Onde a internet não entra: em 6 milhões de domicílios, moradores não usam a rede

Nenhum morador saber usar a internet apareceu como principal motivo para a falta de acesso na maior parte dos lares

Por — Rio de Janeiro


Em 2022, a internet era utilizada em 91,5% dos domicílios brasileiros SeongJoon Cho/Bloomberg

Em 6,4 milhões de moradias brasileiras, acessar as notícias pelo celular, checar os assuntos mais comentados on-line e curtir fotos de amigos nas redes sociais não são ações banais do dia a dia. Os moradores dessas casas não usam internet, e o principal motivo para isso não está relacionado à ausência de infraestrutura de telefonia ou aos custos dos pacotes de dados, mas ao desconhecimento sobre como navegar na web.

A análise consta em novo levantamento sobre Tecnologia da Informação e Comunicação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad/TIC), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE. Em 2022, a internet era utilizada em 91,5% dos domicílios (68,9 milhões) brasileiros, um aumento de 1,5 ponto percentual na comparação com o ano anterior.

Onde a internet não entra — Foto: Infografia/O GLOBO

Embora a parcela de residências com internet tenha avançado desde o início da série histórica (2016), as taxas de crescimento são cada vez menores. Segundo a pesquisa, isso acontece na esteira da universalização do acesso à rede no Brasil.

Entre os principais motivos para a ausência de conexão com a internet nesses lares, se destacam:

  • nenhum morador sabia usar a internet (32,1%);
  • falta de necessidade em acessar a internet (25,6%);
  • serviço de acesso à internet era caro (28,8%).

Em 5,4% das residências onde a internet não era usada, a indisponibilidade de serviços de acesso era o motivo principal, enquanto a barreira em 3,9% delas era o custo dos equipamentos eletrônicos. A falta de tempo (1,1%) e a preocupação com a segurança (0,6%) foram menos citados pelos entrevistados.

Finalidade do uso da rede

A maior parte dos brasileiros usa a internet para conversar com outras pessoas online (94,4%), tanto por chamadas de voz quanto por chamadas de vídeo, enviar ou receber mensagens de texto e voz ou imagens (92,0%) e assistir a vídeos, inclusive programas, séries e filmes (88,3%).

Outros motivos incluem usar as redes sociais, ouvir músicas, ler jornais, livros ou revistas, jogar, acessar serviços públicos e comprar ou vender bens e serviços.

Motivos para o uso da internet no Brasil — Foto: Infografia/O GLOBO

Apenas 3% das pessoas não acessam internet

Cerca de 12,8% das pessoas de 10 anos ou mais de idade não usam internet do Brasil. O IBGE estima que esse grupo, que soma 23,8 milhões de brasileiros, é formado principalmente por indivíduos sem instrução ou com ensino fundamental incompleto (78,5%). Além disso, pouco mais da metade são idosos.

Os dois motivos mais apontados por essas pessoas para não usar a internet foram o desconhecimento (47,7%) e a falta de necessidade (23,5%), repetindo o padrão observado no caso das moradias.

Em seguida, aparecem: serviço de acesso à internet ou equipamento caros (16,2%) e indisponibilidade de acesso nos locais frequentados (3,6%).

Christian Perrone, coordenador das áreas de Direito e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS/Rio), diz que, como a infraestrutura de telefonia se expandiu nos últimos anos, mais lugares foram contemplados pelo acesso à internet, mas isso não veio acompanhado de um processo de letramento em tecnologia:

— Não saber usar está relacionado a não estar acostumado. Antes não havia infraestrutura em muitos lugares, agora existe uma barreira de vínculo. Não adianta você ter o sinal de internet se a empresa que vende o celular e a que presta assessoria não estão por perto. É preciso ter um ecossistema. Existe ainda outro ponto: ter um sinal e ter um sinal de qualidade são coisas bem diferentes.

Entre as pessoas idosas, com 60 anos ou mais, o não uso se explica principalmente pelo desconhecimento sobre como navegar na internet (66,1%). Já entre crianças de 10 a 13 anos, os motivos mais citados foram a falta de necessidade (27,9%), o custo elevado (17,1%) e a preocupação com privacidade ou segurança (15,6%).

O advogado especialista em tecnologia Ronaldo Lemos avalia que o letramento digital se transformou em um obstáculo, porque o país vem investindo bastante em infraestrutura, mas não tem investido da forma como deveria em educação. Com isso, a infraestrutura de conectividade está chegando a lugares onde a educação não chega. Ele complementa que a internet no Brasil não é barata, e a banda larga, limitada, com pacotes que não funcionam para serviços que requerem o carregamento de muitos dados.

— Estamos na era do 5G, mas o 5G está concentrado em grandes cidades, e mesmo nelas apenas em alguns lugares.

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