Já se passaram cerca de 250 milhões de anos desde que animais semelhantes a répteis evoluíram para mamíferos. Agora, uma equipe de cientistas prevê que os mamíferos poderão ter apenas mais 250 milhões de anos. O estudo foi publicado nesta segunda-feira na revista Nature Geoscience.
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Os investigadores construíram uma simulação virtual do nosso mundo futuro, semelhante aos modelos que projetaram o aquecimento global causado pelo homem durante o próximo século. Utilizando dados sobre o movimento dos continentes em todo o planeta, bem como flutuações na composição química da atmosfera, o novo estudo projetou um futuro bem mais distante.
Alexander Farnsworth, cientista paleoclimático da Universidade de Bristol, que liderou a equipe, disse que o planeta pode ficar quente demais para que qualquer mamífero — inclusive nós — sobreviva. Os investigadores descobriram que o clima se tornará mortal graças a três fatores: um sol mais brilhante, uma mudança na geografia dos continentes e aumento no dióxido de carbono.
— É um golpe triplo que se torna impossível de sobreviver — disse Farnsworth.
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Os cientistas vêm tentando há décadas prever o destino da vida na Terra. Os astrônomos esperam que o nosso sol se torne cada vez mais brilhante e, em cerca de 7,6 bilhões de anos, possa engolir o planeta. Mas a vida provavelmente não durará tanto tempo. À medida que o sol lança mais energia no planeta, a atmosfera da Terra aquece, fazendo com que mais água evapore dos oceanos e continentes. O vapor de água é um potente gás de efeito estufa e, portanto, reterá ainda mais calor. Pode ficar quente o suficiente em dois bilhões de anos para evaporar todos os oceanos.
Em 2020, Farnsworth voltou sua atenção para o futuro da Terra como uma forma de se distrair durante a pandemia. E se deparou com um estudo que previa como os continentes se movimentariam ao redor do planeta num futuro distante.
Supercontinente
Ao longo da história da Terra, as suas massas terrestres colidiram para formar supercontinentes, que depois se partiram. O último supercontinente, a Pangeia, existiu há entre 330 milhões e 170 milhões de anos. O estudo previu que um novo supercontinente, denominado Pangeia Ultima, se formará ao longo do Equador daqui a 250 milhões de anos.
Sob uma série de condições geológicas e atmosféricas possíveis, os investigadores descobriram que a Pangeia Ultima será muito mais quente do que os continentes atuais. Uma razão para a mudança drástica é o sol. A cada 110 milhões de anos, a energia liberada pelo sol aumenta 1%.
Mas o supercontinente irá piorar as coisas. Por um lado, a terra aquece mais rápido que o oceano. Com os continentes comprimidos numa massa terrestre gigante, haverá um vasto interior onde as temperaturas poderão subir.
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A Pangeia Ultima também influenciará o clima graças à sua topografia, que incluirá vastas extensões de terras planas longe do oceano. Na Terra de hoje, a água da chuva e o dióxido de carbono reagem com os minerais nas encostas das montanhas e colinas, que depois são transportados para o mar e caem no fundo do mar. O resultado é que o dióxido de carbono é constantemente retirado da atmosfera. Mas essa engrenagem transportadora irá desacelerar no supercontinente.
Extinção em massa
Se a Pangeia Ultima se comportar como os supercontinentes anteriores, ficará repleta de vulcões que expelem dióxido de carbono, segundo o estudo. Graças aos movimentos turbulentos da rocha derretida nas profundezas da Terra, os vulcões poderão libertar grandes ondas de dióxido de carbono durante milhares de anos — explosões de gases com efeito de estufa que farão com que as temperaturas subam vertiginosamente.
Atualmente, os humanos aquecem o planeta libertando mais de 40 bilhões de toneladas de carbono provenientes de combustíveis fósseis todos os anos. Se o aquecimento global continuar, os biólogos temem que isso leve à extinção de uma série de espécies, enquanto as pessoas não conseguirão sobreviver ao calor e à umidade em grandes áreas do planeta.
No Pangeia Ultima, concluíram os pesquisadores, a situação provavelmente ficará muito pior para mamíferos como nós. Os investigadores descobriram que quase todo o supercontinente poderia facilmente se tornar quente demais para qualquer mamífero sobreviver — eles podem ser extintos em massa.
Farnsworth admitiu, no entanto, que alguns poderiam sobreviver em refúgios nas periferias, no norte e no sul do supercontinente. Eles poderiam ser substituídos por répteis de sangue frio que tolerassem melhor o calor.
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Wolfgang Kiessling, cientista climático da Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, que não fez parte da equipe, disse que o modelo não levou em conta um fator que pode significar muito para a sobrevivência dos mamíferos: o declínio gradual da calor escapando do interior da Terra. Esse declínio pode levar a menos erupções vulcânicas e a menos dióxido de carbono na atmosfera.
— Os mamíferos podem sobreviver um pouco mais do que o modelado, talvez 200 milhões de anos, mais ou menos.
Eric Wolf, outro cientista climático, da Universidade do Colorado, que também não esteve envolvido no novo estudo, afirma que a investigação poderá ajudar a detectar vida noutros planetas. À medida que os cientistas começam a utilizar poderosos telescópios espaciais para observar planetas em outros sistemas solares, poderão ser capazes de medir a sua disposição continental para inferir que tipos de vida poderão sobreviver ali.
— Estamos tentando nos preparar para os muitos mundos que veremos.