Campos Neto rebate governo, diz que trabalho do BC é técnico e descontrole da inflação seria pior no longo prazo

O governo vem pressionando o Banco Central a reduzir a taxa de juros desde o início do ano, mas Selic segue em 13,75% ao ano

Por Fernanda Trisotto — Brasília


Presidente Roberto Campos Neto, em coletiva de imprensa Raphael Ribeiro/BCB

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu o trabalho técnico da autoridade na condução da política monetária. Para reduzir a inflação, a taxa de juros do país está em patamar elevado – 13,75% ao ano – e é alvo de reiteradas críticas do governo, que pressiona por uma queda.

― Nosso processo não tem componente político, é puramente técnico. Eu diria aos brasileiros que o custo de combater a inflação é realmente muito alto e parte deste custo é sentido no curto prazo. Mas o custo de não combater é muito mais alto, e é sentido no longo prazo de uma forma mais severa ― disse durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira.

O BC vem tentando explicar mais didaticamente as decisões para manutenção da taxa Selic nas atas do Copom. Nas duas divulgações deste 2023, o governo reclamou do tom do comunicado, que considerou mais duro, mas gostou das sinalizações que vieram nas atas, reconhecendo os esforços do Ministério da Fazenda.

― A autonomia é importante, para o Banco Central poder tomar essa decisão de coisas que tenham um custo alto no curto prazo, para não ter de incorrer em um custo muito maior de longo prazo, que seria muito mais danoso para a sociedade ― reforçou.

Além de criticar a taxa de juros, o governo também já sinalizou querer alterar a meta de inflação. Campos Neto ponderou que esse fator, juntamente de uma suposta leniência do BC e dos riscos de uma política fiscal mais expansionistas, se refletem na expectativa de inflação. No relatório divulgado nesta quinta-feira, o BC reconheceu que há 83% de probabilidade de a meta estourar mais uma vez:

― Se fosse atingir a meta (de inflação) em 2023, a última informação que tive é de que a taxa (de juros) teria de ser de 26,5%. É óbvio que a gente entende que isso seria impossível.

O BC já vem, há algum tempo, indicando que está trabalhando pelo controle da inflação em um horizonte relevante, que não é o mesmo período de 12 meses no ano-calendário definido para o atingimento da meta. Ele se esquivou de responder se o BC apoiaria uma mudança do prazo da meta, dizendo que todas essas decisões são do governo, que possui dois votos no Conselho Monetário Nacional (CMN).

Questionado sobre ter uma boa relação com o governo, Campos Neto destacou que mantém bom diálogo com o Ministério da Fazenda.

O governo vem pressionando o Banco Central a reduzir a taxa de juros desde o início do ano, mas a autoridade monetária vem mantendo a Selic no patamar de 13,75% ao ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados vêm tecendo repetidas críticas ao efeito dos juros sobre a atividade econômica. Em relação à meta de inflação, o próprio ministro Fernando Haddad (Fazenda) já indicou que poderia pautar o tema.

Havia muita expectativa no anúncio do novo arcabouço fiscal como um fator que poderia acelerar essa queda dos juros. Mas, na ata da última reunião do Copom, o BC explicitou que não há relação direta entre a apresentação da nova âncora fiscal e eventual queda da inflação e efeito na taxa de juros. O documento reiterou que só um arcabouço “sólido” e “crível” levará ao processo de redução do nível de preços, quando houver alinhamento das expectativas.

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