Artista austríaco tenta ressignificar 'Mein Kampf' de Hitler em livro de culinária; entenda

Depois de extrair as letras da edição antiga em estilo gótico, ele as classifica em uma caixa com pequenos compartimentos, criada especialmente para essa iniciativa

Por AFP — Viena


Andreas Joska-Sutanto, um artista austríaco, trabalha em seu projeto de transformar o livro 'Mein Kampf' de Adolf Hitler em um livro de receitas em Viena ALEX HALADA / AFP

Em um café em Viena, Andreas Joska-Sutanto recorta as páginas do "Mein Kampf" letra por letra para "desconstruir" a negatividade da obra de Adolf Hitler e transformá-la em um livro de receitas, em um projeto colossal que pode levar décadas.

Este artista austríaco começou esse trabalho minucioso quando os direitos do livro do ditador — que fundamentou a ideologia nazista a partir de sua publicação em 1925 — tornaram-se públicos há oito anos.

"Estou na página 100", diz à AFP este designer gráfico de 44 anos, com grandes óculos e barba grisalha. Após quase 900 horas de trabalho com um estilete afiado, ele completou apenas um quarto desse projeto titânico.

Andreas Joska-Sutanto, um artista austríaco, trabalha em seu projeto de transformar o livro "Mein Kampf" de Adolf Hitler em um livro de receitas em Viena. — Foto: ALEX HALADA / AFP

Trabalhando várias horas por semana, Joska-Sutanto calcula que precisará de mais 24 anos para terminar este livro tristemente conhecido, que tem quase 800 páginas, com cerca de 1,57 milhão de vogais e consoantes.

Depois de extrair as letras da edição antiga em estilo gótico, ele as classifica em uma caixa com pequenos compartimentos, criada especialmente para essa iniciativa.

O artista então usa os minúsculos recortes para seu projeto de livro que já inclui uma vintena de receitas, como uma pizza que seu pai lhe ensinou, uma salada de aspargos ou gnocchi com ovos, uma especialidade tipicamente austríaca que era adorada pelo Führer.

Andreas Joska-Sutanto, um artista austríaco, trabalha em seu projeto de transformar o livro "Mein Kampf" de Adolf Hitler em um livro de receitas em Viena — Foto: ALEX HALADA / AFP

"Quero mostrar que é possível transformar algo negativo em positivo, desconstruir e transformar essa obra que causou tanto dano", explica.

A Áustria, anexada pelo Terceiro Reich em 1938, por muito tempo se apresentou como uma vítima do nazismo, negando a responsabilidade por ter assassinado 65 mil judeus austríacos e forçado ao exílio outros 130 mil. Somente a partir do final dos anos 1980 o país começou um trabalho de memória histórica.

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