Tempo dos mamíferos na Terra já passou da metade, preveem cientistas

Novo estudo sugere que dentro de 250 milhões de anos, toda a terra se transformará em supercontinente que aumentará o aquecimento e levará mamíferos à extinção

Por , Em The New York Times — Washington


Para aliviar o calorão, picolés refrescam animais do BioParque do Rio Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Já se passaram cerca de 250 milhões de anos desde que animais semelhantes a répteis evoluíram para mamíferos. Agora, uma equipe de cientistas prevê que os mamíferos poderão ter apenas mais 250 milhões de anos. O estudo foi publicado nesta segunda-feira na revista Nature Geoscience.

Os investigadores construíram uma simulação virtual do nosso mundo futuro, semelhante aos modelos que projetaram o aquecimento global causado pelo homem durante o próximo século. Utilizando dados sobre o movimento dos continentes em todo o planeta, bem como flutuações na composição química da atmosfera, o novo estudo projetou um futuro bem mais distante.

Alexander Farnsworth, cientista paleoclimático da Universidade de Bristol, que liderou a equipe, disse que o planeta pode ficar quente demais para que qualquer mamífero — inclusive nós — sobreviva. Os investigadores descobriram que o clima se tornará mortal graças a três fatores: um sol mais brilhante, uma mudança na geografia dos continentes e aumento no dióxido de carbono.

— É um golpe triplo que se torna impossível de sobreviver — disse Farnsworth.

Os cientistas vêm tentando há décadas prever o destino da vida na Terra. Os astrônomos esperam que o nosso sol se torne cada vez mais brilhante e, em cerca de 7,6 bilhões de anos, possa engolir o planeta. Mas a vida provavelmente não durará tanto tempo. À medida que o sol lança mais energia no planeta, a atmosfera da Terra aquece, fazendo com que mais água evapore dos oceanos e continentes. O vapor de água é um potente gás de efeito estufa e, portanto, reterá ainda mais calor. Pode ficar quente o suficiente em dois bilhões de anos para evaporar todos os oceanos.

Em 2020, Farnsworth voltou sua atenção para o futuro da Terra como uma forma de se distrair durante a pandemia. E se deparou com um estudo que previa como os continentes se movimentariam ao redor do planeta num futuro distante.

Antes das 8h, na praia do Leme, o barraqueiro Gabriel Oliveira bebe água de coco antes de um domingo de trabalho sob calor intenso — Foto: Gabriel de Paiva/ Agência O Globo

Supercontinente

Ao longo da história da Terra, as suas massas terrestres colidiram para formar supercontinentes, que depois se partiram. O último supercontinente, a Pangeia, existiu há entre 330 milhões e 170 milhões de anos. O estudo previu que um novo supercontinente, denominado Pangeia Ultima, se formará ao longo do Equador daqui a 250 milhões de anos.

Sob uma série de condições geológicas e atmosféricas possíveis, os investigadores descobriram que a Pangeia Ultima será muito mais quente do que os continentes atuais. Uma razão para a mudança drástica é o sol. A cada 110 milhões de anos, a energia liberada pelo sol aumenta 1%.

Mas o supercontinente irá piorar as coisas. Por um lado, a terra aquece mais rápido que o oceano. Com os continentes comprimidos numa massa terrestre gigante, haverá um vasto interior onde as temperaturas poderão subir.

A Pangeia Ultima também influenciará o clima graças à sua topografia, que incluirá vastas extensões de terras planas longe do oceano. Na Terra de hoje, a água da chuva e o dióxido de carbono reagem com os minerais nas encostas das montanhas e colinas, que depois são transportados para o mar e caem no fundo do mar. O resultado é que o dióxido de carbono é constantemente retirado da atmosfera. Mas essa engrenagem transportadora irá desacelerar no supercontinente.

Extinção em massa

Se a Pangeia Ultima se comportar como os supercontinentes anteriores, ficará repleta de vulcões que expelem dióxido de carbono, segundo o estudo. Graças aos movimentos turbulentos da rocha derretida nas profundezas da Terra, os vulcões poderão libertar grandes ondas de dióxido de carbono durante milhares de anos — explosões de gases com efeito de estufa que farão com que as temperaturas subam vertiginosamente.

Atualmente, os humanos aquecem o planeta libertando mais de 40 bilhões de toneladas de carbono provenientes de combustíveis fósseis todos os anos. Se o aquecimento global continuar, os biólogos temem que isso leve à extinção de uma série de espécies, enquanto as pessoas não conseguirão sobreviver ao calor e à umidade em grandes áreas do planeta.

No Pangeia Ultima, concluíram os pesquisadores, a situação provavelmente ficará muito pior para mamíferos como nós. Os investigadores descobriram que quase todo o supercontinente poderia facilmente se tornar quente demais para qualquer mamífero sobreviver — eles podem ser extintos em massa.

Farnsworth admitiu, no entanto, que alguns poderiam sobreviver em refúgios nas periferias, no norte e no sul do supercontinente. Eles poderiam ser substituídos por répteis de sangue frio que tolerassem melhor o calor.

Wolfgang Kiessling, cientista climático da Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, que não fez parte da equipe, disse que o modelo não levou em conta um fator que pode significar muito para a sobrevivência dos mamíferos: o declínio gradual da calor escapando do interior da Terra. Esse declínio pode levar a menos erupções vulcânicas e a menos dióxido de carbono na atmosfera.

— Os mamíferos podem sobreviver um pouco mais do que o modelado, talvez 200 milhões de anos, mais ou menos.

Eric Wolf, outro cientista climático, da Universidade do Colorado, que também não esteve envolvido no novo estudo, afirma que a investigação poderá ajudar a detectar vida noutros planetas. À medida que os cientistas começam a utilizar poderosos telescópios espaciais para observar planetas em outros sistemas solares, poderão ser capazes de medir a sua disposição continental para inferir que tipos de vida poderão sobreviver ali.

— Estamos tentando nos preparar para os muitos mundos que veremos.

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