Consumidor deve esperar novas regras de desconto para veículos zero antes de fechar negócio, alertam especialistas

Publicação deve acontecer em 15 dias. Expectativa é que Banco do Brasil e Caixa reforcem pacote de estímulo ao setor com linhas de crédito mais favoráveis

Por João Sorima Neto — São Paulo


Fábrica da Peugeot, da Stellantis, em Porto Real, no Rio de Janeiro, suspendeu a produção nesta terça-feira em razão dos bloqueios feitos por caminhoneiros. Montadoras já registram prejuízo, diz Anfavea Hudson Pontes

Os consumidores que têm a intenção de comprar carro zero com preços de até R$ 120 mil devem aguardar a publicação das regras do governo federal com a concessão de descontos entre 1,5% e 10,96%, por meio da isenção de impostos federais como IPI, PIS/Cofins. Isso permitirá saber exatamente qual o redutor a ser aplicado no preço final dos veículos que se enquadrarem no programa.

A avaliação é de especialistas consultados pelo GLOBO. Eles acrescentam que isso vale tanto para quem comprar à vista ou tem intenção de financiar. O Ministério da Fazenda pediu pelo menos 15 dias para estudar como serão concedidos estes descontos e por quanto tempo.

— Vale a pena esperar mais um pouco. Só quando as regras forem oficializadas será possível saber quanto cada veículo que se enquadrará nessas normas ficará mais barato. Por enquanto, sabemos que o desconto pode chegar a 10,96%, o que é um bom percentual — diz Miguel Ribeiro de Oliveira, consultor e diretor de pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

O especialista em finanças afirma que a espera vale tanto para quem pretende comprar carros à vista ou via financiamento. Isso porque a expectativa é que, para complementar o pacote de estímulo ao setor automotivo, os bancos públicos como Caixa e Banco do Brasil possam criar linhas de crédito com condições de juros mais baixos e tempo de financiamento mais longo.

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— As linhas de financiamento de automóveis são importantes para os bancos porque fidelizam o cliente por um tempo longo e o próprio veículo é a garantia contra o calote. Ou seja, essas linhas oferecem menor risco. E se BB e Caixa passarem a ter condições melhores de empréstimo para esses veículos, os bancos privados também serão forçados a oferecer — diz Oliveira.

Procurado, o BB informou que sempre apoiou a cadeia produtiva do setor automotivo, assim como também apoia clientes para realizarem a aquisição de carro próprio. O banco já tem linha de financiamento de veículo zero km sem entrada e parcelamento do saldo em até 60 meses. Mas não informou se há estudos para novas linhas.

A Caixa informou que disponibiliza condições especiais para a aquisição de carros novos, categoria popular de até 1000 cilindradas. O valor do crédito pode chegar a até 80% do bem financiado com prazo de financiamento de até 60 meses.

Renan Suehasu, planejador financeiro e sócio da A7 Capital, diz que para quem quer financiar, além de esperar por possíveis linhas de crédito facilitadas dos bancos públicos, se o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizar uma redução da Selic, as linhas de crédito ficarão mais acessíveis, tornando assim o financiamento mais atrativo.

Segundo anunciado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geral Alckmin, os descontos serão maiores quanto menor o preço final do veículo atualmente, quanto menos poluente forem o motor e o processo produtivo, e quanto maior composição da cadeia produtiva (auto peças e acessórios) for brasileira.

Os veículos que forem melhor classificados nesses parâmetros e tiverem os maiores descontos ficarão mais atrativos.

Lucas Laghi, analista da XP, observa que para saber quais modelos serão contemplados será necessário aguardar a metodologia que permitirá a classificação dos veículos e os descontos que vão receber. Um levantamento inicial da XP mostra que mais de 30 modelos estariam aptos a receber o desconto como Fiat Mobi, Renault Kwid, Peugeot 208, Citroen C3, Fiat Argo, Renault Stepway, Volkswagen Polo Track e Hyundai HB20. Mas a lista pode ser maior, dependendo dos critérios que serão estabelecidos.

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O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, disse na quinta-feira, durante evento na Fiesp, que existe um trabalho para o desconto chegue ao consumidor ao "nível mais baixo de preço". Isso pode ser dar pela venda direta ao consumidor (com mudança de lei) ou via concessionárias.

Atualmente, podem comprar diretamente das fábricas clientes que possuam CNPJ (incluindo MEI, micro e pequenos empresários e grandes empresas), produtores rurais, taxistas, autoescolas, transporte escolar, frotistas, locadoras e pessoas com algum tipo de deficiência.

Pré-venda

Leite disse que está sendo estudada uma 'pré-venda'. Ou seja, os consumidores poderiam começar a escolher os modelos de seu interesse para entrega assim que as regras forem publicadas. Quando isso acontecer, o consumidor, se estiver satisfeito, mantém ou não o negócio.

Ele disse que houve uma redução da demanda, nos últimos dias, mas o anúncio das regras deve trazer de volta os consumidores às concessionárias. Mas analistas dizem que, com a expectativa do mercado para oficialização das novas regras, as vendas podem ficar ainda mais travadas neste final de maio e início de junho.

As vendas de 151 mil veículos, em abril, indicam desaceleração de 19% em relação ao mês anterior, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), entidade que representa as concessionárias. Os dados da Anfavea mostraram contração de18% no mês de abril.

Em nota, a Fenabrave divulgou que não "se pode fazer projeções e estimativas de volumes e percentuais, sem antes ter conhecimento do decreto a ser publicado em até quinze dias e sua efetiva aplicabilidade pelas montadoras”.

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