Americanas faz acordo com credores, e receberá aporte de 24 vezes o valor de mercado da empresa

Aumento de capital será de R$ 24 bilhões. Empresa, que no auge chegou a valer R$ 66,47 bilhões na Bolsa, hoje é avaliada em menos de R$ 1 bilhão


Fachada de loja da Americanas Domingos Peixoto/Agência Globo

A Americanas (AMER3) vai receber um aumento de capital de R$ 24 bilhões. Desse total, haverá uma injeção de R$ 12 bilhões de seus três acionistas de referência e o restante é conversão de dívida dos credores em novas ações. Os valores fazem parte de seu plano de recuperação judicial.

O acordo com credores, que vai viabilizar a apresentação deste plano, foi firmado hoje após meses de negociações e até disputas judiciais, informou a empresa, conforme antecipou o colunista Lauro Jardim.

Por ora, credores que representam pouco mais de um terço dos créditos incluídos na recuperação judicial aderiram ao termo. Todos se comprometem em votar pela aprovação do plano na assembleia de credores agendada para o próximo dia 19 e, em paralelo, suspender ações em tramitação e não abrir novas contestações judiciais contra a companhia e seus acionistas.

O aumento de capital na companhia representa nada menos do que 24 vezes seu atual valor de mercado. A empresa vale hoje menos de R$ 1 bilhão na Bolsa de Valores, segundo dados do fechamento da última sexta-feira.

A Americanas, que no auge já chegou a ter valor de mercado de R$ 66,47 bilhões, em agosto de 2020, viu suas ações derreterem após virem à tona, em janeiro desde ano, “inconsistências contábeis” de mais de R$ 20 bilhões em seus balanços financeiros.

Hoje, a empresa vale R$ 992 milhões na Bolsa de Valores, segundo dados compilados na Bloomberg. Veja, abaixo, o sobe e desce no valor da empresa na Bolsa. Os dados são do encerramento dos negócios em cada ano.

Americanas valor de mercado — Foto: Criação O Globo

Safra fica de fora do acordo

Após abrirem em alta na casa dos 10%, as ações ordinárias (AME3, com direito a voto) caíram 5,45%, negociadas a R$ 1,04.

Nesta segunda-feira, a Americanas disse que chegou a um acordo vinculante com credores que representam 35% da dívida da companhia para apoiar o plano de recuperação judicial.

Vale destacar que pelo baixo valor de cotação, os ativos são suscetíveis a fortes movimentos de alta e baixa.

Estão entre eles os bancos Bradesco, Itaú, Santander, BTG Pactual. O Safra , segundo fontes o mais resistente ao acordo, ficou de fora, mas seguem as negociações, afirmam fontes próximas.

Esses bancos vão converter em ações R$ 12 bilhões em dívida. Ou seja, vão se tornar sócios da empresa. Os R$ 12 bilhões restantes serão aportados pelos três acionistas de referência da Americanas (Marcel Telles, Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira, sendo que este último contribuiria com R$ 6 bilhões).

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O plano firmado com os credores prevê que a capitalização da Americanas tenha um valor de ação que corresponde a 1,33x ao preço médio negociado nos últimos 60 dias até a véspera da data da assembleia.

Na negociação com os credores, a Americanas conseguiu assegurar, ainda, uma linha de fianças bancárias no valor de R$ 1,5 bilhão, disponível por dois anos após a homologação do plano ou enquanto a companhia estiver em supervisão judicial. Os credores financeiros que oferecerem esse seguro fiança terão acesso prioritário a uma parcela de R$ 1,5 bilhão do pagamento antecipado dos R$ 6,7 bilhões previsto no plano.

- Este acordo é um marco importante de nosso processo de recuperação judicial e um significativo progresso da Americanas no caminho para a nossa meta de emergir como uma empresa mais forte, mais competitiva, preservando a importante atividade econômica que representa e os milhares de empregos diretos e indiretos gerados em todo o país - comentou Leonardo Coelho, CEO da Americanas

Recentemente, Leonardo Coelho Pereira, CEO da varejista, disse que já tinha um alinhamento com credores que somam 60% do valor da dívida. Porém, no comunicado de hoje, a empresa detalhou o total exato.

Além disso, a varejista disse que outros credores indicaram de forma não-vinculante (ou seja, sujeito a determinadas condições) o apoio ao plano de recuperação judicial.

Juntos, esses dois grupos, diz a companhia, representam mais de 50% da dívida, número que deve ser alcançado até a assembleia.

Segundo a empresa, esses credores que ainda não assinaram o acordo vinculante “informaram estar conduzindo processos internos de aprovação para aderirem e se vincularem ao PSA (plano de recuperação judicial)”.

Adesão abaixo do antecipado

Com isso, a empresa vai protocolar nesta segunda-feira na 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça os detalhes do acordo.

O acordo demonstra o esforço da Americanas para abrir caminho para a aprovação do plano de recuperação, atuando para retirar antecipadamente de cena riscos que poderiam travar o processo, destaca uma fonte.

É que, nos planos de recuperação judicial, a supressão ou a troca de créditos envolvidos no processo só pode ocorrer com a anuência do credor garantidor desses valores.

Assembleia Geral de Credores do Grupo Americanas será em 19 de dezembro — Foto: Foto de arquivo

Na prática, porém, credores têm resistido em concordar com essa liberação de garantias, exigindo o pagamento de seus créditos sem desconto ou com o menor corte possível. Essa atuação mais combativa de detentores de créditos é vista em casos de grande monta como o da Light, além da própria Americanas.

Pesa ainda o fato de que, no caso da varejista, a recuperação é resultado de uma fraude financeira, o que abalou a confiança de investidores e de agentes financeiros do mercado.

"Para não esbarrar nisso, a Americanas atuou para construir um acordo financeiro privado", diz essa fonte. Assim, a varejista garante que credores que aderiram ao acordo vão aprovar o plano nos termos previstos, com o compromisso ainda de não processar a companhia ou seus acionistas.

De outro lado, os bancos, segundo fontes, não querem deixar para dar aval a descontos em suas fatias na dívida da Americanas no plano de recuperação para não criarem um precedente a ser reclamado em outros processos.

O termo colabora ainda para blindar os acionistas de referência da companhia - Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Beto Sicupira.

Os acionistas de referência afirmam que não tinham conhecimento do esquema fraudulento que fez tombar o resultado financeiro da companhia.

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