A figurinista Mariana Sued está habituada a trabalhos grandiosos, como desenvolver as roupas usadas em novelas da TV Globo, onde atuou por 17 anos. Recentemente, porém, assumiu um desafio inédito, que a fez desabafar com a própria mãe, algumas vezes. "Se eu precisar fugir do país, você me ajuda?", ela dizia. A fuga seria necessária caso algo desse errado com a fantasia de Paolla Oliveira, à frente da bateria da Acadêmicos do Grande Rio. Mas, como se sabe, o resultado foi exatamente o contrário. Não só deu tudo certo, como a roupa de onça foi uma das mais elogiadas do carnaval.
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Convidada pela consultora de dramaturgia Raphaela Leite, Mariana começou os trabalhos em setembro do ano passado, em parceria com Bruno Oliveira. Além da fantasia oficial, ela desenvolveu diferentes looks usados pela atriz em sua agenda carnavalesca. Tudo pensado a partir de um estudo aprofundado sobre o enredo da agremiação de Duque de Caxias, "Nosso destino é ser onça".
O tema escolhido pela escola foi inspirado no livro homônimo do escritor Alberto Mussa, que traz o mito tupinambá da criação do mundo de um modo restaurado. "Estudamos a mitologia e lemos o livro. Depois, definimos os macrotemas e uma linha cronológica, já que cada look contava uma história. De algum modo, estávamos em sintonia com a escola. A primeira roupa usada por ela foi toda preta, para representar o nada, assim como a Grande Rio chegou à Avenida. Depois, veio o fogo, a água...", relembra Mariana.
Segundo a figurinista, foram feitos mais de 60 croquis para dar conta de tamanha demanda, sendo que a roupa do desfile foi finalizada no corpo de Paolla Oliveira, já que não havia tule para sustentar as faixas que compõem a fantasia. Até o modelo final, segundo ela, foram feitas oito versões diferentes. "Eu tinha total noção da seriedade do trabalho. Não podia dar errado de jeito nenhum. Afinal, se algo falhasse na Avenida, não daria para "filmar de novo", como acontece nas novelas e nos filmes", diz Mariana, que já assinou os figurinos de folhetins como "Deus salve o rei" e "Verdades secretas" 2, da TV Globo, e do filme "As polacas". "Comparo uma rainha de bateria a uma noiva. Não dá para errar na roupa delas de jeito nenhum."
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Definida a fantasia, conta Mariana, coube a Bruno desenvolver a cabeça que se abaixava, transformando a atriz numa onça de olhos fulminantes. Ela também diz que Paolla ensaiou com um protótipo para aguentar o tranco. Afinal, o equipamento pesava cerca de três quilos e ela nunca havia cruzado a Sapucaí com algo do tipo. "Deu para manter a tranquilidade porque, quando começaram as provas, vimos que estava dando certo", narra. "Quando chegamos no desfile, alguém me perguntou se eu estava nervosa, e respondi que estava em estado de suspensão. Só acreditava que tudo daria muito certo."
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A experiência de Paolla com o carnaval, ressalta a figurinista, também contou muitos pontos. Afinal, ela sabia exatamente o que funcionava ou não e usou isso para orientar toda a equipe. Ela ajudou a escolher também a estampa de onça ideal para a fantasia que, ao fim do processo, recebeu uma camada de cristais bordados. "É muito difícil conseguir dar leitura em um pedaço tão pequeno de pano", explica Mariana.
Mas o público não só viu, como aplaudiu. Paolla e sua equipe fizeram história na Avenida.