Lula: Papa tinha 'energia de um homem de 30 anos' ao discutir desigualdade e fim para guerra na Ucrânia

Presidente disse ter ficado feliz de ver religioso em bom estado após cirurgia a que foi submetido no início do mês

Por O Globo


O Papa Francisco com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa Janja da Silva no Vaticano VATICAN MEDIA / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira ter ficado feliz de ver o Papa Francisco saudável após a cirurgia abdominal a que foi submetido no início do mês, afirmando que tem a "energia de um homem de 30 anos". Para o presidente, que deu uma entrevista coletiva ao fim de sua visita à Itália, o Pontífice é a "mais importante autoridade política do planeta Terra" e tem papel-chave na busca por saídas pacíficas para a guerra na Ucrânia.

Lula afirmou que ficou contente ao chegar na quarta para sua audiência no Vaticano e encontrar o Papa de 86 anos "muito saudável", pois pensava que ia "encontrar um homem convalido após acabar de sair de uma cirurgia". O jesuíta teve alta dos nove dias de internação há uma semana, após passar no último dia 7 por uma operação para corrigir uma hérnia incisional.

Lula: Papa tinha 'energia de um homem de 30 anos' ao discutir desigualdade e fim da guerra

— Ele estava muito animado, muito sorridente — afirmou Lula. — Todo dia eu digo no Brasil que sou um jovem de 77 anos com energia de 30, o Papa ontem tinha energia de 30. Estava muito motivado e muito disposto a continuar com sua luta contra a desigualdade e para construir a paz no Planeta Terra.

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A saúde do religioso há anos gera preocupações, que se acentuaram nos últimos meses. A internação deste mês foi a segunda desde marco, quando teve uma pneumonia que lhe rendeu três dias no hospital. Ele também já havia feito uma operação prévia no abdômen em julho de 2021, para tratar uma diverticulite. O argentino ainda tem problemas no joelho, que dificultam sua locomoção, forçando-o a usar bengalas e cadeiras de roda.

O Papa disse ter deixado uma carta de renúncia pronta há mais de dez anos — a abdicação de seu antecessor, Bento XVI, abriu tal precedente — para o caso de não ter mais condições físicas ou mentais de exercer o papado. Ele, contudo, afirmou que não pretende usá-la em breve.

Saída para a guerra

Em sua coletiva, Lula disse que Francisco é hoje a "mais importante autoridade política do planeta Terra, não só pelo que representa, mas pela sua postura naquilo que fala". O petista disse ter dois pontos importantes em consonância com o religioso: o combate à desigualdade e a busca pela paz.

— Nós temos que fazer com que a sociedade mundial fique indignada com a questão da desigualdade, que existe no acesso à comida, na educação, no salário, de cor, de gênero. O mundo está muito desigual — disse ele, afirmando que solucionar o problema deve ser prioritário. E a outra coisa é com relação a guerra.

Lula citou os esforços do Vaticano, que manda representantes para conversar com autoridades russas e ucranianas atrás de uma solução para o conflito. Ele disse também que o seu assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, teve uma reunião no Vaticano sobre o tema e participará de um encontro no fim de semana na Dinamarca com representantes de vários países para discutir a situação.

— Nós já conversamos com a Índia, com a Indonésia, com a China na perspectiva de criar uma consciência e um grupo de pessoas que possam discutir a paz — disse Lula, que em outro momento afirmou crer que EUA e Europa estão demasiadamente envolvidos na guerra para conseguirem tal feito. — E nesse aspecto, o Papa é uma pessoa é extremamente importante.

O presidente brasileiro propõe a ideia de um clube da paz que reúna países neutros no conflito e que estejam dispostos a se sentar à mesa com ambos lados para negociar um fim da guerra. Indagado se o Papa faria parte de tal iniciativa, Lula afirmou que o Pontífice não precisa participar de um núcleo de países pois "tem personalidade própria do ponto de vista político, moral e jurídico".

Ida ao Brasil

Lula comentou também o convite que fez para o Papa ir ao Círio de Nazaré, que acontece todo mês de outubro em Belém, no Pará. O presidente disse crer que "pelo sorriso que o Papa deu, há vontade", mas que é necessário levar em conta a agenda e a saúde do Pontífice:

— Temos que levar em conta a agenda do Papa. Ele já foi ao Brasil uma vez, não foi à Argentina nenhuma vez ainda. Não foi ao Uruguai, não foi ao Paraguai. Ele também tem que ir a outros países — afirmou Lula. — Quando convidei o Papa para ir ao Brasil, é porque o Círio de Nazaré é uma das maiores festas religiosas do mundo. Eu, que nunca fui, pretendo ir neste ano, e sugeri ao Papa. Não sei se ele vai ou não, mas ele tem que levar em conta a grandiosidade da Igreja Católica no Brasil. Por isso seria importante se ele fosse, se tiver com a saúde perfeita.

A primeira viagem de Francisco após virar Papa foi ao Rio, para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013. O evento já estava marcado desde antes mesmo de a fumaça branca anunciando seu nome sair da chaminé da Basílica de São Pedro em março daquele mesmo ano, mas na época Francisco disse que "'Deus quis" que sua viagem inaugural fosse ao país e a seu continente natal.

As interações de Lula e do Pontífice também foram algumas ao longo dos anos: os dois já haviam se encontrado pessoalmente uma vez após o Papa assumir o Vaticano, quando o petista foi recebido para uma audiência cerca de três meses após deixar a prisão em Curitiba. Na época, a reunião foi intermediada pelo aliado Alberto Fernández, presidente argentino.

Em uma entrevista no fim do ano passado ao jornal espanhol ABC, o Papa afirmou que o processo posteriormente anulado que condenou o petista "começou com notícias falsas na mídia" que "criaram uma atmosfera que favoreceu a colocação de Lula em um julgamento". Em março deste ano, disse à emissora argentina C5N que Lula foi condenado sem provas e que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi injusto, chamando-a de "mãos limpas" e uma "excelente mulher".

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