O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou a investidores em Londres nesta quarta-feira e fez novos elogios ao arcabouço fiscal, entregue ontem pelo presidente Lula ao Congresso. Ele explicou que ainda não havia lido o texto "nos detalhes", mas que tudo parecia ter vindo conforme o esperado.
Sobre a condução da política monetária, contudo, ele voltou a dizer que a luta contra a inflação não foi vencida e que o BC vai continuar sendo "persistente". Além disso, alegou que a discussão levantada por integrantes do governo Lula sobre eventuais mudanças na meta de inflação é um dos motivos para a piora nas expectativas para os próximos anos.
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As previsões de inflação são os principais parâmetros usados pelo BC para decidir sobre os juros básicos da economia. A Taxa Selic está estacionada desde o ano passado em 13,75% ao ano, o que desagrada ao presidente Lula e seu governo por limitar o crescimento econômico em nome do combate à inflação.
O presidente do Banco Central brasileiro afirmou que a inflação esperada para os anos de 2024, 2025 e 2026 teve aumento de quase 1 ponto de dezembro até o momento. Explicam esse cenário os “ruídos” criados na mudança de governo:
— Acho que parte da explicação tem a ver com a questão fiscal (a PEC da Transição e expectativa de maiores gastos acima da receita) e parte tem a ver com o governo falando em mudar a meta de inflação, dado que o governo escolhe a meta e o Banco Central tem que executar. Acho que isso também criou alguma incerteza — disse Campos Neto, que participou de reunião com investidores, organizada pelo European Economics & Financial Centre (EEFC), em Londres.
O presidente do BC também indicou que a trajetória de queda da inflação, na taxa geral, não justificaria a redução dos juros. O Banco Central está com a lupa no chamado núcleo de inflação, que verifica a tendência dos preços desconsiderando choques temporários.
— Quando olhamos para a inflação no Brasil, hoje, nós vemos o número cheio (a taxa total) sendo reduzido. O núcleo da inflação, contudo, ainda é muito resiliente. Está sendo reduzido, mas em um caminho mais lento. O que provavelmente significa que o trabalho não está finalizado e que precisamos ser persistentes — diz.
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A taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% desde agosto de 2022 e nos últimos meses está sendo objeto de fortes críticas no governo Lula, mas o presidente do BC tem evitado polarizar com o governo. As projeções sobre o aumento geral de preços - estimadas pelo Banco Central - apontam para uma taxa de 5,8% para 2023, 3,6% para 2024, e 3,2% para 2025.
— São números bons, embora ainda estejam longe dos nossos alvos — disse Campos Neto. A meta de inflação para este ano é de 3,25%, com teto de 4,75%. Para os próximos dois anos a meta é de 3%, com teto de 4,5%.
Elogios ao arcabouço
O presidente do Banco Central também voltou a fazer uma avaliação positiva sobre o arcabouço fiscal - entregue ao Congresso na última terça-feira. Anteriormente, em evento do Bradesco BBI, Campos Neto havia avaliado a proposta como governo como "superpositiva".
— Acabamos de ter o novo marco fiscal, o texto saiu ontem. Não tive tempo de olhar cada detalhe de tudo. Parece mais ou menos de acordo com o que eu tinha visto antes. Acho que foi uma boa indicação de que estamos avançando na direção certa. Acho que remove o ‘risco de cauda’ de algumas das projeções que eu tinha visto — disse no evento em Londres.