Rússia afirma estar 'empurrando' os ucranianos na linha de frente e anuncia dois novos exércitos terrestres

Ministro da Defesa afirma que as unidades estarão prontas até o fim de 2024, mas analistas questionam capacidade de ampliação das forças do país

Por O Globo e agências internacionais


Militares russos em formação antes do desfile do Dia da Vitória, em Moscou NATALIA KOLESNIKOVA / AFP

O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, anunciou na quarta-feira que dois novos exércitos de armas combinadas serão criados e estarão funcionais até o final de 2024, e que suas forças estão “empurrando” os ucranianos para trás das linhas de frente no país vizinho. Apesar de soarem como uma ameaça direta à Otan, as novas unidades estariam incluídas, segundo analistas, em planos de longo prazo do Kremlin.

Durante a reunião com generais, na qual anunciou que “71 mil militares ucranianos” foram mortos apenas no ano passado, Shoigu declarou que foram destruídos muitos equipamentos, 11 mil ao todo, segundo ele um número bem superior ao registrado em 2023. Não foi possível confirmar a informação de forma independente

“Grupos de tropas russas continuam a empurrar o inimigo para fora de suas posições e a impedir que se firme em novas linhas. Devido às pesadas perdas, os casos de deserção nas fileiras das Forças Armadas Ucranianas se tornaram mais frequentes”, diz o comunicado do Ministério da Defesa. “O regime de Kiev está fazendo seu melhor para esconder dos cidadãos a situação real no campo de batalha, apresentando ataques terroristas contra os russos como sucessos e aumentando a mobilização forçada.”

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Apesar de especulações sobre uma nova mobilização militar, que seria anunciada após as eleições vencidas por Vladimir Putin no domingo passado, com 87% dos votos, não há qualquer indício claro que o Kremlin planeje essa medida a curto ou mesmo médio prazo. É fato que o país perdeu dezenas de milhares de soldados no front desde fevereiro de 2022: segundo uma investigação conjunta do serviço russo da BBC e do site independente Mediazona, seriam ao menos 45 mil mortos, sem contar os feridos e incapacitados.

Um item até certo ponto escondido do comunicado, contudo, chamou a atenção de analistas militares: Shoigu declarou que, até o fim de 2024, serão formados dois exércitos de armas combinadas, além de trinta novas formações, incluindo catorze divisões e dezesseis brigadas nos próximos meses. Sem dar números, Shoigu também sugeriu que deverá adotar novas medidas para “melhorar a capacidade de combate e a força numérica do Exército russo, proporcionalmente às ameaças emergentes à segurança militar” russa.

Contudo, existe, além da falta de vontade política em anunciar uma nova convocação em massa, pouca capacidade prática de treinar novos militares para atuação imediata, como apontou no dia 20 de março o Instituto para o Estudo da Guerra.

Sobre as novas unidades, especialistas afirmam que não se trata de uma decisão imediatista, mas sim de um plano de longo prazo, ligado ao que Moscou vê como “novos desafios”, como a expansão da Otan. Desde o ano passado, Shoigu tem anunciado com relativa frequência a criação de novas unidades, incluindo em áreas próximas às fronteiras com a Otan — a revelação da quarta-feira seria mais uma dessa lista.

— A declaração de Shoigu ontem [quarta-feira] não foi nova e não traz o presságio de um ataque russo contra a Otan — disse à Newsweek, na quinta-feira, John Foreman, ex-adido militar britânico em Moscou e Kiev. — Ele reiterou planos previamente anunciados para expandir e remodelar o Exército russo, como uma medida estratégica de defesa em resposta à entrada de Suécia e Finlândia na Otan.

Foreman também concorda com a avaliação de que a Rússia hoje não tem capacidade para treinar, montar e tornar operacionais essas novas unidades a curto prazo, tampouco para utilizá-las como forças de ataque em um conflito armado.

— Shoigu foi, como de hábito, opaco nesses detalhes. Não acredito que a Rússia hoje tenha a capacidade de juntar soldados, treinar e equipar essas novas formações, dadas as dificuldades atuais na Ucrânia, as perdas, as pressões sobre o complexo militar-industrial e a destruição de grande quantidade de equipamentos e blindados — afirmou à Newsweek.

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