Pelé parou ou não uma guerra civil na África? Entenda a história e o debate sobre as versões

Santos defende que paralisou conflito com a presença do Rei, enquanto historiador acredita que clube foi usado como propaganda do governo nigeriano

Por Marcello Neves — Rio de Janeiro (RJ)


Pelé parou ou não uma guerra civil na África Editoria de Arte

Um episódio da vitoriosa carreira de Pelé gera controvérsia até hoje. O Rei teria mesmo parado uma guerra civil na África? O Santos defende que o amistoso na Cidade de Benin, na Nigéria, em 1969, foi um feito histórico, mas historiadores asseguram que o clube, na verdade, foi usado como peça de propaganda por parte do governo do país.

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A história, com trechos publicados no site oficial do Santos, aconteceu durante a sangrenta Guerra de Biafra, que começou em 1967 e foi até 1970, provocando a morte de mais de dois milhões de pessoas. Havia tanta comoção por conta da violenta repressão do governo nigeriano ao movimento separatista da província de Biafra que artistas como Joan Baez, Jimi Hendrix e John Lennon, autoridades como o Papa Paulo VI e organizações como a ONU tentaram conter o conflito.

Então, o Santos foi convidado para disputar um amistoso na Cidade de Benin para aliviar os ânimos — e a presença de Pelé seria fundamental para isso. Para que a equipe pudesse chegar ao Estádio Ogbe com segurança, o governo nigeriano teria decretado um cessar-fogo.

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Nesta partida, os santistas venceram por 2 a 1. Na turnê pelo continente africano, o Santos realizou nove jogos, teve cinco vitórias, três empates e uma derrota. Foram marcados 19 gols, e Pelé foi o artilheiro com oito gols feitos. Com a volta da equipe santista para o Brasil, a guerra teria continuado.

Essa versão, porém, é refutada pelo historiador José Paulo Florenzano, que fez pesquisa de pós-doutorado na USP sobre as viagens à África feitas pelo Santos.

— A minha tese é que o Santos não interrompeu uma guerra civil na Nigéria. Ele não só não interrompeu a guerra, como na verdade foi utilizado como peça de propaganda pelo governo militar da Nigéria contra a república separatista de Biafra. No momento em que o Santos joga na Cidade de Benin, o território de Biafra encontra-se reduzido a um quarto do que era originalmente quando declarou a secessão. Não tinha saída para o mar. Estava cercado territorialmente, com o espaço aéreo vigiado. Do outro lado do rio Níger, a mais de cem quilômetros de distância, nós temos a Cidade de Benin. Não havia um exército disputando militarmente o controle daquela cidade. Tampouco o entorno. Nem sequer a região onde ela está inserida, que é o estado do centro-oeste, estava ameaçado — disse em entrevista à "ESPN"

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—  Portanto, a tese, segundo a qual foi necessário um cessar-fogo para que o Santos jogasse na Cidade de Benin, do ponto de vista dos dados reunidos nessa pesquisa, não se sustenta.

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