Partido de extrema direita torna-se segunda força na Suécia

Apuração indica que bloco de direita derrotará premier social-democrata; resultado final só deve sair na quarta-feira

Por O Globo


Simpatizantes do partido Democratas da Suécia, de extrema direita, comemoram o bom e inédito resultado nas urnas Jonathan Nackstrand/AFP

A Suécia foi às urnas neste domingo em disputadíssimas eleições para definir o governo do país pelos próximos quatro anos, em meio a um crescimento inédito da extrema direita e o predomínio de temas conservadores na campanha, como segurança e imigração, além da crise energética.

Os resultados da contagem de votos, com 95% das urnas apuradas, indicam que o bloco vencedor terá uma maioria justa no Parlamento. Segundo as autoridades eleitorais, o bloco opositor de direita, liderado pelo Partido Moderado de Ulf Kristersson, leva uma pequena vantagem sobre o bloco de esquerda da primeira-ministra social-democrata Magdalena Anderson.

De acordo com a apuração, a direita tem 49,8% dos votos, o suficiente para obter 175 cadeiras no Parlamento — o necessário para a maioria — contra 48,8% do bloco de esquerda, que ficaria com 174 cadeiras. Na manhã de segunda, menos de 60 mil votos de um total de 7,8 milhões separavam os dois, mas se o resultado se mantiver, a esquerda deixará o poder após oito anos.

As autoridades eleitorais, no entanto, só esperam ter a apuração fina na quarta-feira, quando os votos do exterior forem computados.

— A democracia sueca deve seguir seu curso. Todos os votos devem ser contados e esperaremos o resultado — disse a primeira-ministra Magdalena Andersson.

Semanas de negociação

Os resultados também apontam um crescimento significativo do Democratas da Suécia (SD), de extrema direita: maior vencedor da eleição, o partido acumula 20,7% dos votos, seu recorde histórico. Se esse resultado se confirmar, o SD se tornará, pela primeira vez, o segundo maior partido do país.

Por muito tempo considerado um pária político, o SD pode ser decisivo em um possível acordo com a direita tradicional no Parlamento e, portanto, para formar o governo.

— Diz muito sobre o quão distante nós chegamos. Do pequeno partido do qual todos riam para sermos hoje o segundo maior partido da Suécia — disse o líder do SD, Jimmie Åkesson, a apoiadores. — Nossa ambição é estar no governo — completou, apesar de o mais provável ser apenas um papel de apoio à nova maioria.

Sua prioridade número um, ele prometeu, seria “reduzir a criminalidade”, que ele liga à imigração. Quase um em cada quatro dos 10,3 milhões de habitantes do país tem raízes estrangeiras.

— Meu país mudou completamente, embora seja talvez o mais seguro do mundo — disse à AFP Ulrika, de 56 anos, eleitora do SD, atribuindo essa mudança “às outras culturas que chegam ao país”.

O cargo de primeiro-ministro na Suécia, tradicionalmente, cabe ao primeiro partido da aliança vencedora. No entanto, as formações da direita tradicional hesitam em ter ministros do SD, e mais ainda a deixá-los liderar o governo.

Independentemente dos resultados das urnas, as negociações que se seguirão devem durar semanas. O líder do Partido Moderado, Ulf Kristersson, disse na campanha que não tinha intenção de incluir o SD no Gabinete, buscando o apoio do partido de extrema direita apenas em votações no Parlamento, o que o líder do partido já deixou claro que não é seu objetivo. Além dos moderados e do SD, o bloco de direita é formado pelos partidos Democrata Cristão e Liberal Popular.

Já a primeira-ministra Magdalena Andersson se aliou aos partidos Verde e de Esquerda em busca de permanecer no cargo por um mandato de quatro anos. Ela terá a difícil tarefa de juntar em uma coalizão legendas que são opostas no campo ideológico, o Partido de Centro e o de Esquerda.

Em busca de um voto mais à direita, em meio a uma campanha dominada por temas que favorecem esse campo político, a premier adotou uma postura muito mais dura com os imigrantes. Várias reformas legislativas reduziram drasticamente as opções para obter o status de refugiado no país escandinavo.

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