Desemprego cai para 8,3% em maio, com menor procura por vaga

Brasil tem 8,9 milhões desempregados. População ocupada e rendimento ficam estáveis

Por Ana Flávia Pilar — Rio de Janeiro


Carteira de trabalho física ao lado de uma carteira de trabalho digital Marcelo Camargo/Agência Brasil

A taxa de desocupação no Brasil recuou no trimestre encerrado em maio e chegou a 8,3%, como esperavam analistas. É a menor taxa para o período desde 2015. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. De acordo com o instituto, a queda está relacionada ao menor número de pessoas buscando emprego.

  • São 8,9 milhões de desempregados, 279 mil pessoas a menos que o registrado no trimestre encerrado em fevereiro, que serve de base de comparação.
  • A taxa de desemprego em fevereiro era de 8,6%.
  • O número de pessoas ocupadas ficou estável em 98,4 milhões, indicando que o desemprego não recuou pela abertura de vagas e sim pela queda na procura.
  • A chamada taxa de subutilização ficou em 18,5%, também inferior aos três meses anteriores. A subutilização da força de trabalho indica quantas pessoas poderiam trabalhar mais horas do que trabalham atualmente.

O que diz o IBGE

De acordo com os dados da Pnad, apenas o contingente de empregados no setor público cresceu. As demais categorias (trabalhadores informais, com carteira e por conta própria) ficaram estáveis.

“O recuo (da taxa de desemprego) no trimestre foi mais influenciado pela queda do número de pessoas procurando trabalho do que por aumento expressivo de trabalhadores. Foi a menor pressão no mercado de trabalho que provocou a redução na taxa de desocupação", explica Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílio.

Pela metodologia do IBGE, só é considerado desempregado quem está em busca de uma oportunidade. Quem está estudando para concurso e não está efetivamente procurando emprego na semana de referência da pesquisa, por exemplo, não entra nas estatísticas.

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Em abril, eram 9,1 milhões de desempregados, com índice de desemprego de 8,6%.

Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, afirma que, com base nos resultados da Pnad, as expectativas do mercado são de que o cenário do emprego no país continue a apresentar melhorias gradualmente.

— É esperado que a retomada econômica e a implementação de políticas públicas voltadas para geração de empregos contribuam para reduzir ainda mais a taxa de desemprego e aumentar o número de pessoas ocupadas de forma formal — disse.

O analista ressalta apenas que é necessário acompanhar de perto a evolução do mercado de trabalho nos próximos trimestres, considerando fatores como o desempenho da economia, a estabilidade das reformas estruturais e a capacidade de criação de novas vagas de emprego em setores-chave da economia.

— A análise desses elementos será fundamental para avaliar a sustentabilidade e a continuidade da tendência de melhora no mercado de trabalho brasileiro.

Já para Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), seria melhor que a taxa de desemprego caísse em decorrência da entrada das pessoas no mercado de trabalho, e não porque menos pessoas querem trabalhar.

Ele estima que essa redução na busca por emprego reflete o aumento do Bolsa Família, antes Auxílio Brasil, em meses recentes.

— Se compararmos com o que se tinha antes da pandemia, o Bolsa Família dobrou de tamanho. É um desestímulo para as pessoas procurarem empregos que pagam muito pouco e exigem demais. Há estudos recentes que mostram que essa taxa está relacionada a pessoas de renda mais baixa — disse.

Maior subutilização desde 2016

O percentual de força de trabalho subutilizada chegou ao menor patamar para o trimestre desde 2016, com 20,7 milhões de brasileiros (ou 18,2% da população) trabalhando menos que o potencial.

O levantamento sinaliza que essa queda tão expressiva não é explicada pelo aumento do desalento, que também segue em queda. Desalentados são aqueles que gostariam de trabalhar, mas desistiram de buscar emprego por pensar que não conseguiriam.

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Em fevereiro, eram 4 milhões de brasileiros em desalento, mais que os 3,7 milhões contados no trimestre encerrado em maio. O contingente atual é menor até mesmo que o total de desalentados no 1º trimestre de 2019, quando havia 4,8 milhões de pessoas nessa situação.

— Essa expansão no número de pessoas subutilizadas se divide entre quem não procura porque não gostaria de trabalhar e quem não está trabalhando, mas gostaria de trabalhar e teria disponibilidade. Só que esse segundo grupo está diminuindo, ou seja, a inatividade cresce por meio de quem não quer trabalhar — explicou Beringuy, analista da pesquisa.

A analista diz que a maior parte das pessoas que estão deixando a força de trabalho para o grupo de inativos são jovens, que podem estar evitando o retorno ao mercado de trabalho depois da pandemia para se dedicar exclusivamente aos estudos.

O rendimento também ficou estável na comparação com fevereiro, em R$ 2.901. Ante maio do ano passado, houve crescimento de 6,6%.

Censo não interfere na amostra

Os primeiros dados divulgados pelo Censo 2022 mostram que o Brasil tem 203 milhões de habitantes, bem menos que os 207,8 milhões estimados pelo IBGE. Segundo Beringuy, os dados do levantamento não interferem na amostra utilizada para a Pnad, mas mudam os pesos aplicados nas respostas.

Em matemática, “ponderar” é multiplicar um valor pela sua importância em relação ao todo. O instituto precisa saber quantas mulheres e homens existem no Brasil, por exemplo, para estimar os dados a nível nacional, considerando apenas as respostas coletadas para a Pnad.

Sem que o IBGE tenha divulgado esses dados, não é possível saber em quais grupos esteve concentrada a diferença entre a estimativa e o resultado do Censo.

— Não há um cronograma definido para quando os dados devem ser incorporados. Essa incorporação dos dados não se dá apenas pela população geral, já que o critério de calibração se dá por sexo e grupo etário. Por enquanto, não temos como mensurar. Onde que reduziu essa população? Foi entre homens, mulheres? Não tenho os elementos necessários para incorporar na própria metodologia da Pnad — concluiu Beringuy.

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