Astrônomos revelam segredos do exoplaneta mais brilhante já detectado fora do Sistema Solar

O planeta a mais de 260 anos-luz da Terra tem nuvens metálicas reflexivas e é o primeiro extrassolar a igualar o brilho de Vênus

Por AFP — Paris


Imagem divulgada em 10 de julho, pela ESA, mostra uma impressão artística do LTT9779b orbitando sua estrela Agência Espacial Europeia / AFP

Um mundo em chamas onde chovem gotas de titânio: o planeta mais brilhante já detectado fora do Sistema Solar acaba de revelar seus segredos aos astrônomos, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira. Este estranho exoplaneta, localizado a mais de 260 anos-luz da Terra, reflete 80% da luz da estrela que orbita, de acordo com novas observações do telescópio espacial europeu Cheops (Characterizing ExoPlanet Satellite). É o primeiro extrassolar a igualar o brilho de Vênus, o objeto mais brilhante no céu noturno, com exceção da Lua.

Descoberto em 2020, este planeta do tamanho de Netuno é chamado LTT9779b e orbita sua estrela em apenas 19 horas. Devido a esta proximidade, a temperatura de sua face iluminada chega aos 2.000 graus, temperatura considerada alta demais para a formação de nuvens. No entanto, a refletividade do LTT9779b indica a presença delas.

"Era realmente um enigma", de acordo com Vivien Parmentier, pesquisador do Observatório Côte d'Azur, e coautor de um estudo publicado na revista Astronomy and Astrophysics.

Os pesquisadores "consideraram a formação dessas nuvens semelhantes à maneira que ocorre a condensação em um banheiro após um banho quente", explicou o especialista em um comunicado à imprensa. Como o efeito da água muito quente, uma corrente ardente de metal e silicato — o material de que o vidro é feito — supersatura a atmosfera do LTT9779b, até que nuvens metálicas se formem.

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Um escudo

Até o momento, os únicos exoplanetas conhecidos por girar em torno de sua estrela tão rapidamente (em menos de 24 horas) são gigantes gasosos dez vezes maiores que a Terra, ou planetas rochosos com a metade do tamanho.

Contudo, o LTT9779b tem cerca de cinco vezes o tamanho terrestre, e está localizado em uma área que os astrônomos chamam de "deserto quente de Netuno", onde planetas desse tamanho "não deveriam existir", resume Parmentier. Além disso, os astrônomos não esperavam encontrar nenhum tipo de atmosfera nele, por causa da proximidade com a sua estrela, que normalmente “arrasta” qualquer tipo de formação gasosa.

Depois de muita pesquisa, encontraram a explicação: "as nuvens metálicas do LTT9779b agem como um espelho", refletindo a luz e impedindo a desintegração da atmosfera, segundo Maximilian Guenther, cientista-chefe do projeto Cheops, da Agência Espacial Europeia (ESA).

Eles agem "um pouco como um escudo", como os que protegem "as naves nos antigos episódios de 'Star Trek'", disse à AFP. Esta investigação marca "um passo importante", porque mostra como um planeta do tamanho de Netuno pode sobreviver em tal ambiente, acrescentou o cientista.

O telescópio Cheops foi enviado pela ESA ao espaço em 2019, para explorar os planetas descobertos fora do Sistema Solar. Ele mediu o poder reflexivo do LTT9779b comparando a luz antes e depois do exoplaneta desaparecer atrás de sua estrela.

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