Número de mortos em Israel e Gaza em oito dias supera soma dos últimos oito anos de conflitos

ONU cita 2.000 mortos em outubro e autoridades locais contam 1.300 israelenses e 2.000 palestinos, mais que em toda a Primeira Intifada

Por — São Paulo


Palestinos rezam em funeral de família morta em ataque aéreo de Israel na Faixa de Gaza Mahmud HAMS / AFP

Conflitos entre Israel e árabes por causa da ocupação da Palestina causaram mortes em praticamente todos os anos deste milênio, mas a violência dos ataques terroristas da organização Hamas em outubro de 2023, seguida de uma ação militar israelense, equivale a uma década inteira de conflitos.

O governo de Israel fala em 1.300 mortos de seu lado. Autoridades palestinas falam em 2.000 mortos. O Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), que faz a contagem oficial de mortes no conflito entre palestinos e israelenses desde 2008, publicou comunicado neste sábado (14) estimando em 2.000 as mortes somadas em ambos os lados, entre civis e grupos armados.

O número de vítimas segue crescendo, de qualquer forma, e com algo entre 2.000 e 3.300 mortes no conflito que ainda não terminou, a violência vista em outubro de 2023 já supera o que se viu nos último oito anos passados, somados, na região.

"Os civis em Israel e nos Territórios Ocupados da Palestina estão sofrendo após uma semana angústia e devastação completa", afirmou em comunicado Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU e chefe do OCHA.

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Com a expectativa de uma ação terrestre do Exército Israelense na Faixa de Gaza, o britânico se diz preocupado. "Temo que o pior ainda esteja por vir", afirmou.

O OCHA só produziu números oficiais sobre as mortes de conflitos na região a partir de 2008, e desde então só ocorreu um ano com números na mesma escala dos de 2023. Em 2014, um total de 2.251 palestinos e 88 israelenses morreram em confrontos na região de Gaza.

Mesmo no século passado houve poucos anos tão brutais para a região quanto 2023 está sendo. As mortes relatadas por autoridades locais em 2023 já se aproximam às relatadas durante toda a Segunda Intifada, o levante palestino que resultou em mais de 4.000 mortos em ataques dos dois lados, e durou cinco anos (2000 a 2005). O número já se iguala ao da Primeira Intifada (1987 a 1993), quando morreram cerca de 2.000 pessoas em confrontos e ataques.

Conflito e guerra

Quando estão acima dessa escala, os confrontos na região já são normalmente lembrados como guerras propriamente ditas. As estimativas de mortes em conflitos que se sucederam à criação do Estado de Israel variam muito conforme a fonte de dados, mas estão já num outro patamar.

A Guerra Árabe-Israelense, entre 1948 1949, deixou cerca de 15 mil mortos. A Guerra dos Seis Dias, em 1967, deixou algo entre 10 mil e 20 mil mortos. Guerra do Yom Kippur, que completa meio século agora em outubro, matou entre 15 mil e 20 mil pessoas.

Um fator que faz 2023 destoar da história mais recente dos conflitos na região é que geralmente o número de mortes do lado israelense é bastante menor do que no lado palestino. Em 2023, os números dos dois lados ainda estão dentro da mesma ordem de grandeza, ainda que haja desequilíbrio.

"Em Israel, as famílias estão sofrendo com o horror do ataque do último sábado. Mais de mil pessoas foram mortas e muitas outras ficaram feridas. Mais de 100 pessoas são mantidas em cativeiro" afirmou o britânico

Griffith completou seu argumento realçando que a violência observada na região é mútua, e a conta é paga pelos civis.

"Em Gaza, famílias foram bombardeadas enquanto avançavam lentamente para sul ao longo de estradas congestionadas e danificadas, após uma ordem de evacuação que deixou centenas de milhares de pessoas a lutar por segurança, mas sem ter para onde ir", afirmou.

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