Com ou sem açúcar, café está salgado: veja por que o produto está mais caro no supermercado

Seca no Vietnã tem feito as oscilações no preço do grão disparar no exterior, refletindo-se no orçamento do consumidor brasileiro, tão acostumado ao cafezinho. O grão moído já subiu mais de 5% neste ano

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Café Freepik

A inflação surpreendeu em maio, acelerando para 0,46% em maio, segundo dados do IPCA, divulgado pelo IBGE nesta semana. Entre os principais responsáveis pela alta estão os alimentos. E, neste grupo, chama a atenção a alta do café, um item essencial da cesta básica dos brasileiros.

Em maio, o preço do café moído subiu 3,42%, muita acima da média geral dos preços apurada pelo IBGE. Isso logo depois de uma alta forte em abril: 3,08%, contra um IPCA de 0,38%. No ano, o produto já acumula alta de 5,17%, contra 1,8% do índice geral. Mas por que adoçar aquele cafezinho está, na verdade, mais salgado para o consumidor?

A resposta está nas mudanças climáticas. Desde a metade do ano passado, pouca chuva e muito calor afetam a colheita do grão em regiões de Minas Gerais. Mas o principal fator para a alta do caféy, agora está no exterior.

Colheita de café no Espírito Santo — Foto: Arquivo pessoal de Ézio Sena, produtor do ES

Uma severa seca está prejudicando a colheita no Vietnã, que é o segundo maior produtor mundial, depois do Brasil. Com menor oferta, o valor da saca sobe. Como se trata de uma commodity, quando a cotação internacional do café sobe o preço também se eleva por aqui.

Os preços do café robusta (também conhecido como conilon) têm sofrido alta volatilidade, influenciados por preocupações com o fornecimento global do grão. Só este ano, os contratos futuros tiveram uma alta notável, atingindo níveis de oscilação não vistos desde 2008.

Os futuros das negociações do café atingiram um novo recorde na semana passada. Na última sessão, o café robusta subiu 0,12%, para US$ 4.241 por tonelada, na cotação em Londres. Há dois meses, mil quilos do grão eram cotados a US$ 3.777. No último dia de negociações em 2023, no dia 29 de dezembro, a tonelada custava US$ 3.046. No ano, a commodity valoriza 39%.

Café para todos os gostos

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Cafés com pontuação global menor de 4,5 pontos não são recomendados.

De acordo com Daria Efanova, chefe de pesquisa da consultoria Sucden Financial, enquanto a perspectiva de curto prazo deve permanecer instável, a previsão de longo prazo continua moderadamente otimista. "O clima é o fator predominante em nossa análise de safra", disse, em relatório.

O café arábica também viu um aumento na variação devido a preocupações com o fornecimento relacionadas ao clima, juntamente com a crescente demanda especulativa devido à crise no mercado de cacau, acrescentou Efanova. O cacau tem sofrido com uma colheita menor na África Ocidental, principal região produtora do fruto.

Nos EUA, a JM Smucker, que fabrica bebidas, já anunciou que vai aumentar o preço dos produtos das marcas Folgers, Bustelo e Dunkin’. A empresa, que é a maior fabricante de café para consumo doméstico no varejo americano, aumentará os preços de parte de seus produtos de café.

Colheita maior no Brasil

Apesar do receio, o Brasil, maior produtor do grão no mundo, deve registrar alta de 6,8% na colheita de café em 2024, segundo a Conab, o que pode favorecer redução do preço adiante. No grão robusta, esta safra deve ser a segunda maior da série histórica.

Os Estados Unidos e a Alemanha são os países que mais compram café do Brasil. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, nos quatro primeiros meses de 2024, os dois destinos participaram em 17,5% e 14,4%, respectivamente, no total de exportações do grão. Foram mais de 199 milhões de toneladas com destino aos EUA só neste ano.

Em 2023, a quantidade exportada alcançou 323 milhões de toneladas para os americanos, principal destino do café brasileiro. Foram, ao todo, 2,1 bi de toneladas exportadas no ano passado para todo o mundo.

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