BNDES prepara plano de ao menos R$ 50 bi para financiar projetos de transição energética, como frotas de ônibus elétricos

Foco será hidrogênio verde, eólicas offshore, combustíveis de baixo carbono e a troca da frota do transporte público para ônibus elétricos

Por Manoel Ventura — Brasília


Ônibus elétrico articulado para transporte de grande número de passageiros, em São José dos Campos Edilson Dantas / Agência O Globo

O BNDES prepara um plano para financiar, com subsídio, grandes projetos de transição energética. O foco será em projetos de hidrogênio verde, eólicas offshore (no mar), combustíveis de baixo carbono, combustível sustentável de aviação e a troca de frotas de transporte público por ônibus elétricos, disse ao GLOBO Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do banco.

A diretora estima mais de R$ 50 bilhões disponíveis para esses projetos, por meio do Fundo Clima, que hoje já está em vigor, mas hoje tem apenas R$ 2,5 bilhões.

— Há projetos para isso. A gente precisa ser agressivo. Para segurar esses investimentos no Brasil, vamos precisar de ousadia — afirmou a executiva.

O banco de fomento discute com o Ministério da Fazenda formas para irrigar o fundo, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e que tem o banco como agente financeiro. Uma das saídas pode ser a emissão de títulos verdes no mercado internacional (o chamado green bond).

Sede do BNDES, no Centro do Rio — Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

Esse fundo tem juros subsidiados. São, portanto, mais baixos que as taxas de mercado e que é cobrado pelo próprio BNDES em operações regulares — por meio da Taxa de Longo Prazo (TLP).

'Cada projeto é um projeto'

De acordo com Luciana, o Fundo Clima empresta hoje a uma taxa de 4% ao ano. Já a taxa básica do BNDES, nos contratos deste mês, foi de IPCA + 5,49% a.a. Por isso, a ideia do banco é fazer um “mix” entre o Fundo Clima e a TLP. Assim, seria possível oferecer uma taxa de juros próxima a 8% e com longo prazo, até 24 anos.

— A gente tem condições de oferecer prazo, linhas de até 24 anos para esse tipo de investimento. O mercado privado bancário e o mercado de capitais não conseguem oferecer esse prazo. Se a gente oferecer recursos de 8% ao ano, já começa a fazer sentido para o investidor. Vai ficar mais caro que nos Estados Unidos, mas vai ficar abaixo do mercado. Cada projeto é um projeto — afirma.

O plano verde do BNDES começa neste ano com o financiamento da eletrificação do transporte urbano. O banco conversa com 30 prefeituras para fechar o modelo de financiamento, que será colocado na rua neste ano.

13 anos para renovar frota

Com uma frota de 107 mil ônibus, o Brasil tem atualmente 376 veículos eletrificados no transporte público, de acordo com dados da E-Bus Radar, que monitora frotas de ônibus elétricos na América Latina. Renovar toda essa frota levaria 13 anos, a um custo de cerca de R$ 214 bilhões.

Exemplar de ônibus elétrico — Foto: divulgação

O plano para a troca de frota pode ter um juro maior que projetos mais complexos, como é o caso do hidrogênio verde. O combustível é visto como um dos elementos decisivos para os planos de descarbonização em escala global da geração de energia.

Essa tecnologia pode acelerar a transição energética em setores que têm mais dificuldades para aderir à eletrificação, como aviação, transporte de carga, siderurgia e mineração.

— Hoje tem mais de US$ 320 bilhões de projetos de hidrogênio verde. O Brasil é candidato para atrair, junto com Espanha, Austrália, EUA, e Arábia Saudita, grande parte desses investimentos. Mas o investidor vai olhar a competitividade do custo de energia renovável e os incentivos para que ele coloque esses investimentos — disse a diretora do BNDES.

A produção de hidrogênio verde é vista como alinhada com a construção de parques de eólica offshore (no oceano). Como o Brasil tem uma grande costa com ventos constantes e direcionados, especialistas apontam para o potencial desses parques no país, assim como a possibilidade de o custo do hidrogênio verde ser mais barato por aqui.

— A nossa estratégia é tentar adensar as cadeias do hidrogênio verde. Fomentar uma indústria local de eletrolisador, produzir o hidrogênio verde e depois produzir também aço verde, entre outros — afirmou.

Unidades produtoras do combustível sustentável de aviação também são complexas e exigem de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. É por isso que a diretora do BNDES defende subsídios para essas áreas.

— A gente entende que é muito importante ter linhas incentivadas para esses setores. O Brasil tem condições naturais que fazem o país ter vantagens comparativas consideráveis.

Em outra frente, mais para o futuro, também está nos planos do BNDES financiar a recuperação florestal de áreas degradadas. Isso pode ser um negócio quando for criado um mercado de compra e venda de carbono no Brasil. O governo prevê enviar ao Congresso um projeto tratando do mercado de carbono em agosto.

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