Gaza contabiliza 30 mil mortos em cinco meses de guerra

Conflito já é de longe o mais mortal dos cinco que colocaram Israel contra o Hamas, superando os números de 2014, quando 2.250 palestinos morreram em ataques israelenses

Por e , Em AFP — Gaza


Parentes choram durante funeral de entes queridos em cemitério de Rafah, no sul da Faixa de Gaza SAID KHATIB / AFP

O Ministério da Saúde de Gaza anunciou, nesta quinta-feira, que mais de 30 mil pessoas morreram no enclave desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, em outubro. Iman Musallam, uma pessoa deslocada pelo conflito, acha difícil entender que tantos tenham perdido a vida em quase cinco meses, embora ela acredite que, na realidade, haja muito mais: tudo indica que várias pessoas estejam enterradas sob os escombros dos bombardeios israelenses.

— Não sabemos quantos mártires haverá [no final da guerra] — disse a professora de 30 anos, que conseguiu se alojar em um prédio da ONU transformado em abrigo em Rafah, cidade no extremo sul da Faixa.

A guerra atual já é de longe a mais mortal das cinco que colocaram Israel contra o Hamas, superando o número de 2014, quando 2.250 palestinos morreram. Essas inúmeras “tragédias” e “sofrimentos” terão consequências desastrosas para os palestinos por “gerações”, disse à AFP Ahmed Orabi, professor de ciências políticas da Universidade de Gaza.

Segundo dados do Ministério da Saúde palestino, cujos números são confiáveis pelas Nações Unidas, 79 pessoas morreram em ataques durante a madrugada, elevando o número de mortos para 30.035 e 70.457 feridos desde 7 de outubro. Cerca de 70% dos mortos são mulheres e crianças, de acordo com a mesma fonte.

O conflito foi desencadeado em 7 de outubro, quando comandos islâmicos invadiram o sul de Israel, mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250, de acordo com uma avaliação baseada em dados oficiais israelenses. Em retaliação, Israel lançou uma grande ofensiva aérea e terrestre contra o território palestino.

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Em Gaza, os cemitérios estão lotados e não há mais sacos suficientes para embrulhar os corpos. Os moradores enterram seus mortos da melhor forma que podem. Um fazendeiro enterrou seus três irmãos e cinco filhos em seu pomar de frutas cítricas; em outro lugar, as pessoas cavaram uma vala comum em um campo de futebol.

Medo de Rafah

Aos olhos dos palestinos, “o grande número de mulheres, crianças e idosos mortos não deixa dúvidas de que se trata de massacres”, observou o professor Orabi. Bombardeios aéreos, fogo de artilharia e franco-atiradores devastaram bairros inteiros e forçaram muitas famílias a fugir, muitas vezes com a roupa do corpo. Muitos sobrevivem graças à solidariedade de parentes ou estranhos, em um território com cerca de 40 km de comprimento e 10 km de largura, sob forte cerco israelense.

Mais de 70% dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados pela guerra e a população está ameaçada pela fome, segundo a ONU. As Nações Unidas, assim como muitos líderes internacionais, agora teme uma carnificina em Rafah, onde Israel quer concluir sua ofensiva terrestre contra o Hamas. Há cerca de 1,5 milhão de pessoas na área, 80% delas deslocadas pela guerra.

Luto permanente

Em Israel, a atenção continua voltada para as vítimas do ataque de 7 de outubro. E, especialmente, no destino dos 130 reféns ainda mantidos pelo Hamas, 30 dos quais teriam morrido. No final de novembro, uma trégua de uma semana levou à troca de cem reféns por 240 prisioneiros palestinos mantidos em Israel.

Embora o Ministério da Saúde do Hamas não divulgue o número de mortos entre seus combatentes, o Exército de Israel estima que sejam 10 mil, enquanto 240 soldados israelenses teriam morrido na ofensiva. As baixas civis também incluem jornalistas que trabalham em Gaza para fazer reportagens sobre a guerra. De acordo com o Comitê de Proteção aos Jornalistas, pelo menos 88 profissionais da mídia foram mortos.

Gaza se tornou um local de luto permanente e não se passa um dia sem um funeral, que as famílias têm de improvisar em função da guerra. Devido à falta de combustível, os corpos são frequentemente transportados em carroças de burro. E as equipes dos hospitais, exaustas e carentes de tudo, às vezes têm que usar caminhões de sorvete para armazenar os corpos antes dos enterros.

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