Para fortalecer relação com Brasil, ‘BNDES francês’ terá € 2 bi para financiar projetos no país

AFD, um dos principais instrumentos da França para intensificar parcerias bilaterais, vai reforçar oferta de crédito por aqui nos próximos quatro anos. Apesar de frustrar acordo UE-Mercosul, Macron quer aproximação

Por — Paris


Na Praça dos Três Poderes, o presidente francês, Emmanuel Macron visitou Brasília em março Cristiano Mariz/Agência O Globo

Diante do impasse no acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, a França quer fortalecer as relações bilaterais com o Brasil. Para isso conta com sua agência de fomento, a Agence Française de Développement (AFD), uma espécie de BNDES francês voltado para países em desenvolvimento. A instituição planeja liberar € 2 bilhões (R$ 11,5 bilhões) para financiar projetos no Brasil nos próximos quatro anos.

O montante é quase o volume total aprovado para toda a América Latina pela agência em 2023 (€ 2,3 bilhões) e praticamente tudo o que destinou ao Brasil desde 2007, quando começou a financiar projetos no país: € 2,6 bilhões para 26 projetos — outros 44 tiveram apoio para estudos técnicos, no valor de € 25 milhões, não reembolsáveis.

Embora seja um dos principais obstáculos ao acordo UE-Mercosul, a França busca fortalecer parcerias com o Brasil num contexto em que o presidente Emmanuel Macron tenta se aproximar de países considerados amigáveis, com menor risco de guerras e maior facilidade de fazer negócios, um movimento que no jargão da diplomacia e das cadeias de suprimentos globais recebe o nome de friendshoring.

A guerra na Ucrânia e o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas têm sido uma preocupação constante para os franceses. Além disso, o atual governo francês, que vê o avanço da extrema direita no país, quer apoiar a proteção ao meio ambiente e fomentar a transição energética.

— A América Latina é um continente de soluções. Queremos fortalecer os laços entre essa região e a Europa. São territórios de paz, biodiversidade, proteção aos oceanos. É importante sustentar essas questões que são vitais para o futuro do mundo — diz Marie-Pierre Bourzai, diretora da AFD para América Latina.

A maior parte do crédito vai para o setor público, como bancos estatais, prefeituras e governos estaduais. A AFD tem ainda um braço dedicado ao setor privado, a Proparco, e outro focado em cooperação e expertise técnica, a Expertise France. O grupo como um todo aprovou € 13,5 bilhões em crédito no mundo em 2023.

As prioridades no Brasil são energia renovável, bioeconomia, transporte público e infraestrutura de saneamento. Dos € 2 bilhões para quatro anos, metade será desembolsada no âmbito de um programa focado em bioeconomia na Amazônia e ecossistemas frágeis, como o Cerrado.

O primeiro empréstimo dentro dessa iniciativa, de € 280 milhões, vai para o Banco da Amazônia (Basa) e o BNDES. Em paralelo, a AFD abrirá uma nova linha de crédito para o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), para ajudar na recuperação do Rio Grande do Sul após as enchentes. Serão entre € 100 milhões e € 150 milhões à instituição de fomento regional, em parceria com o Banco Mundial.

A AFD também amplia recursos para a área de esporte, para promover o bem-estar social e mobilizar a juventude. A África, onde ficam ex-colônias francesas, recebe 90% desse tipo de financiamento. Mas a agência começa a colocar os pés no Brasil nessa seara também, no ano das Olimpíadas de Paris. O primeiro projeto a ter recursos da AFD será da Fundação Gol de Letra, do ex-jogador de futebol Raí. Serão € 70 mil (R$ 401 mil), previstos para este ano.

Danielle Nogueira viajou a convite do governo da França

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