Uma recente melhora no ambiente macroeconômico pode ajudar a abrir espaço para a queda dos juros antes do que o mercado vinha projetando. Ganha força a expectativa de que a Selic — a taxa básica de juros que hoje está em 13,75% ao ano — tenha a primeira redução em agosto, em vez de apenas no quarto trimestre, como previsto anteriormente.
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As duas principais razões para o otimismo são o resultado da inflação de março, de 0,71%, abaixo do esperado pelos analistas, e o câmbio mais favorável, o que deve ajudar a conter os preços e o índice inflacionário. Ontem, o dólar fechou a R$ 4,92, menor patamar desde junho do ano passado.
Outra surpresa positiva que pode abrir caminho para um afrouxamento da política monetária é a melhora da percepção dos agentes econômicos em relação à nova regra fiscal proposta pelo governo, que, com os últimos ajustes, vem se mostrando mais restritiva do ponto de vista do gasto público.
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Safra recorde
Além disso, uma pressão menor sobre os preços dos alimentos, diante da perspectiva de safra recorde neste ano, como divulgou ontem o IBGE, ajuda a corroborar a visão de que a inflação deve continuar desacelerando nos próximos meses.
Para Silvio Campos Neto, economista-sênior da consultoria Tendências, a melhora da inflação e a valorização do real reforçam a expectativa de que a taxa possa cair no início do segundo semestre. Segundo o economista, a queda do dólar dá mais segurança ao Banco Central (BC) para reduzir suas projeções, embora ainda seja necessária uma confirmação desse movimento.
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O economista acredita, contudo, que a tramitação e a aprovação das novas regras fiscais — de preferência, sem mudanças que criem exceções para gastos ou que prejudiquem o próprio efeito do arcabouço — são os principais fatores que pesam na decisão do BC:
— A versão apresentada foi bem recebida porque tem controle de despesas, mas há dúvidas sobre a tramitação no Congresso. Dá até para dizer que junho está no jogo (para redução dos juros), mas ainda não é tão claro que esse movimento possa acontecer no primeiro semestre.
No mês passado, a Tendências já havia revisto o cenário para os juros, prevendo que o início do corte seria em agosto, em vez de em novembro, e que a Selic encerraria o ano em 12,5%, ante estimativa anterior de 13%.
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Diante de um alívio na percepção de risco fiscal, o banco Inter revisou a estimativa de câmbio de R$ 5,20 para R$ 5 ao final de 2023. Segundo Rafaela Vitória, economista-chefe da instituição, o BC deverá começar a reduzir os juros no mês de agosto, quando a autoridade passa a olhar para os efeitos na economia nos anos de 2024 e 2025.
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Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, também projeta corte da taxa Selic em agosto. Ele lembra que o arcabouço fiscal foi bem recebido pelo mercado e cita que o dólar em queda ajuda a reduzir a inflação. Mas faz a ressalva de que esse movimento leva tempo até se materializar na economia, e isso influencia no timing de queda dos juros:
— É preciso ver como isso se materializa em inflação mais baixa. O BC tem que aguardar para avaliar os efeitos concretos, tanto do arcabouço fiscal quanto da apreciação do real sobre a dinâmica da inflação.
Incertezas no horizonte
Andrea Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, também trabalha com o cenário de queda da Selic em agosto diante da desaceleração gradual da inflação de serviços. Ela diz que, se as notícias positivas sobre a safra se confirmarem, a alta na alimentação no domicílio será menor neste ano, e a sua projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023 cai de 6% para 5,8%.
— A temperatura é de uma inflação mais baixa — afirma a economista.
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Apesar da melhora no cenário macroeconômico, analistas citam diferentes incertezas que permanecem no horizonte e que precisarão ser monitoradas, já que podem impactar na política monetária.
— Tem o debate sobre a meta de inflação que é legítimo, mas é complicado pela forma como tem sido conduzido, e a transição dos diretores do Banco Central, cujos nomes indicados devem ser conhecidos em breve. Fica a dúvida se será um nome que vai contrapor as ideias do presidente do BC — diz Silvio Campos Neto, da Tendências.
Padovani, do BV, destaca quatro desafios no processo de queda do IPCA: a turbulência global, que afeta o câmbio; a reoneração dos combustíveis; a dinâmica do mercado de trabalho mais aquecido, que dificulta o ritmo de queda do índice; e a comunicação do governo com relação à meta de inflação.
Mais cauteloso, ele mantém a expectativa de dólar a R$ 5,30 no fim do ano, diante da perspectiva de economia mundial com dados mais negativos ao longo dos próximos meses, o que amplia a tensão dos mercados.