FMI melhora projeção para PIB do Brasil em 2022 e piora para 2023

Fundo eleva a 2,8% estimativa para este ano. Com corte para 1% no ano que vem, crescimento ficará abaixo do previsto para países emergentes e para o mundo. 'O pior ainda está por vir', diz o relatório

Por O Globo — Rio


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O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nesta terça-feira suas projeções para a economia global e manteve a projeção de crescimento mundial em 3,2% neste ano, contra os 6% registrados em 2021. Para o Brasil, o FMI melhorou a projeção para 2022 e prevê agora uma expansão de 2,8% . Mas, em 2023, nas estimativas do Fundo, o Brasil vai crescer apenas 1%, bem abaixo da média dos países emergentes (3,7%) e da média global (2,7%).

Além disso, o país vai puxar para baixo o desempenho da América Latina que, pela previsão do Fundo, crescerá 1,7% em 2023.

As previsões do FMI reforçam a visão de analistas do mercado de que as medidas de estímulo dadas pelo governo brasileiro para acelerar o crescimento neste ano terão fôlego curto, piorando as contas públicas do país e levando à necessidade de um ajuste no ano que vem.

O Fundo também reduziu sua previsão para o PIB global em 2023, de 2,9% para 2,7%. A inflação mais alta do que a observada em várias décadas; a invasão da Ucrânia pela Rússia e a ainda persistente pandemia de Covid-19 continuam sendo, segundo o relatório do Fundo, os maiores desafios para a economia global.

"Em resumo, o pior ainda está por vir. E, para muitas pessoas, 2023 será percebido como uma recessão", avaliou Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI, em relatório.

"Esperamos que cerca de um terço da economia global terá recessão técnica", acrescentou. A recessão técnica consiste em dois trimestres seguidos de retração.

Entre os 192 países para os quais o FMI traçou projeções para o PIB em 2023, o Brasil terá o 170º desempenho no ranking do crescimento. Vai crescer acima do que Chile (-0,9%) e do que muitos países europeus, para os quais o Fundo prevê recessão, como Alemanha (-0,3%) e Itália (-0,2%).

Porém, o país terá desempenho de metade do projetado para a Argentina (2%) e para a Colômbia (2,1%).

Saída da pandemia foi pior no Brasil

Pelos dados do Fundo, o histórico recente do PIB brasileiro mostra que o país saiu pior do que a média global após o período mais crítico da pandemia, em 2020, quando todas as economias do mundo registraram retração. Naquele ano, na média, o PIB global declinou 2,9% - aqui, a queda foi maior, de 3,9%. Na média dos emergentes, o tombo foi de 1,9%.

Ao crescer abaixo do PIB global em 2023, os três anos seguintes ao auge da pandemia serão de expansão no Brasil inferior à média mundial - e também menor do que a média dos emergentes.

Em 2021, o Brasil teve expansão de 4,6%, os países emergentes de 6,6% e o mundo, de 6%. Neste ano, pelas projeções do FMI, o PIB brasileiro vai crescer 2,8%, contra 3,7% da média dos emergentes e 3,2% da média global.

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Guedes critica FMI

O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou as projeções do FMI para o Brasil. O ministro comemorou a melhora na projeção para a economia brasileira em 20222, mas reclamou das estimativas do Fundo para 2023.

- Possivelmente estão prevendo um crescimento baixo porque estão achando que o outro candidato vai ganhar e isso vai ser muito ruim para o crescimento. Mas conosco vai seguir crescendo - afirmou o ministro, que está em Washington, onde participa, até a sexta-feira, das Reuniões Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos Conselhos de Governadores do Grupo Banco Mundial (GBM).

Para Guedes, as últimas previsões do FMI, errando os dados de crescimento econômico tem um motivo técnico. Mas o ministro também citou a "militância" de analistas, para depois esclarecer que se referia a previsões feitas pelo mercado brasileiro.

No caso da suposta razão técnica para um erro no FMI, o ministro alegou que o o Brasil fez “uma mudança estrutura forte na economia”, e que o Fundo estaria traçando as suas projeções baseado no investimento público passado.

- Quando se faz uma mudança estrutural forte na economia, que é o nosso caso, os modelos antigos perdem a aderência. Eles (o FMI) estavam prevendo crescimento baixo baseado em investimento público que está caindo há 20 anos. Então cada vez mais o país cresce menos, o que era uma verdade, um fato. Mas mudamos o modelo econômico e agora é baseado em investimentos privados. Temos R$ 900 bilhões de investimentos privados já contratados - justificou.

A outra explicação, segundo Guedes, é militância.

- É narrativa política em vez de respeito aos fatos. Os fatos estão mostrando que o Brasil está tendo um desempenho muito importante. O Brasil está crescendo mais do que todos os países do G7 e tem a inflação mais baixa - destacou.

Quando perguntado se a militância seria do FMI, Guedes explicou que se referia a analistas do Brasil.

Apesar de afirmar que o Brasil está crescendo acima de todos os países do G7, os números do FMI para este ano apontam expansão superior à prevista para a economia brasileira em três dos sete países do G7: 3,6% para o Reino Unido, 3,3% para o Canadá e 3,2% para a Itália em 2022. Para o Brasil, a estimativa é de 2,8%.

Inflação e desemprego

No quesito custo de vida, o Brasil tem um resultado melhor do que seus vizinhos na América do Sul e também dos muitos países europeus. A previsão do Fundo é de inflação de 9,4% no Brasil este ano e de 4,7% em 2023. Na América do Sul, será bem maior - 17,4% e 14,3%, respectivamente. Na média da Europa, também será mais alta - 15,3% e 10,9%.

Mas o desemprego aqui será, em 2022 e 2023, o segundo maior da América do Sul, de 9,8% e 9,5%, respectivamente, abaixo apenas dos dados da Colômbia (11,3% e 11,1%). Nos Estados Unidos, será de 3,7% e 4,6%. Na zona do euro, de 6,1% e 6,4%.

Previsão para outros países

O relatório prevê que o crescimento dos EUA deve ficar em 1,6% em 2022, contra 2,3% na projeção anterior, em julho, uma revisão para baixo de 0,7 ponto percentual. Para 2023, a estimativa se manteve em 1%. A queda da renda continua a afetar a demanda do consumidor, e as taxas de juros mais altas estão cobrando um preço importante dos gastos.

Na avaliação de Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, os EUA provavelmente estarão "em algum tipo de recessão em seis a nove meses“ .

Na zona do euro, a desaceleração do crescimento é menos pronunciada do que nos Estados Unidos em 2022, mas espera-se que se aprofunde em 2023. O avanço projetado é de 3,1% neste ano, contra 2,6% no relatório anterior. Para 2023, a previsão é de avanço de 0,5%, contra 1,2% em julho.

A projeção para a Rússia é de contração de 3,4% em 2022, contra queda de 6% em julho. Para 2023, a estimativa é de recuo de 2,3%, contra estimativa anterior de retração de 3,5%, como resultado da guerra e sanções internacionais destinadas a pressionar o país a encerrar hostilidades contra a Ucrânia, que deve recuar 35% neste ano.

Nos países asiáticos em desenvolvimento a projeção é de crescimento de 4,4% em 2022, 0,2 ponto percentual a menos do que em julho, enquanto para 2023 a projeção é de crescimento de 4,9%, um recuo de 0,1 ponto percentual na comparação com o último relatório.

As revisões para a região refletem um rebaixamento no crescimento na China para 3,2% em 2022, no que seria o menor crescimento em mais de 40 anos, exceto pelo início da crise causada pela Covid em 2020. Surtos da doença e bloqueios em várias áreas do país, assim como o agravamento da crise no mercado imobiliário, travaram a atividade econômica. Mesmo assim, a estimativa para 2023 é de 4,4%.

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A perspectiva para a Índia é de crescimento de 6,8% em 2022, 0,6 ponto percentual menor do que a previsão anterior, refletindo um desempenho mais fraco do que o esperado no segundo trimestre e uma demanda externa mais moderada. No próximo ano, espera-se um crescimento de 6,1%, sem alteração.

Preocupação com inflação

O Fundo continua demonstrando preocupação com a inflação global. A estimativa é de alta de 8,8% em 2022, o que seria a maior desde 1996. Em julho, a estimativa era de 8,3%. Para 2023, a projeção é de 6,5%, contra 7,3% da previsão anterior.

Apesar da ligeira queda do índice de preços ao consumidor em julho e agosto, a inflação nos EUA atingiu um de seus maiores patamares em cerca de 40 anos, com preços em agosto 8,3% superiores aos do ano anterior.

A zona do euro viu a inflação atingir 10%, enquanto o Reino Unido registrou inflação anual de 9,9%. Estima-se que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento tenham visto uma inflação de 10,1% no segundo trimestre de 2022 e enfrentam um pico de inflação de 11% no terceiro trimestre: a taxa mais alta desde 1999.

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