Um funcionário do Departamento de Estado que supervisiona as transferências de armas pediu demissão esta semana em protesto contra a decisão do governo de Joe Biden de continuar enviando armas e munição a Israel enquanto o Estado judeu sitia Gaza em meio à guerra contra o Hamas.
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Em sua carta de demissão, Josh Paul, que é diretor de relações públicas e do Escritório de Assuntos Político-Militares do Departamento de Estado há mais de 11 anos, disse que o “apoio cego a um lado” da gestão Biden estava levando a decisões políticas que eram “míopes, destrutivas, injustas e contraditórias com os próprios valores que defendemos publicamente”.
"A resposta que Israel está dando, e com ela o apoio americano tanto a essa resposta como ao status quo da ocupação, só levará a um sofrimento maior e mais profundo tanto para o povo israelense como para o povo palestino", escreveu ele, no pedido de demissão. "Temo que estejamos repetindo os mesmos erros que cometemos nas últimas décadas e me recuso a fazer parte disso por mais tempo".
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Em entrevista, Paul disse que o corte de água, alimentos, cuidados médicos e eletricidade por parte de Israel para Gaza, um território com mais de dois milhões de pessoas, bate de frente com uma série de leis federais de longa data destinadas a manter as armas americanas fora do alcance de violadores dos direitos humanos. Mas essas proteções legais estão falhando, disse ele.
— O problema com todas essas disposições é que cabe ao Poder Executivo determinar que ocorreram violações dos direitos humanos — disse Paul. — Tomar uma decisão não cabe a nenhuma entidade acadêmica apartidária e não há incentivo para que o presidente realmente determine qualquer coisa.
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Biden abraçou Israel desde que o Hamas matou mais de 1.400 pessoas e fez quase 200 reféns num ataque no início deste mês, e a sua gestão está se preparando para atender um pedido de US$ 10 bilhões em ajuda principalmente militar, segundo assessores familiarizados com o plano.
Numa visita a Tel Aviv na quarta-feira, Biden também alertou os israelenses para não cederem a “uma raiva que tudo consome” que poderia levar o país a exageros na resposta ao Hamas. O governo americano pressionou Israel a evitar as mortes de civis.
Israel afirmou que a escala e a violência do ataque do Hamas justificam a sua resposta e que está agindo em conformidade com o direito internacional. A assessoria de imprensa do Departamento de Estado não respondeu imediatamente a um pedido de comentários na noite de quarta-feira.
Paul, cuja renúncia foi relatada em primeira mão pelo HuffPost, disse que viu o governo dos Estados Unidos aprovarem inúmeras vendas ou remessas de material para outros países do Oriente Médio, mesmo quando acreditava que a lei federal deveria tê-los impedido de avançar.
— Há um momento em que você pode dizer: 'Ok, bem, está fora do meu controle, mas sei que o Congresso vai recuar' — disse ele, em referência a uma possível suspensão da transferência de armas ou interrogatórios de autoridades em audiências no Capitólio. — Mas, neste caso, não há qualquer resistência significativa provável por parte do Congresso, não há qualquer outro mecanismo de supervisão, não há qualquer outro fórum para debate, e isso é parte do que considerei na minha tomada de decisão.
Continuar a dar a Israel o que ele descreveu como "carta branca para matar uma geração de inimigos" não serve, na opinião de Paul, "aos interesses dos Estados Unidos".
— O que isso leva é a este desejo de impor segurança a qualquer custo, incluindo o custo para a população civil palestina — disse ele. — E isso não leva, em última análise, à segurança.
Desde que publicou sua carta de demissão online na quarta-feira, Paul disse ter recebido uma onda de apoio de colegas do Departamento de Estado e de funcionários do Congresso.
— Muitas pessoas estão lutando contra esta política atual e acham que é profundamente problemática — disse ele. — Fiquei realmente comovido com algumas pessoas que me procuraram para dizer que entendem a minha posição. Eles respeitam minha decisão.