Irã acusa EUA e Israel de estarem por trás de ataque cibernético que interrompeu vendas de combustível

Investida afetou máquinas que leem cartões especiais usados para pagar pela gasolina e pelo diesel subsidiados

Por O Globo e Agências Internacionais — Teerã


Homem espera em posto de gasolina do Teerã, capital do Irã, durante ataque cibernético que paralisou vendas de combustível ATTA KENARE/AFP

O Irã afirmou ter sofrido um ataque cibernético que interrompeu a distribuição de combustível em alguns postos do país, nesta segunda-feira. A investida, que ocorre em meio à tensão no Oriente Médio causada pela guerra em Gaza, afetou as máquinas que leem cartões especiais usados para pagar pela gasolina e pelo diesel subsidiados. O ministro do Petróleo, Javad Owji, acusa Israel e os Estados Unidos de estarem por trás do ataque.

— Alguns postos de gasolina em todo o país sofreram um ataque cibernético e a distribuição de combustível foi interrompida — disse o ministro do Petróleo à televisão estatal, afirmando que, dos 3.800 postos de gasolina sob sueprvisão da pasta, apenas 1.650 estavam disponíveis, segundo a Reuters.

Owji atribuiu ainda o ataque a potências estrangeiras, dizendo que "o inimigo sionista (Israel) e os EUA sofreram golpes em outras frentes e procuraram criar problemas".

Segundo a agência de notícias Reuters, citando a TV iraniana e a mídia local israelense, o grupo chamado Gonjeshke Darande ou "Pardal Predatório", acusado pelo Irã de ter ligações com Israel, reivindicou o ataque. A investida teria ocorrido de forma "controlada para evitar possíveis danos aos serviços de emergência", afirmou o grupo em um comunicado no Telegram, citado pela agência britânica.

O ataque, disse o grupo no comunicado, teria sido "em resposta à agressão da República Islâmica e dos seus representantes na região". Israel, que tem lutado contra o Hamas em Gaza desde o dia 7 de outubro, após ter sofrido um ataque terrorista, alega que o Irã está ajudando a financiar o esforço de guerra do grupo.

Ao ser questionado sobre o ataque cibernético, o porta-voz do governo israelense, Tal Heinrich, afirmou, em uma coletiva de imprensa citada pela Reuters, que:

— Não temos nada a dizer sobre as afirmações do Irã.

Sistema off-line

Mais de 60% dos locais de abastecimento de combustível do país teriam sido desativados pelo suposto ataque, que afetou as máquinas que leem cartões especiais usados para pagar pela gasolina e pelo diesel, disse o vice-ministro do Petróleo, Jalil Salari, em uma entrevista separada transmitida pela televisão nesta segunda-feira.

O Irã, um grande produtor de petróleo, tem um dos preços de gasolina mais baratos do mundo, com um cartão que permite que os iranianos comprem até 60 litros por mês a um preço subsidiado de 15.000 rials (cerca de R$ 1,75) por litro. O jornal israelense Times of Israel afirma que o país tem cerca de 33 mil postos de combustível.

Após a falha no sistema, os postos de gasolina "desligaram o sistema on-line", disse Salari. Até o restabelecimento completo, o combustível deverá ser distribuído off-line, onde as bombas podem ser operadas manualmente, informou a agência de notícias Shana. A interrupção causou longas filas em alguns postos de gasolina em Teerã e o fechamento de outros, de acordo com um correspondente da AFP.

O presidente Ebrahim Raisi pediu uma investigação e solicitou "medidas imediatas" para resolver o problema. As autoridades formaram um "comitê de crise" e Salari disse que esperava que o sistema fosse consertado em poucas horas.

Em outubro de 2021, o Irã sofreu uma interrupção semelhante de uma semana, pela qual as autoridades culparam agentes externos. O governo acusou Israel de uma onda de ataques de sabotagem e assassinatos contra seu programa nuclear.

Por sua vez, os EUA e Israel acusam o Irã de orquestrar ataques contra forças e navios aliados na região. O Estado judeu também acusou hackers iranianos de atacarem sistemas de água e hospitais desde o início da guerra na Faixa de Gaza.

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