China alerta EUA e Coreia do Sul a não causar 'confronto' com Coreia do Norte após advertirem sobre 'fim' do regime

Advertência de Biden e líder sul-coreano foi feita na quarta, quando discutiram fortalecimento do escudo de segurança dos EUA para a Coreia do Sul diante dos crescentes testes de mísseis de Pyongyang

Por AFP — Pequim e Washington


Yoon e Biden brindam durante jantar de Estado na Sala Leste da Casa Branca Brendan Smialowski/AFP

A China advertiu nesta quinta-feira os Estados Unidos e a Coreia do Sul para que não provoquem um "confronto" com a Coreia do Norte, depois que os presidentes Joe Biden e Yoon Suk-yeol afirmaram que Pyongyang enfrentaria o "fim" de seu regime caso utilize seu arsenal nuclear.

– Todas as partes devem enfrentar o cerne da questão da península (coreana) e ter um papel construtivo na promoção de uma solução pacífica do tema – declarou a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning.

Ela fez um apelo para que Washington e Seul evitem "provocar tensões deliberadamente, provocar um confronto e fazer ameaças".

A advertência dos dois líderes foi feita durante uma visita de Estado de seis dias de Yoon aos Estados Unidos, onde discutiram na quarta-feira o fortalecimento do escudo de segurança dos EUA para a Coreia do Sul diante dos crescentes testes de mísseis da Coreia do Norte, país que possui armas nucleares.

A Declaração de Washington contempla o envio regular de um submarino nuclear dos Estados Unidos para a Coreia do Sul, algo que não era feito desde a década de 1980, juntamente com outras medidas, como o compartilhamento de informações no caso de um ataque norte-coreano. Mas não há planos para instalar armas nucleares dos EUA na Coreia do Sul.

O governo chinês apontou que a declaração mostra que Washington "ignora a segurança regional e insiste em explorar o tema da península para criar tensão".

– O que os Estados Unidos fazem (...) provoca confronto entre os dois lados, abala o regime de não proliferação nuclear e os interesses estratégicos de outros países – acrescentou Mao.

A porta-voz chinesa destacou que as ações americanas "agravam as tensões na península, minam a paz e a estabilidade regionais e são contrárias à meta de desnuclearização da península".

As autoridades americanas compararam o acordo anunciado na quarta ao que Washington fez quando monitorava a defesa da Europa contra a União Soviética.

Yoon procurou tranquilizar a população de seu país, preocupado com o compromisso americano com a chamada "dissuasão aprimorada", na qual os recursos dos EUA, incluindo armas nucleares, servem para impedir ataques contra seus aliados.

A maioria dos sul-coreanos agora acredita que o país deveria desenvolver suas próprias armas nucleares, de acordo com pesquisas.

Gi-Wook Shin, especialista em Coreia e professor de sociologia na Universidade de Stanford, disse à AFP que a declaração é "um passo adiante".

No entanto, "não acho que seja suficiente para apaziguar o público sul-coreano, que exige cada vez mais que Seul desenvolva suas próprias armas nucleares", acrescentou.

Repercussão em Pyongyang

Mais cooperação entre seus arqui-inimigos Washington e Seul pode preocupar o regime de Kim Jong-un, e ele poderia demonstrar sua preocupação com mais lançamentos de mísseis, dizem os especialistas.

Publicamente, "a Coreia do Norte subestimará o tom da mensagem dos EUA de garantir a dissuasão nuclear", disse à AFP Chun In-bum, general militar sul-coreano aposentado. Mas a portas fechadas "eles receberão a mensagem: se usarem armas nucleares, será o fim do regime", disse Chun.

Depois de passar décadas – e grande parte do PIB do país empobrecido – desenvolvendo programas nucleares, Kim não está inclinado a mudar de rumo, segundo os especialistas.

– É pouco provável que a Coreia do Norte desista de suas armas nucleares por causa dessas ameaças – disse à AFP Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos da Coreia do Norte em Seul.

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