China ameaça 'esmagar' militarmente qualquer plano de independência de Taiwan, que vai às urnas neste sábado

Pequim subiu o tom contra qualquer sinal de dissidência na ilha nas semanas anteriores ao pleito, cujo principal candidato nas pesquisas foi considerado como um 'sério perigo' pelo governo

Por O Globo, com agências internacionais


Lai Ching-te, atual vice-presidente e pró-independência, é favorito nas eleições de Taiwan Sam Yeh/AFP

O Exército de Libertação Popular da China indicou, nesta sexta-feira, estar preparado para "esmagar" qualquer plano de independência de Taiwan, que realiza eleições presidenciais neste sábado. O pleito, cercado de expectativa e acompanhado com interesse ao redor do mundo, após anos turbulentos na relação entre Pequim e a administração da ilha, é visto como um momento de risco pelas autoridades chinesas, que consideram o território como parte do país e acusam os Estados Unidos de tentarem interferir em sua soberania.

O porta-voz do Ministério da Defesa Nacional da China, coronel Zhang Xiaogang, afirmou que as forças armadas do país estão prontas para acabar com qualquer conspiração sobre a independência de Taiwan, durante uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira. Segundo o registro do Financial Times, o militar disse que o Exército não hesitaria em esmagar qualquer tentativa independentista e que todas as medidas necessárias para isso estavam sendo tomadas.

A atividade militar chinesa de dissuasão no entorno da ilha aumentou significativamente nos últimos anos, desde o incidente provocado pela visita da então presidente da Câmara dos EUA Nancy Pelosi a Taiwan, em 2022. Pequim realizou inúmeros exercícios militares violando o espaço aéreo taiwanês no Estreito de Taiwan, segundo autoridades locais, e assumiram uma postura política mais rígida perante a administração semiautônoma.

O governo de Xi Jinping enviou uma série de recados a Taipei na reta final de campanha, na tentativa de evitar que qualquer desfecho evolua para uma tentativa de questionar a soberania chinesa. A porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, Chen Binhua, declarou que a independência do governo de Taipei e a paz no estreito que divide os dois países não podem coexistir, segundo a agência estatal de notícias Xinhua. Na quinta-feira, o mesmo gabinete taxou o favorito nas eleições presidenciais, Lai Ching-te, como um "sério perigo".

"Expressamos a esperança de que os compatriotas taiwaneses vejam (...) o sério perigo representado pela instigação de conflitos por Lai através do Estreito (de Taiwan) e tomem a decisão certa", dizia o comunicado.

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Lai é o atual vice-presidente e membro do governista Partido Democrático Progressista (PPD), sigla pró-independência. O candidato acusa a China de tentar minar as eleições ao aumentar a pressão sobre a ilha nas últimas semanas — crítica que chegou a público também pelo ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu.

"As próximas eleições de Taiwan estão sob os olhares internacionais e a repetida interferência (chinesa) rouba o foco. Francamente, Pequim deveria parar de se intrometer nas eleições de outros países e celebrar as suas próprias", disse Wu, em uma publicação na rede social X (antigo Twitter).

O acirramento das tensões em Taiwan era apontado como previsível por autoridades dos EUA, que também observam a eleição com interesse. A Casa Branca alertou a China para que "não provocasse" a ilha durante as eleições, mas teme um aumento de tensões — que considera improvável, mas não se atreve a projetar até onde poderia escalar.

Internamente, as diferenças entre os partidos taiwaneses sobre a China desapareceram diante da repressão de Pequim a Hong Kong e à invasão russa na Ucrânia. Os candidatos taiwaneses concordam na necessidade de aumentar as defesas e estão deixando de lado a ideia da independência absoluta ou a integração econômica com a China.

Concorrem com Lai, o ex-chefe da polícia e presidente da Câmara Hou Yu-ih, do Kuomintang, que defende laços mais estreitos com a China continental, e o ex-prefeito de Taipei Ko Wen-je, que promove uma terceira via.

Em seu último relatório, o Eurasia Group minimizou os receios de conflito em torno de Taiwan devido à distensão entre China e Estados Unidos e às declarações cautelosas de Lai. "A probabilidade de um ataque da China a Taiwan é insignificante em 2024", comentou Ian Bremmer, presidente da empresa de consultoria.

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— Embora trate-se do momento histórico mais importante, estas eleições têm um impacto menor na forma como os EUA abordam a questão da ilha — explicou Oriana Skylar Mastro, especialista em Taiwan da Universidade de Stanford.

O presidente americano, Joe Biden, pretende enviar uma delegação a Taiwan depois das eleições e não acredita que a cooperação em defesa e comércio com a democracia autônoma reivindicada por Pequim diminua, segundo fontes oficiais. O mandatário também intensificou o diálogo com a China, que baixou o tom com os Estados Unidos enquanto o seu presidente, Xi Jinping, tenta resolver problemas econômicos internos. (Com AFP)

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