J&F planeja investimento de R$ 38,5 bi no Brasil para os próximos quatro anos

Anúncio foi feito por Wesley Batista em evento em Paris. Na conta, porém, estão aportes bilionários na empresa de celulose Eldorado, cujo controle o grupo disputa com a Paper Excellence

Por — O Globo


Wesley Batista anuncia investimento de R$ 38,5 bilhões do Grupo J&F nos próximos quatro anos Reprodução/YouTube

O empresário Wesley Batista, acionista do Grupo J&F, anunciou nesta sexta-feira que o conglomerado vai investir R$ 38,5 bilhões no Brasil nos próximos quatros anos. Na conta dos aportes, porém, está um projeto bilionário da Eldorado, empresa de celulose cujo controle a J&F disputa com a indonésia Paper Exellence.

A Eldorado foi vendida pelo grupo J&F à Paper Excellence em 2017, como forma de levantar recursos numa época em que o conglomerado da família Batista atravessava uma crise, desencadeada pelas revelações da Lava-Jato e o envolvimento de líderes da empresa na investigação de corrupção. Após a venda, o J&F iniciou uma série de disputas, por meio de arbitragem (mecanismo privado de solução de conflitos) na Justiça para anular a transação.

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Dos R$ 38,5 bilhões anunciados hoje por Wesley em um evento em Paris, R$ 20 bilhões são relativos à implantação da segunda linha de produção da Eldorado, em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. O projeto também prevê a construção de um ramal ferroviário de 85 quilômetros para conectar a fábrica à malha ferroviária. No entanto, a J&F atualmente não controla a companhia de celulose.

O caso se arrasta há seis anos. Em 2021, a J&F perdeu a arbitragem em que pedia a retomada do controle da Eldorado e recorreu à Justiça de São Paulo para pedir a anulação da decisão que manteve a Paper Excellence no comando da empresa. Está em curso na segunda instância do Tribunal de Justiça de São Paulo o julgamento de um recurso apresentado pela J&F. Até agora, dois dos cinco desembargadores da turma responsável pelo caso já votaram em favor da manutenção da decisão da arbitragem em favor da Paper Excellence, como informou o Valor há duas semanas.

Montante expressivo

O montante do plano anunciado hoje, segundo Wesley, representa mais de 85% do investimento da J&F no mundo e contempla aportes em todos os setores em que atua: produção de alimentos, celulose, mineração, geração de energia, higiene e cosméticos, e serviços e tecnologia financeiros. No entanto, ele não detalhou os projetos.

Maior empresa do grupo, a JBS terá R$ 3,5 bilhões em investimentos até 2024. Eles contemplam projetos já anunciados pelo conglomerado, como duas fábricas da Seara - uma em Rolândia, no Paraná, prevista para ser inaugurada este mês, e outra em Dourados, no Mato Grosso do Sul, que deve ser um dos maiores complexos de preparados suínos do mundo.

Os investimentos da JBS incluem ainda a construção de uma nova fábrica de ração em Seberi, no Rio Grande do Sul, e a duplicação da unidade da Friboi em Diamantino, no Mato Grosso. Estão previstos também o início da construção do Centro de Pesquisas em proteína cultivada, chamado de JBS Biotech Innovation Center.

Em participação no Fórum Esfera Paris, ao lado do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, Batista citou o andamento das reformas e da agenda fiscal no Brasil. E disse que o país representa "uma das melhores oportunidades ao redor do mundo para se investir".

— Estamos otimistas com o país e com a relação do Brasil com o mundo. O Brasil é de novo a bola da vez — afirmou o empresário, que destacou a tentativa brasileira de se tornar protagonista na agenda ambiental. — O Brasil tem uma população gigantesca, um consumo interno expressivo, uma democracia consolidada e consciência de sua responsabilidade fiscal.

Além da JBS e da disputa pela Eldorado, o grupo Grupo J&F é controlador do Banco Original, do PicPay, da Ambar Energia, da J&F Mineração e do Canal Rural.

Ministro anuncia investimento de meio trilhão da Total

No mesmo evento, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a petroleira francesa Total Energies vai investir o equivalente a R$ 500 milhões no Brasil nos próximos quatro anos, entre projetos na área de petróleo e gás e fontes renováveis de energia.

,O empresário Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração da Península Participações e fundador do Grupo Pão de Açúcar, também participou de um painel ao lado de autoridades e empresários. Ele voltou a cobrar mais "ambição" do Brasil e disse que o país "se atrasou na história".

— Nós estamos vivendo um momento glorioso do Brasil. O trabalho que o presidente Lula e os ministros estão fazendo está certinho. Está tudo bem para a gente crescer 3%. Mas será que é isso que nós precisamos? — questionou o empresário. — O Brasil sempre teve um potencial extraordinário e sempre foi o país do futuro. Está na hora desse futuro chegar.

Ao lado de Miriam Belchior, secretária-executiva da Casa Civil, Abílio acrescentou que o país corre o risco de perder oportunidades e lembrou do último ano do segundo mandato do presidente Lula, em 2010, quando o PIB cresceu 7,5% para cobrar mais ambição.

Sarkozy lamenta 'ausência' da América Latina

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy analisou a tentativa do Brasil de ampliar sua influência na geopolítica global. Ele defendeu que o país ganhe protagonismo e disse que a "cena política mundial precisa do Brasil". Sarkozy também disse apoiar uma cadeira brasileira no Conselho de Segurança da ONU.

— A América Latina, até agora, está ausente dos grandes debates políticos mundiais. É uma injustiça e é perigoso— afirmou o ex-presidente. — Temos que falar do papel político que o Brasil tem a desempenhar no cenário global e como a França e, por trás dela, a Europa, vai ajudar a criar um sistema multilateral equilibrado e justo, onde cada um tem a sua voz escutada.

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