Líder mundial de laticínios, o grupo francês Lactalis aposta alto no Brasil e quer aumentar sua participação no mercado brasileiro, dos atuais 13%, para 20% em quatro anos.
Por isso, segundo Patrick Sauvageot, diretor-geral da Lactalis no Brasil, a empresa vai apostar em produtos de maior valor agregado, ainda muito escassos no carrinho de compras dos brasileiros.
— Nosso objetivo é alcançar os 20% até 2028 e melhorar nossa rentabilidade — resume Sauvageot.
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Desde que comprou a brasileira Itambé, em 2019, o grupo avançou em sua linhas de produtos e multiplicou seus ganhos. E se tornou líder do segmento também no Brasil — ainda que esta fatia de 13% no mercado nacional de laticínios possa parecer tímida, este é um setor muito fragmentado.
A Lactalis Brasil registrou um volume de negócios de € 2,5 bilhões em 2023 (cerca de R$ 13 bilhões, na cotação da época) e tem 22 fábricas e 12 mil empregados.
A marca francesa, que chegou ao Brasil em 2013, incorporou com a Itambé um portfólio mais amplo de produtos, como leite em pó, leite condensado e doce de leite:
— São categorias nas quais a Itambé era forte, mas a Lactalis estava ausente — explica o diretor-geral da Itambé, Paul Grasset.
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Em Pará de Minas, perto da capital mineira, Belo Horizonte, trabalhadores operam máquinas de envase que funcionam a pleno vapor em uma das cinco fábricas da Itambé. Iogurtes, 'petits suisses', caixas de leite fermentado, requeijão: 150 produtos saem atualmente da fábrica, que coleta 30 milhões de leite por mês.
Os €100 milhões (cerca de R$ 560 milhões, na cotação atual) injetados pelo grupo para aumentar a capacidade de produção da Itambé e desenvolver novos produtos, como bebidas proteicas e queijo embalado a vácuo, fizeram disparar os números de negócios da marca brasileira, que dobraram desde a aquisição, chegando o € 900 milhões em 2023 (R$ 4,8 bilhões, na cotação da época).
E a matriz francesa vê com otimismo o cenário para seus negócios no Brasil:
— Ainda temos um potencial muito importante de desenvolvimento — avalia Thierry Clément, diretor-geral de operações do Lactalis.
A compra, assinada em dezembro passado, da Dairy Partners America Brasil (DPA), sociedade do grupo alimentício suíço Nestlé e da cooperativa neozelandesa Fonterra, e principal produtora de iogurtes no Brasil, se inseriu nesta lógica.
Se o Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, representa um mercado com forte potencial para o Lactalis, o grupo francês enfrenta grandes desafios no país.
Entre eles, a fragmentação do setor, o nível técnico insuficiente dos produtores de gado leiteiro, os custos de produção elevados e a baixa qualidade do leite, que impactam os preços dos produtos lácteos.
Quarto produtor mundial de leite após ter perdido, atrás de Estados Unidos, Índia e China, o Brasil, por outro lado, importou 9% do leite consumido no país no ano passado, contra 3% a 5% em tempos normais.
— Isto se explica pelos preços bem mais baixos no Uruguai e na Argentina, os principais exportadores para o Brasil, onde a atividade leiteira é mais concentrada e mais produtiva — explica Glauco Carvalho, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Produtividade bem menor do que na Argentina
Na vizinha Argentina, a produtividade por fazenda é de 3 mil litros diários de leite, contra 100 litros no Brasil.
O grupo Lactalis diz investir junto a seus fornecedores para aumentar sua produção. Para Sauvageot, "o Lactalis tem total interesse em que o Brasil seja o mais competitivo possível". No entanto, o grupo não prevê exportar os produtos brasileiros para a Europa.