Guga Chacra: ataque de magnitude inédita do Hamas atinge um Estado de Israel vulnerável
Episódio de hoje, diz colunista do GLOBO, é histórico e divisor de águas no conflito entre Israel e os palestinos
Por Guga Chacra— Nova York
Israelenses dormiram no sábado sem imaginar que poderiam ser alvo da maior ofensiva militar de uma organização palestina na história. Embora ainda não estejam claros os acontecimentos, a magnitude dos ataques do Hamas é inédita. Ninguém previa que o grupo, e seus aliados, possuíssem a capacidade de atacar de uma forma tão bem planejada e bem-sucedida os israelenses. É um divisor de águas. Milhares de foguetes contra múltiplos alvos, invasão ao território de Israel, relatos de soldados e civis reféns entre outros sucessos dos militantes.
Ao mesmo tempo, houve enorme falha na área de segurança e de inteligência de Israel. A avaliação era de que as forças israelenses possuíam controle na fronteira com Gaza e ataques a partir deste território palestino não iriam além do lançamento de foguetes contra vilas fronteiriças, sem provocar muitos estragos. Como foram pegos de surpresa desta forma? É algo que não ocorria desde a Guerra do Yom Kippur, há exatos 50 anos. Uma vulnerabilidade gigantesca.
Israel tende a responder com dureza aos ataques levados adiante pelo Hamas. Com certeza, haverá bombardeios. Uma ação terrestre neste momento é mais complicada porque não está claro a quantidade de armadilhas em Gaza, além de se precisar levar o risco de soldados e civis e capturados. Para complicar, existe o risco de uma nova frente ser aberta a partir do Líbano com o Hezbollah, embora ainda não haja indicação de que isso vá ocorrer. Não descartem também uma escalada da violência na Cisjordânia, com embates entre palestinos e colonos israelenses.
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Não há a menor possibilidade de cessar-fogo. O premier Benjamin Netanyahu precisará provar para a população que Israel está seguro. Neste momento, o ideal seria a formação de um governo de coalizão nacional, com a inclusão da oposição. Todas as medidas de política doméstica, como a tentativa de enfraquecimento da Suprema Corte, devem ser suspensas. Uma vez terminado o conflito, e não temos ideia de que quando isso pode ocorrer, Israel precisará investigar como pode ter ocorrido uma falha grande de inteligência e segurança.
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No caso palestino, a Autoridade Palestina, controlada pelo Fatah, um rival do Hamas, é praticamente irrelevante. As nações árabes que mantêm boas relações com Israel devem insistir e talvez até negociar em um cessar-fogo no futuro. Neste momento, não tem como ir além da retórica. É simplesmente impossível que Israel não responda. As principais potências ocidentais estão integralmente ao lado dos israelenses e tratam como terrorismo o que aconteceu.
O episódio de hoje é histórico e um divisor de águas no conflito entre Israel e os palestinos.
A onda de ataques, batizada pelos palestinos de “Operação Dilúvio de al-Aqsa”, levou o terror a dezenas de cidades e localidades no sul e no centro de Israel — incluindo Jerusalém e Tel Aviv.
Em resposta, o o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, instou os palestinos a saírem de Gaza e prometeu "reduzir os esconderijos do Hamas a ruínas".
O Hamas divulgou um comunicado após o início dos ataques. Israel, junto com o Egito, mantém um duro bloqueio contra a Faixa de Gaza desde que o Hamas assumiu o poder em 2007. Desde então, ocorreram vários conflitos entre militantes palestinos e o Estado judeu.