Campos Neto diz que prévia da inflação veio melhor que esperado, mas ainda não traz 'conforto'

Presidente do BC afirma que ainda há diferença relevante entre as estimativas do mercado para a meta fiscal de 2024 e a projeção do governo. Fazenda trabalha com déficit zero

Por — São Paulo


Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em evento do Santander Divulgação / Santander

RESUMO

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GERADO EM: 28/08/2024 - 11:49

Presidente do BC destaca desafios econômicos

O presidente do Banco Central, Campos Neto, destaca preocupação com inflação e meta fiscal para 2024. Desemprego baixo, inflação implícita e incerteza global são desafios. Eleição nos EUA e medidas protecionistas também influenciam cenário econômico. Medidas necessárias para atingir metas são prioridade.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira que a prévia da inflação veio melhor que o esperado, mas não trouxe “conforto” e destacou que ainda existe uma diferença relevante entre as estimativas do mercado para a meta fiscal e a projeção do governo. O IPCA-15 desacelerou em agosto, mas analistas dizem que o indicador deve voltar a subir.

Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que haverá um "esforço" no segundo semestre, que deve fazer com que o governo consiga atingir a meta de déficit zero para 2024, ainda dentro de margem de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos.

Campos Neto, que participou da 25ª Conferência Anual do Santander, organizada pelo banco em São Paulo, ressaltou que a condução da política monetária está relacionada a um cenário de expectativas ancoradas, mas destacou que as despesas do governo continuam crescendo acima das receitas.

Além disso, disse que as inflações implícitas (diferença entre a taxa de juros real e a nominal) subiram bastante, estendendo-se até 2026, o que causa “um grande desconforto no Banco Central”. Ele garantiu, mais uma vez, que a autarquia vai fazer o que for preciso para atingir a meta de inflação.

Desemprego mais baixo

— Ainda tem uma diferença grande entre o mercado espera e o que é a meta do governo. A gente reconhece que o governo tem se esforçado bastante, tem sido bastante difícil esse exercício, e a gente vê que, apesar de ter uma evolução de receita boa, as despesas estão subindo acima da receita.

O presidente do BC disse ainda que a autarquia tem olhado com atenção para o mercado de trabalho bastante aquecido. Campos Neto, no entanto, mencionou que os economistas inicialmente calculavam que uma taxa de desemprego abaixo de 9% teria impacto relevante sobre os preços, estimativas, o que não se concretizou. Depois, estimaram que esse cenário só aconteceria se a taxa caísse abaixo de 8% — o que também não aconteceu.

— E a gente está com um desemprego bem mais baixo (que esse patamar). E ainda (estamos), obviamente, com o setor de serviços um pouco pressionado, mas muito longe do que a gente imaginava um tempo atrás — concluiu.

Eleição americana

Campos Neto elencou uma série de fatores externos que podem contaminar a economia nacional, como mercado de trabalho aquecido e níveis baixos de desemprego. A corrida pela presidência americana também foi mencionada, sobretudo porque não há sinais de austeridade tanto pelo lado democrata, quanto pelo lado republicano.

Além disso, Kamala Harris e Donald Trump sinalizam que devem aumentar o protecionismo em relação a produtos chineses, com sobretaxas de importação. Combinados, esses fatores poderiam impactar os preços, o que levaria ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a manter os juros em patamar mais elevado.

Quase intervenção no câmbio

Campos Neto também disse a autoridade chegou “muito perto” de intervir no câmbio em alguns momentos e está “sempre com o dedo no gatilho” para atuar se for necessário.

--- A gente chegou muito perto de fazer intervenção em alguns momentos. Significa que o Banco Central vai atuar se for preciso, e está sempre com o dedo no gatilho --- disse o presidente do BC.

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