A morte de Pelé, o Rei do Futebol: ex-jogador travou batalha contra câncer, relembre

Ex-jogador não resistiu às complicações de um câncer e teve a morte anunciada neste sábado; ele deixa o legado de ter liderado a mudança de status do futebol brasileiro no mundo

Por Redação do GLOBO — Rio de Janeiro


Pelé voa para marcar um gol nas eliminatórias da Copa de 1970 Arquivo O Globo

Depois de meses lutando contra o câncer, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, considerado o maior jogador de futebol de todos os tempos e o brasileiro mais conhecido do mundo, morreu nesta quinta-feira, aos 82 anos. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, desde o dia 29 de novembro e, nos últimos dias, não respondia ao tratamento de quimioterapia. Estava sob cuidados paliativos, recebendo medidas de conforto, para aliviar a dor. Também precisou de cuidados relacionados às disfunções renal e cardíaca. Pelé estava na companhia de seus filhos e netos em um quarto.

Identificado inicialmente no cólon (uma parte do intestino grosso), o câncer com o tempo se espalhou pelo organismo e chegou ao fígado e pulmão. Os rins e o coração também já estavam com o funcionamento afetado.

De Edson a Pelé, o rei do futebol

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Longa luta

A saúde do Rei era motivo de preocupação desde agosto do ano passado, quando ele foi internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, após exames de rotina detectarem um tumor no cólon. Por meio de suas redes sociais, Pelé negou que tivesse desmaiado como havia sido noticiado e informou que havia dado entrada na unidade para fazer exames periódicos. "Estou muito bem de saúde", dizia parte da mensagem. Dias depois, em 4 de setembro, ele passou por cirurgia para a retirada do tumor.

Em dezembro, o ex-atleta voltou ao hospital para dar continuidade ao tratamento. Em suas redes, o Rei comunicou que faria a última sessão de quimioterapia do ano, além de uma nova bateria de exames. Posteriormente, ele apareceu em fotos em casa e chegou até a gravar mensagem em vídeo destinada a Cristiano Ronaldo para uma homenagem no evento "The Best", da Fifa.

Em janeiro, Pelé precisou de uma nova internação para dar sequência ao tratamento do tumor de cólon. Foi nesta visita que o corpo médico diagnosticou o câncer metastático. Ou seja: com avanço generalizado.

Pelé no hospital ao lado de sua filha Kely Nascimento — Foto: Reprodução/Instagram

Nos últimos anos, Pelé também passou por cirurgias no quadril, procedimentos que dificultavam, principalmente, sua locomoção. Desde 2017, pelo menos, recorria ao auxílio de uma cadeira de rodas - e por isso evitava aparecer em eventos públicos. Em fevereiro de 2020, Edinho, um dos filhos do Rei, disse que o pai estava "um pouco" abatido em função do problema.

A última entrada de Pelé no Einstein, em 29 de novembro, foi para reavaliação da quimioterapia e tratamento de uma infecção respiratória. Ao contrário das internações anteriores, o ex-jogador não recebeu alta em poucos dias, o que já ligou um alerta no mundo do futebol para a gravidade da situação. Na última terça, o hospital tornou público que o Rei apresentara "progressão da doença oncológica e requer maiores cuidados relacionados às disfunções renal e cardíaca".

O estado de saúde de Pelé gerou comoção na Copa do Mundo do Catar. Durante o evento, a Fifa reservou uma homenagem a ele. De forma orquestrada, drones formaram no céu uma mensagem de apoio ("Pelé, fique bem logo") que pôde ser vistapelo público em Doha e que viralizou na internet. Em alguns jogos da seleção brasileira, tanto a torcida, nas arquibancadas, quanto os jogadores, em campo, estenderam faixas dedicadas ao Rei.

Torcida brasileira estende bandeirão em homenagem a Pelé antes do jogo contra Camarões, pela Copa do Catar — Foto: Giuseppe Cacace/AFP

O legado do Rei

Pelé encantou o mundo com seus gols, dribles e títulos. Foi o único jogador a vencer três vezes a Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970), além de ter sido eleito sete vezes o melhor do mundo pela revista "France Football".

Entre as Copas de 1958 e 1970, o craque brasileiro anotou 12 gols. Apenas cinco jogadores homens marcaram mais que o tricampeão em Mundiais: Miroslav Klose (16), Ronaldo (15), Gerd Müller (14) e Just Fontaine (13). No Catar, o argentino Lionel Messi entrou para este seleto grupo ao marcar seu 13º na decisão contra a França.

Consciente, Pelé assistiu à final do quarto do hospital e chegou a parabenizar os hermanos e seu camisa 10 por meio das redes sociais. Assim como Mbappé, que conseguiu a façanha de marcar um hat-trick no jogo decisivo e igualou o número de gols do Rei com apenas 23 anos.

Pelé também foi um dos poucos a ter anotado mais de mil gols na carreira — foram 1.281 no total. Segundo a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS, na sigla em inglês), ele é o maior goleador da história do futebol.

O Rei marcou seu milésimo gol em 1969, de pênalti, em uma partida do Santos contra o Vasco, no Maracanã. Apenas com a camisa do clube paulista, ele balançou as redes adversárias 1.091 vezes. Com a seleção brasileira, somando jogos oficiais e amistosos, foram 95 gols.

Pelé, um rei com súditos pelo mundo

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Já no fim de carreira, quando atuou pelo Cosmos, o craque anotou outros 64 gols. Os demais 32 gols que Pelé marcou foram por combinados: seleção paulista, time misto de Santos e Vasco, seleção do Exército e seleção do Sudeste.

Ídolo do Santos, Pelé mudou o clube de patamar e o tornou um dos grandes de São Paulo e do país ao participar da conquista de alguns de seus principais títulos, como os dois Mundiais e as duas primeiras Libertadores (1962 e 1963). Em mais de duas décadas, o ajudou a erguer mais de 40 troféus. Também popularizou marcas próprias, como a camisa 10, que se tornou um símbolo no futebol.

Fora dos gramados, Pelé foi designado Embaixador Mundial do Futebol pela Fifa e eleito o Atleta do Século pelo Comitê Olímpico Internacional, embora nunca tenha disputado uma Olimpíada. Ele também era Cidadão do Mundo, prêmio que recebeu da ONU em 1977, e Embaixador da Boa Vontade, honraria da Unesco desde 1993.

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