Apenas um quarto das embaixadas em Brasília é chefiado por mulheres, aponta levantamento inédito

Mulheres em chefias de embaixadas e consulados brasileiros também são minoria lá fora; conheça seis embaixadoras recém-chegadas ao Brasil

Por — Brasília


Bettina Cadenbach, embaixadora da Alemanha em Brasília; Aminata Fall Cisse, embaixadora do Senegal em Brasília; Marian Schuegraf, embaixadora da União Europeia no Brasil; Gloria Corina Anak Peter Tiwet, embaixadora da Malásia em Brasília Brenno Carvalho / Agência O Globo

A desigualdade de gênero se reflete em uma das atividades mais antigas e charmosas da História da Humanidade: a diplomacia. Em Brasília, das 121 embaixadas, apenas 34 são chefiadas por mulheres — ou seja, pouco mais de um quarto —, mostra levantamento feito pelo GLOBO. As europeias estão em maior número e proporção: de 39 postos, 15 têm embaixadoras. As Américas somam sete; a África, cinco; e a Ásia, três.

No Brasil, a situação não é diferente. As mulheres em chefias de embaixadas e consulados brasileiros lá fora são minoria. Das 118, apenas 20 possuem comando feminino. Em consulados, são 11, de um total de 47. Diretora-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Julia Dias Leite afirma que, embora o quadro ainda precise ser alavancado, a situação vem mudando de forma positiva: “Espero que o Itamaraty continue nesse caminho de reconhecimento da competência das brasileiras”, diz ela, primeira mulher à frente do Cebri. “O governo tem de estar empenhado no estudo de políticas institucionais que aumentem a representatividade feminina.”

Em 2023, no primeiro ano do mandato do governo Lula, seis estrangeiras vieram para Brasília representar seus países: Bettina Cadenbach (Alemanha), Elizabeth Bagley (EUA), Marian Schuegraf (União Europeia), Pavla Havrlíková (República Tcheca), Gloria Tiwet (Malásia) e Aminata Fall Cissé (Senegal). Com exceção da senegalesa, todas substituíram homens. São mulheres com estilos diferentes, mas que mantêm a discrição, como manda o script do cargo, e tentam aproveitar a capital e o país.

A embaixadora da República Tcheca, Pavla Havrlíková, veio a Brasília com duas filhas e o marido, que abriu mão da carreira para acompanhá-la. “O mais importante sempre foi o fato de estarmos juntos. E, morando no exterior, minhas filhas aprenderam a viver num ambiente multicultural, sem preconceitos raciais ou religiosos”. Ela afirma que não é fácil conciliar os papéis de mãe, esposa e diplomata no Brasil, um país de grandes dimensões: “Tento aproveitar ao máximo meus momentos livres, para estar junto com minha família.”

Elizabeth Bagley, embaixadora dos Estados Unidos, substituiu Todd Chapman e se diz apaixonada pela cultura brasileira. No primeiro jantar em sua casa, no ano passado, reuniu Gilberto Gil e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso. Ciente da necessidade de valorização do futebol feminino no Brasil, um dos seus planos é trazer integrantes de equipes de futebol dos EUA para trabalhar em conjunto com as jogadoras brasileiras.

“Os desafios ao exercício da profissão são frequentes, e a recomendação é se preparar para o inesperado e estar à altura das expectativas em torno da tarefa”. É o que afirma Gloria Tiwet, embaixadora da Malásia. Assim como as demais colegas, chegar à diplomacia foi a realização de um sonho para ela, que teve de pagar o preço de deixar para trás família e amigos, ao assumir postos no exterior. “O período mais triste é quando há o falecimento de um ente querido”, diz ela, que está no Brasil com o marido.

Embaixadora do Senegal, Aminata Fall Cissé, ao longo de sua carreira, teve de trabalhar em um ambiente predominantemente masculino. Ela ressalta que, em seu país, os direitos das mulheres são reconhecidos pela Constituição, pelas leis e em regulamentos. A paridade é aplicada a todos os cargos eletivos, seja no Parlamento ou nos conselhos municipais. “As mulheres também ocupam os mais altos cargos na administração, na política e no sistema judicial”, completa.

Já a alemã Bettina Cadenbach carrega a mensagem de que seu país quer “moldar um futuro” junto com o Brasil. “De igual para igual”, frisa. A também alemã Marian Schuegraf, da União Europeia, aproveita as horas vagas para vivenciar Brasília: anda de moto pelas espaçosas ruas, pesca e passeia de caiaque no Lago Paranoá.

Única embaixadora do governo Lula que substituiu uma mulher (Fatoumata Binetou), Aminata Fall diz que o que mais gosta é o calor humano nas relações, tanto diplomáticas quanto de amizade. “O Brasil é um país que tem uma influência definitiva no funcionamento do mundo”, afirma.

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