Lula diz que vai tratar da guerra na Ucrânia em encontro com presidente chinês

Presidente disse que o Brasil atuará com 'esforço' para garantir o cessar-fogo do conflito iniciado em fevereiro de 2022

Por Renan Monteiro — Brasília


Militar ucraniano prepara projéteis de artilharia de 155 mm perto de Bakhmut, no leste da Ucrânia Aris Messinis/AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que a Guerra da Ucrânia será um dos tópicos abordados durante sua viagem à China entre os dias 26 e 31 deste mês. Em entrevista à TV 247, o ocupante do Palácio do Planalto voltou a declarar suas intenções de trabalhar para mediar o conflito, protendo atuar com "esforço" para garantir o cessar-fogo.

Desde janeiro, quando recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, em Brasília, Lula defende a criação de um grupo para mediar a guerra na Ucrânia formado por países dispostos a negociar a paz no Leste Europeu. Na ocasião, disse que era hora de o presidente chinês, Xi Jinping, "pôr a mão na massa" para resolver a disputa geopolítica.

— Se depender de mim, falarei sobre a guerra na Ucrânia com a China. Eu acho que nosso protagonismo vai voltar, se soubermos fazer as coisas bem feitas. É preciso encontrar alguém que comece a falar em paz, eu vou conversar com o Xi Jinping, o Brasil está à disposição para fazer qualquer esforço para garantir a paz — disse.

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Desde o comentário de Lula, Xi anunciou um plano de paz de 12 pontos para o conflito russo-ucraniano, lançado no 1º aniversário da guerra, em 24 de fevereiro. A iniciativa pede um cessar-fogo, defende a integridade territorial — sem esclarecer como isso se aplicaria aos territórios ucranianos anexados por Moscou — e oferece benefícios à Rússia com a suspensão das sanções.

— A guerra está lá há um ano. Agora é preciso encontrar alguém que comece a falar em paz, porque EUA e Europa não estão falando de paz. Estão envolvidos direta ou indiretamente na guerra. Vou conversar com XI, porque a China é um país extremamente importante, um país que pode ter uma discussão mais séria com os EUA— disse Lula.

O plano chinês originalmente bem recebida tanto por Kiev quanto por Moscou, mas rechaçada de imediato pela Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan). Washington e seus aliados criticam o que dizem ser uma falsa neutralidade chinesa no conflito: apesar de não fornecerem armas ao Kremlin, os chineses se abstêm de condenar a invasão em fóruns internacionais e aumentam a aproximação com os russos.

Lula viajará a China dias após o retorno de Xi de Moscou, onde o líder chinês está desde segunda e assinou 14 acordos de cooperação em áreas que vão da energia atômica à produção audiovisual. A visita aprofunda uma relação que se intensifica frente à necessidade russa de driblar o isolamento ocidental e a enxurrada de sanções da qual é alvo desde que invadiu a vizinha Ucrânia.

Durante o encontro desta terça, Putin disse que a relação entre China e Rússia está "no auge de seu desenvolvimento histórico" e afirmou que os planos chineses para a paz são "consonantes com as abordagens russas e podem ser base para uma resolução pacífica na Ucrânia quando o Ocidente e Kiev estiverem prontos para isso".

Xi, por sua vez, repetiu a posição chinesa de que apoia as conversas de paz para usar o que chama de "crise ucraniana", fugindo de caracterizar o imbróglio como uma guerra. Sua fala, contudo, apenas repetiu a já conhecida posição de Pequim sobre o conflito, oque sugere a falta de grandes avanços no tema.

Para os chineses, a aproximação do Kremlin é mais pragmática: aumentaram em mais da metade suas importações de combustíveis russos entre fevereiro do ano passado e deste ano, comprando muitas vezes com desconto.

O lugar de mediador do conflito também poria Pequim em um lugar de protagonismo na diplomacia habitualmente ocupado por Washington e nações europeias, um trunfo em sua tentativa de fazer frente à hegemonia americana. Tal ambição de Xi foi reforçada na semana passada, com sua mediação na surpreendente retomada de laços entre Arábia Saudita e Irã na semana passada.

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