Streaming pago já chega a 43,4% dos domicílios com TV; televisão a cabo perde espaço

Pela primeira vez, levantamento do IBGE traz dados sobre o serviço de transmissão de conteúdos on-line. Perda de interesse na TV por assinatura cresce entre brasileiros

Por — Rio de Janeiro


A parcela de lares brasileiros com TV diminuiu entre 2021 e 2022, mas o streaming pago de vídeo já está presente em mais de 40% dos lares com TV Freepik

Sai a TV a cabo, entram as plataformas de streaming. Em 2022, 31,1 milhões de lares brasileiros — ou 43,4% dos que tinham televisão — tinham assinatura paga de streaming de vídeo. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) Tecnologia da Informação e Comunicação, divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE. É a primeira vez que o levantamento, realizado todos os anos, traz informações sobre esse tipo de serviço.

As regiões onde o streaming está mais presente são Sul e Centro-Oeste, onde metade dos domicílios com TV têm serviço de streaming pago. O Sudeste vem em seguida, com 48% dos lares. São as regiões onde o rendimento da população é maior.

Segundo o IBGE, o rendimento médio mensal real per capita nos domicílios que tinham acesso a serviço pago de streaming de vídeo era de R$ 2.454 no ano passado. É mais que o dobro daqueles que não usufruíam desse serviço (R$ 1.140).

— Foto: Infografia/O Globo

Essa mudança no comportamento do brasileiro, que cada vez mais escolhe séries para maratonar, se reflete na perda de espaço da TV a cabo. Em 2022, menos de um terço dos domicílios com televisão tinham contrato de serviços de canais fechados — 27,7% ou 19,8 milhões de lares. Em 2016, esse percentual foi de 33,65%.

Outra coisa que está mudando é o peso das razões que explicam por que as pessoas estão deixando a TV por assinatura de lado.

Até o ano de 2019, mais da metade daqueles que não tinham TV a cabo em casa diziam que era por conta do preço. Naquele ano, outros 40,9% apenas não estavam interessados em ter.

Em 2022, o percentual da falta de interesse subiu para 53,7% dos domicílios, ao mesmo tempo em que apenas 35,3% apontaram os custos elevados como motivo para não contratar um pacote de canais fechados.

O advogado especialista em tecnologia Ronaldo Lemos acredita que existe potencial para que o streaming se torne ainda mais popular no Brasil, um país de apaixonados por tecnologia. No entanto, limitações técnicas, relacionadas à infraestrutura das cidades e a serviços de banda larga de má qualidade, ainda “seguram” o Brasil longe do primeiro lugar no ranking dos lugares do mundo mais digitalizados.

— A população brasileira é muito tecnológica, somos todos “novidadeiros”. Se tivéssemos internet de melhor qualidade, seríamos seríamos o principal país de vida digital — afirma.

Christian Perrone, coordenador das áreas de Direito e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS/Rio), entende que, por um lado, existe um aumento da tecnologia nos lares brasileiros e, por outro, uma lacuna de acesso. Na medida em que existem cada vez mais tecnologias, que aumentam inclusive a produtividade, a desigualdade social avança potencialmente:

— Na medida em que você adiciona mais camadas de tecnologia no dia a dia das pessoas, outras pessoas continuam sem a camada inicial, sem celular ou acesso à internet. É um desafio conciliar esses dois lados, se não houver políticas públicas transformadoras — conclui.

Ivan Martinho, professor de marketing da ESPM, diz que o movimento de crescimento dos streamings e queda na base de assinantes da TV paga acontece há algum tempo, o que tem levado as emissoras a adotar novas estratégias.

É o caso, por exemplo, das emissoras que contam com um serviço de streaming, mas mantêm conteúdos exclusivos para os canais por assinatura.

Menos televisões, tablets e computadores

Apesar do aumento no número de lares com televisão em termos absolutos, a proporção de domicílios com o aparelho caiu de 95,5% para 94,9% entre 2021 e 2022, segundo o IBGE.

Todas as regiões do Brasil registraram queda na porcentagem de lares com TV, com destaque para o Norte, onde essa taxa diminuiu 0,8 ponto percentual.

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Os resultados de 2016 a 2022 ainda mostram que o número de domicílios com microcomputadores (notebooks, laptops e desktops) é cada vez menor. Esses aparelhos estavam em 45,9% dos lares em 2016, mas atualmente são usados em apenas 40,2% das moradias.

Segundo o IBGE, o microcomputador é um equipamento mais caro que o tablet e na grande maioria dos domicílios em que havia tablet também havia um microcomputador.

A pesquisa afirma que esses dados são importantes ao considerar o rendimento médio das moradias. Esse rendimento foi de R$ 995 para os domicílios que não tinham microcomputador nem tablet e igual a R$ 1.278 naqueles que tinham apenas tablet.

Por fim, a renda ficou em R$ 2.612 nos lares em que tinham pelo menos um dos aparelhos e de R$ 4.119 naqueles em que havia os dois.

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