Guerrero, Dodô, Fred: pegos no doping, outros atletas receberam penas menores que Gabigol; entenda

Atacante do Flamengo respondeu por infração ao artigo 122 do Código Brasileiro Antidopagem, cuja pena poderia chegar a quatro anos de suspensão

Por O Globo — Rio de Janeiro


Atletas como Guerrero, Dodô, Fred foram pegos no doping, mas receberam penas menores que Gabigol Reprodução

O atacante Gabigol, do Flamengo, foi suspenso por dois anos por fraude ou tentativa de fraude de qualquer parte do processo de controle antidopagem, no Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD/AD). Ele respondeu por infração ao artigo 122 do Código Brasileiro Antidopagem (CBA), cuja pena poderia chegar a quatro anos de suspensão.

— Os precedentes da Corte de Arbitragem do Esporte sobre o que constitui fraude ou tentativa de fraude se distanciam muito das atitudes atribuídas ao atleta neste caso. Estamos confiantes de que o CAS reformará essa decisão — disse Bichara ao GLOBO. A votação foi apertada: 5 votos a 4 contra o atleta. Sua equipe vai recorrer a Corte Arbitral do Esporte (CAS).

Com a punição, Gabigol está fora da final do Carioca, neste sábado. A pena dada ao jogador é maior do que outras já atribuídas a atletas. Isso se deve ao fato de ele ter incorrido no artigo que trata de "Fraude ou tentativa de fraude de qualquer parte do processo de controle de dopagem por um atleta ou outra pessoa", que prevê "suspensão de quatro anos", diferente dos demais atletas, punidos apenas pelo teste positivo para as substâncias.

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Casos de suspensão por doping não são raros no Brasil, com atletas de grandes clubes já tendo sofrido punições. Em um dos episódios mais recentes, o atacante Paolo Guerrero, atualmente no Universidad César Vallejo, do Peru, ficou mais de nove meses sem poder jogar após ter sido suspenso do futebol, em novembro de 2017, flagrado em exame antidoping, quando testou positivo para um metabólito da cocaína, em jogo pela seleção peruana nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018.

Paolo Guerrero, durante sua passagem pelo Flamengo — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

Ele e a defesa alegavam que houve contaminação em um chá tomado na concentração. Depois de julgado, Guerrero foi punido por seis meses e, na última instância, por 14 meses, o que o tiraria da Copa do Mundo da Rússia. Contudo, o atacante conseguiu um efeito suspensivo para disputar o Mundial, poucos dias antes da estreia, e, no total, ficou oito meses parado.

Manoel

O zagueiro Manoel no treino do Fluminense — Foto: MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE F.C.

Em caso mais recente, o zagueiro Manoel, do Fluminense, foi suspenso por oito meses do futebol por presença da substância ostarina em exame antidoping realizado após a partida contra o River Plate-ARG, no dia 2 de maio do ano passado, no Maracanã, pela fase de grupos da Libertadores. Ele nem havia entrado em campo na partida, mas foi sorteado pela Conmebol para fazer o exame.

Após um longo período inativo, o defensor 34 anos voltou a ser relacionado pelo Fluminense em fevereiro.

Fred

Fred reage após se lesionar na partida contra Camarões — Foto: Jewel SAMAD / AFP

O volante Fred, que atualmente está no Fenerbahçe, foi suspenso por doping em 2015, quando ainda atuava no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Ele foi flagrado no exame antidoping divulgado depois da Copa América daquele ano para o diurético hidroclorotiazida. Fred foi punido pela Conmebol em dezembro de 2015 por 12 meses.

Em fevereiro do ano seguinte, a Fifa deu seu parecer sobre o caso e estendeu a punição a nível mundial. Fred voltou a jogar em julho de 2016, mas a Agência Mundial de Antidoping ("WADA", na sigla em inglês) apelou à Fifa e conseguiu fazer com que ele cumprisse mais cinco meses de gancho. Ao todo, ele ficou praticamente um ano sem poder entrar em campo: de dezembro de 2015 a junho de 2016; e de fevereiro a julho de 2017.

Dodô

Quando atuava no Botafogo, o atacante Dodô foi pego em um exame antidoping após duelo contra o Vasco — Foto: Reprodução

Quando atuava no Botafogo, o atacante Dodô foi pego em um exame antidoping após duelo contra o Vasco, válido pelo Campeonato Brasileiro de 2007, e que resultou na suspensão do atleta por 120 dias, veredito do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Na ocasião, o teste do atacante deu positivo para a substância femproporex.

Porém, após cumprir 25 dias da pena, Dodô foi absolvido pelo Tribunal Pleno da entidade, o que acabou levando o caso ao CAS. No ano seguinte, a Corte Arbitral do Esporte (CAS) fez uma revisão do caso e condenou Dodô a dois anos fora dos gramados.

Jobson (Botafogo)

Jobson foi pego no exame antidoping e suspenso por dois anos. Após novo julgamento, pena foi diminuída para seis meses — Foto: Divulgação

Também enquanto defendia o Botafogo, em 2009, Jobson foi pego no exame antidoping em duas partidas do Campeonato Brasileiro, e foi suspenso por dois anos. O teste deu positivo para substâncias presente na cocaína e o próprio atleta confessou, na época, ter usado crack. Após novo julgamento no ano seguinte, a pena foi diminuída para seis meses e o atleta retornou aos gramados em julho de 2010.

Entre 2015 e 2018, Jobson recebeu nova suspensão da Fifa, desta vez ele foi acusado pelo clube saudita Al-Ittihad de se recusar a fazer exame antidoping. A pena imposta pela Federação Saudita de Futebol, posteriormente acabou se tornando mundial por determinação da Fifa.

Punição a Gabigol

O julgamento foi realizado de forma remota, e Gabigol foi defendido pelo especialista Bichara Neto. Daniel Chierighini Barbosa, auditor do TJD/AD, foi o relator.

A pena contará a partir do dia 8 de abril de 2023, data da coleta realizada no CT do clube. Ou seja, o afastamento será de cerca de um ano se ele não conseguir reverter o quadro no CAS. Isso porque, o tribunal entendeu ter havido uma demora no processamento do caso não atribuível ao atleta. Assim, retroagiram o início da contagem da pena.

O julgamento havia começado na segunda-feira passada e durou cerca de 5 horas. Foi interrompido por causa da demora (se estendeu até 19h) e pela indisponibilidade de alguns auditores. Foi retomado nesta segunda-feira, às 14 horas, com as "alegações finais" e os nove votos dos membros do Pleno do TJD/AD. Ao todo, o julgamento teve cerca de 8 horas. Ele foi julgado pelo Pleno do TJD/AD por ser um "atleta de nível internacional".

Estilo Gabigol

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Em nota publicada minutos após a decisão do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD/AD), o Flamengo disse estar "surpreso" com a pena recebida pelo atacante e afirmou que auxiliará o atleta na apresentação de recurso ao CAS:

"O Clube de Regatas do Flamengo, tomando conhecimento do resultado do julgamento do seu atleta Gabriel Barbosa, no sentido de aplicação de pena de suspensão de 2 anos, até abril de 2025, por 5 votos pela condenação e 4 pela absolvição, vem a público dizer que recebeu com surpresa a referida decisão e que auxiliará o atleta na apresentação de recurso à Corte Arbitral do Esporte (CAS), uma vez que entende que não houve qualquer tipo de fraude, nem mesmo tentativa, a justificar a punição aplicada."

Por que Gabigol foi suspenso?

A peça de acusação considerava que Gabigol tentou deliberadamente impedir o controle antidoping realizado pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) e ainda atrasou as coletas de sangue e urina, que foram feitas de maneira surpresa, no CT do clube, em 8 de abril.

Consta no processo que Gabigol tentou esconder a genitália na hora de urinar no pote e foi agressivo com os oficiais responsáveis pelo exame. Ao urinar "escondido", sem permitir que o fiscal visualizasse a urina saindo do seu pênis, Gabigol deu brecha para ser denunciado por tentativa de fraudar o antidoping.

Gabigol suspenso:

Além disso, o atleta se recusou a fazer a coleta de sangue logo que chegou para o treino. Outros atletas também se submeteram aos exames e estavam posicionados na estação de coleta, logo cedo, quando os oficiais de coleta chegaram no local. Gabigol foi o único que não realizou o exame de sangue antes do treino.

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