Altman está de volta à OpenAI, mas ainda há dúvidas sobre por que ele foi demitido

Motivos reais sobre demissão do cofundador da OpenAi, criadora do ChatGPT, ainda precisam ser esclarecidos. Segundo agência, projeto Q*, ainda não divulgado pela empresa, pode ser um dos fatores

Por Bloomberg — Nova York


Sam Altman foi reintegrado como CEO da OpenAI menos de cinco dias após sua demissão Bloomberg

Sam Altman está voltando a liderar a OpenAI poucos dias depois de sua repentina demissão, que deu início a um cabo de guerra por seu talento, deixou a empresa em desordem e revelou profundas divisões na diretoria sobre a missão de uma das startups mais valiosas do mundo.

O novo Conselho interino da OpenAI, que não incluirá Altman no início, será liderada por Bret Taylor, ex-co-CEO da Salesforce, uma das maiores empresas do mundo. Os outros diretores são Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, e o atual membro Adam D'Angelo, cofundador e CEO da Quora.

Altman havia sido demitido na sexta-feira passada depois de entrar em conflito com a diretoria por causa de sua iniciativa de transformar a OpenAI de uma organização sem fins lucrativos voltada para a exploração científica da inteligência artificial em uma empresa que constrói produtos, atrai clientes e alinha o financiamento necessário para alimentar as ferramentas de IA. Os membros da antiga diretoria estavam preocupados com os possíveis danos causados por uma IA poderosa e sem controle.

A primeira tarefa da diretoria interina será encontrar novos diretores que consigam encontrar um melhor equilíbrio entre os imperativos comerciais da OpenAI, criadora do ChatGPT, e a necessidade de proteger o público de ferramentas capazes de criar conteúdo que desinforme, piore a desigualdade ou facilite a violência por parte de agentes mal-intencionados.

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A diretoria reconstituída deve refletir maior diversidade, disseram muitas pessoas, inclusive Ashley Mayer, CEO da Coalition Operators, uma empresa de capital de risco.

“Estou emocionada pelos funcionários da OpenAI com o retorno de Sam, mas parece muito 2023 que nosso final feliz sejam três homens brancos em um conselho encarregado de garantir que a IA beneficie toda a humanidade”, escreveu ela no site de mídia social X, ex-Twitter. "Espero que haja mais novidades em breve."

Uma pessoa próxima às negociações disse que várias mulheres foram sugeridas como possíveis diretoras interinas, mas as partes não conseguiram chegar a um consenso. Laurene Powell Jobs, a filantropa bilionária e viúva de Steve Jobs, e a ex-CEO do Yahoo, Marissa Mayer, foram cogitadas, mas consideradas muito próximas de Altman, disse essa fonte. A ex-secretária de Estado Condoleezza Rice também foi considerada, mas seu nome também foi descartado. Em última análise, o conselho incluirá mulheres, disse essa fonte.

Investidores querem explicações

Os investidores também esperam mudanças na forma como o conselho se comunica com as partes interessadas. Os executivos da Microsoft, que disse que investirá até US$ 13 bilhões na OpenAI, ficaram indignados depois de receberem apenas um breve aviso sobre os planos da diretoria de demitir Altman, disseram pessoas com conhecimento do assunto.

Alguns investidores e executivos da OpenAI também reclamaram que a diretoria não explicou suficientemente sua justificativa para demitir Altman. Os membros do conselho disseram que Altman não foi "consistentemente sincero em suas comunicações".

Nos dias que se seguiram, membros do conselho e funcionários disseram que a remoção do CEO não estava relacionada a "má conduta" ou "segurança", deixando um vácuo de informações. O CEO da Microsoft, Satya Nadella, disse publicamente que não recebeu nenhuma explicação.

O polêmico projeto Q*

De acordo com reportagem da agência Reuters, um dos motivos que levaram à demissão de Altman teria sido um projeto chamado Q* (lido como Q Star), ainda não lançado oficialmente, que tem o foco em aplicações de IA para raciocínio lógico e matemático.

Antes dos acontecimentos de sexta-feira, alguns pesquisadores da empresa escreveram uma carta ao conselho de administração alertando sobre o Q*, uma poderosa descoberta de inteligência artificial que poderia indicar um avanço na busca da startup pela inteligência artificial geral (AGI), definida pela própria OpenAI como ''sistemas autônomos que superam os humanos na maioria das tarefas de valor econômico''. Segundo as fontes, esta carta de advertência teria sido um dos fatores que fizeram com que o conselho demitisse Altman.

CEO interino pede desculpas

Emmett Shear, que foi nomeado CEO interino pelo conselho no domingo, disse a pessoas próximas à OpenAI que não planejava permanecer no cargo se o conselho não pudesse comunicar claramente a ele, por escrito, o motivo da demissão repentina de Altman, de acordo com pessoas com conhecimento do assunto.

A Microsoft, cuja estratégia de IA depende da tecnologia da startup, provavelmente terá representação no novo conselho, seja como observadora ou, possivelmente, com um ou mais assentos, de acordo com uma fonte. Embora Altman tenha concordado em não assumir um assento no conselho inicialmente para que o negócio fosse fechado, ele provavelmente também se juntará ao grupo eventualmente, segundo outra fonte.

Outros investidores, além da Microsoft, ficaram indignados com a decisão da diretoria. Entre eles, Vinod Khosla, da Khosla Ventures.

"Não conversei com os membros do conselho que participaram" da decisão de demitir Altman, disse Khosla na quarta-feira em uma entrevista à Bloomberg Technology:

- Acho que é um comportamento errôneo por parte deles.

O investidor da OpenAI, Vinod Khosla, disse que a demissão de Sam Altman pelo conselho foi um “comportamento errôneo por parte deles” — Foto: Bloomberg

Tasha McCauley, da GeoSim Systems, e Helen Toner, diretora do Centro de Segurança e Tecnologia Emergente de Georgetown, que faziam parte do antigo conselho, se recusaram a comentar sobre a demissão e suas consequências. Altman também se recusou a comentar, mas concordou com uma investigação interna sobre a conduta que levou à sua demissão, disse outra fonte.

Já Ilya Sutskever, cofundador e cientista-chefe da OpenAI que também integrava o conselho, - que é renomado no campo da IA, desde sua pesquisa na Universidade de Toronto -, mais tarde pediu desculpas por seu papel na demissão de Altman e chegou a assinar uma carta ameaçando deixar a startup a menos que o conselho renunciasse.

A pesquisa inovadora para a qual Sutskever contribuiu é creditada por ajudar a inaugurar a era moderna da IA. Um advogado de Sutskever disse que o executivo está "entusiasmado com o fato de Sam estar de volta como CEO" e disse que ele continua empregado na empresa.

"Admiro muito Ilya" por ter mudado de ideia, disse Khosla. Ele "absolutamente" merece uma segunda chance, acrescentou.

Empreendimentos externos

Uma das grandes questões para a OpenAI é até que ponto Altman poderá continuar a se dedicar a empreendimentos externos. Nos meses que antecederam sua saída da empresa, ele estava viajando pelo mundo para levantar bilhões de dólares de alguns dos maiores investidores do mundo para um novo empreendimento de chips, com o codinome Tigris, disseram pessoas com conhecimento do assunto.

A ideia era criar uma empresa de chips com foco em IA que pudesse produzir semicondutores para competir com os da Nvidia, que atualmente domina o mercado de processadores de inteligência artificial, disseram essas pessoas.

Altman também está procurando levantar fundos para um dispositivo de hardware voltado para IA que ele vem desenvolvendo em conjunto com o ex-chefe de design da Apple, Jony Ive.

Esses projetos paralelos serão outra questão que o conselho terá de considerar quando ele voltar a ocupar o cargo de CEO.

"Sam tem amplos interesses e amplos investimentos", disse Nadella, da Microsoft.

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