões

Com a operação, a varejista espera capturar valor líquido de cerca de R$ 400 milhões e diminuir risco operacional do braço financeiro. Ao GLOBO, CEO diz que acordo faz parte do plano de reestruturação

Por — São Paulo


Lojas Marisa firma parceria para ampliar serviços de crédito Divulgação

A Lojas Marisa anunciou nesta segunda-feira uma parceria com a Credsystem para operação de seu braço de oferta de crédito, nas modalidades de empréstimo pessoal e cartões. Segundo a empresa, os termos definitivos do acordo devem ser finalizados nos próximos 30 dias. A empresa diz que a reestruturação do braço financeiro vai viabilizar uma "redução significativa" do risco operacional e regulatório do negócio.

Com risco diluído, o objetivo é expandir as operações de concessão de crédito da varejista, segundo o CEO da Marisa, João Pinheiro Nogueira Batista. Hoje, a empresa opera com uma carteira de R$ 400 milhões. Ao GLOBO, o executivo diz que o acordo faz parte do plano de reestruturação da companhia, que inclui "consertar várias coisas, inclusive a má operação do banco", deficitário desde 2021.

— Entre as grandes medidas de reestruturação, essa era a que estava faltando. Nossa expectativa é que a operação melhore e que aumente a concessão de crédito para o cliente. Estamos colocando uma empresa que entende do negócio e que faz isso há 27 anos, com foco em varejo— diz Batista, que considera a operação atual de empréstimos da empresa "limitada".

Em fato relevante, a varejista informou que a parceria tem prazo de 15 anos e inclui mecanismo de divisão de lucros de 50% para cada parte. Com o serviço, a empresa espera receita superior a R$ 7 bilhões no período e lucros antes de impostos na ordem de R$ 1 bilhão. Para chegar ao montante, o CEO diz que a empresa vai precisar "aumentar muito" as operações financeiras.

— Dar crédito para o nosso cliente é importante. Ele precisa de financiamento para que possa comprar a prazo ou ter empréstimo direto. Mas nós não somos um banco, não sabemos dar crédito. Essa é uma operação sofisticada que precisa de mecanismos sólidos que não tínhamos. Por isso estamos entregando isso para um parceiro que sabe fazer.

A gestão da base de clientes será feita em conjunto com a Credsystem, especializada em soluções de cartões de crédito e serviços financeiros. Com o acordo, a Marisa espera capturar valor líquido de cerca de R$ 400 milhões, o que inclui pagamentos a serem feitos pela Credsystem nos próximos doze meses.

Ações tiveram queda de 8,7%

O acordo faz parte do plano de reestruturação da companhia, que incluiu o fechamento de 88 lojas. O plano ainda envolve a distribuição, por terceiros, de produtos e serviços de crédito, seguros, consórcios e planos de saúde, entre outros.

O mercado reagiu com desconfiança ao anúncio. Os papéis da empresa abriram o dia em queda e encerraram as negociações com baixa de 8,7%, negociados a R$ 0,63. Com o movimento de hoje, as ações da empresa passam a acumular queda de 49% no acumulado do ano.

Pedro Accorsi, analista da Ticker Research, lembra que a vertical de crédito da companhia tem tido resultados negativos desde 2021, com o cenário de pandemia, juros altos e aumento da inadimplência. Ele diz que "não há garantia" de que a empresa conseguirá alcançar o VPL (Valor Presente Líquido) de R$ 400 milhões, como aponta o fato relevante.

— O mais preocupante é o endividamento da empresa — diz Accorsi, em referência à dívida líquida de R$ 380,1 milhões da empresa, apresentada no balanço do segundo trimestre. — Os resultados vêm mostrando que o plano de reestruturação ainda é insuficiente. Além disso, o varejo está em uma situação muito incerta e há dúvidas sobre os efeitos que esse acordo vai gerar.

Em agosto deste ano, a Marisa realizou uma operação de R$ 30 milhões para capitalização da MPagamentos, braço financeiro da varejista. O valor foi complementar aos R$90 milhões aportados em abril, com recursos captados junto aos seus acionistas controladores.

Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, afirma que os investidores ainda esperam uma melhora na entrega de resultados pela companhia. Ela diz que não vê uma recuperação significativa nos preços do papel da empresa no curto prazo.

— Foi uma reformulação importante (na área de crédito), mas diante do que a companhia vem entregando até agora, ainda não trouxe uma perspectiva de muita melhora. Por isso o papel continuou em ritmo de queda. Eu ainda não vejo sinais de melhor (no desempenho do papel).

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