As críticas sobre uma possível atuação política do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, feitas pelo presidente Lula, mostram que ele e seu partido, o PT, não reconhecem a autonomia do BC e têm uma “visão primitiva” sobre a autoridade monetária, afirma o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.
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Como o senhor avalia as declarações do presidente Lula de que Campos Neto tem uma atuação política?
Lula e o PT têm uma visão distorcida do BC. Não reconhecem sua autonomia e acham que a autoridade monetária tem que ter uma postura desenvolvimentista. Ou seja, de que o crescimento do país se faz com juro baixo. É uma visão primitiva.
Quais as consequências desse tipo de declaração às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária que decidirá a taxa de juros?
Isso gera mais incerteza. O encontro desta quarta-feira seria uma forma de dissipar incertezas da reunião passada, quando quatro diretores do BC indicados pelo PT votaram por uma queda de juros maior (de 0,5 ponto percentual e não 0,25).
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Ninguém no mercado aposta que há espaço para queda de juros, e a Selic deve ser mantida em 10,5%. Isso deveria ser unanimidade na reunião. O presidente não deveria fazer esse tipo de declaração na véspera do Copom.
O que pode ter motivado essa fala mais contundente?
É um discurso político. Acho que o Roberto Campos errou ao aceitar ir ao jantar oferecido pelo governador Tarcísio de Freitas, que é bolsonarista declarado. E também errou se ele disse que aceitava ser o futuro ministro da Fazenda numa eventual vitória de Tarcísio à presidência.
Isso dá margem aos opositores de que o presidente do BC tem ‘lado político’. Ele precisa ser neutro, pode até ter um partido como tem o presidente do BC nos EUA, mas não pode misturar as coisas.
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Qual a sua avaliação da política monetária atual?
É um sucesso inequívoco. O BC subiu o juro aqui antes dos demais BCs pelo mundo. E a inflação acabou sendo controlada. E é uma tolice dizer que o Roberto Campos trabalha contra o Brasil. Por isso digo que o discurso de Lula é político, e o presidente do BC é apenas um bode expiatório, mas errado. O Brasil precisa enfrentar a questão fiscal, que está inibindo o potencial de crescimento do país.
A questão fiscal é o principal problema atual do governo?
Lula se deu conta da insustentabilidade de gerir o Orçamento. Ao dizer que não está disposto a cortar gastos, aprofunda o desconforto do mercado.