Quem é Rishi Sunak, o primeiro não branco a se tornar premier do Reino Unido

Bilionário, o ex-ministro das Finanças e ex-braço direito de Boris Johnson será o chefe de governo britânico mais jovem desde o século XIX

Por O Globo, AFP — Londres


Rishi Sunak, ex-chanceler do Tesouro britânico e próximo primeiro-ministro, discursa no Centro Rainha Elizabeth II, em Londres, em 12 de julho de 2022 Niklas HALLE'N / AFP

Rishi Sunak, ex-ministro de Finanças do Reino Unido, foi escolhido nesta segunda-feira pelo Partido Conservador como seu novo líder e, consequentemente, novo primeiro-ministro britânico, posto até então ocupado por Liz Truss, que renunciou na última sexta-feira após 44 dias de mandato. O parlamentar de origem indiana, que será o primeiro chefe de governo não branco do país, havia ficado em segundo lugar na disputa dentro do partido que levou Truss ao poder há pouco mais de um mês, e terá agora a missão de consertar o caos deixado por sua antecessora.

Com sorriso permanente no rosto, aparência de bom aluno e apenas 42 anos, Rishi Sunak também será o governante mais jovem do Reino Unido desde o século XIX. Bilionário, ele é também o parlamentar mais rico do país, com uma conta bancária que contrasta com as dificuldades enfrentadas por boa parte dos britânicos diante da maior inflação em 40 anos.

Antes de entrar na política, Sunak ganhou milhões trabalhando para empresas financeiras como a Goldman Sachs. Em maio, tornou-se o primeiro político de alto escalão a integrar a lista do jornal Sunday Times das maiores fortunas britânicas. Ele e a mulher, juntos, têm uma riqueza estimada em 730 milhões de libras (R$ 4,37 bilhões), segundo o jornal — o montante ultrapassa o patrimônio do rei Carlos III, de 442 milhões de libras (R$ 2,64 bilhões), de acordo com a revista Forbes.

Ex-braço direito de Boris

Em fevereiro de 2020, Sunak foi nomeado ministro das Finanças pelo então premier Boris Johnson após apenas cinco anos no Partido Conservador. Um mês depois, eclodiu a pandemia de Covid-19 e seus impactos econômicos. Graças ao seu enorme pacote de auxílios para mitigar os efeitos da crise sanitária, tornou-se um dos integrantes mais populares do governo.

Considerado por muito tempo como o braço direito de Boris, Sunak é visto agora pela órbita do ex-premier como um traidor. Sua renúncia da pasta das Finanças em 5 de julho foi uma das que abriram caminho para outros 60 pedidos de demissão em cerca de dois dias e, em última instância, para o colapso do governo.

Sua imagem, no entanto, contrasta com a do ex-premier. Se o governo de Boris era visto como improvisado e caótico, Sunak transmite a impressão de ser superorganizado e meticuloso. Em contraste com o cabelo desgrenhado do ex-primeiro-ministro, Sunak está sempre com todos os fios no lugar e vestido com roupas de grife. Ele toma extremo cuidado com a sua imagem de seriedade e modernidade nas redes sociais. Também afirma não beber álcool.

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Primeira-ministra do Reino Unido renunciou nesta quinta (20), 44 dias após assumir

'Ser responsável'

Nascido em 12 de maio de 1980 em Southampton, no Sul da Inglaterra, Sunak é mais velho de três filhos de um médico e de uma farmacêutica, que tinham boas condições financeiras. Indianos, seus avós emigraram da África Oriental britânica para o Reino Unido na década de 1960.

O novo líder conservador, que afirma ter sido vítima de racismo num restaurante de fast food na adolescência, frequentou o Winchester College, um internato chique privado para rapazes. Depois, estudou Política, Filosofia e Economia nas prestigiosas universidade de Oxford, no Reino Unido, e Stanford, no estado americano da Califórnia.

Foi nos Estados Unidos que Sunak conheceu sua mulher, Akshata Murty, com quem tem duas filhas. Defensor ferrenho do Brexit, ele é também um entusiasta do críquete, do futebol e da franquia "Guerra nas Estrelas".

Durante muito tempo, Sunak era visto como o sucessor natural de Boris. Sua popularidade começou a cair, no entanto, após o alívio das restrições pandêmicas. O governo cortou os auxílios e começou a elevar os impostos em um cenário de inflação disparada e crise do custo de vida — medidas especialmente impopulares entre certos quadros conservadores.

— Para mim, ser conservador significa ser responsável pelo dinheiro, tanto pelo dinheiro do povo quanto pelas finanças públicas — disse Sunak.

Escândalos

Por ter participado do "partygate", o escândalo de festas na sede do governo enquanto a população estava em quarentena, o político conservador foi multado em 50 libras (R$ 298) pela polícia, assim como Boris. Sunak esteve em uma comemoração improvisada do 56º aniversário do então chefe de governo.

A imagem do ex-ministro das Finanças também foi manchada por um escândalo fiscal envolvendo sua mulher, filha do cofundador da gigante tecnológica Infosys, Narayana Murthy, conhecido como o "Bill Gates da Índia". A maior parte da fortuna pessoal de Akshata Murty vem de ações da empresa. Ela também é dona da Catamaran Ventures, empresa financeira que investe em startups.

Murty havia se registrado junto às autoridades fiscais britânicas como "não domiciliada" no Reino Unido, apesar de viver no país há nove anos. Com isso, os impostos britânicos não incidiam sobre seus milhões em rendimentos no exterior. O status de "não domiciliado" é legal, mas a revelação não foi bem-vinda pelos britânicos. Ela precisou alterar seus documentos para passar a pagar no país impostos sobre o que ganha fora.

— Estou fazendo isso porque quero, não porque a legislação me obriga — disse na época.

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