Em evento com empresários colombianos e brasileiros em Bogotá nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu a criação de um banco para a América do Sul. Lula foi recebido na capital pelo líder colombiano, Gustavo Petro, e participou de um almoço e de uma reunião bilateral antes do fórum econômico. Brasil e Colômbia dividem uma fronteira de mais de 1.600 km de extensão na região amazônica e a segurança foi um dos temas tratados nas reuniões.
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— Não é possível que a gente não tenha capacidade de criar um banco nosso da América do Sul. Não é possível que a gente tenha que correr atrás do Banco Mundial toda hora. A gente pode criar uma coisa nossa, um banco que fale que nem a gente e pense que nem a gente — declarou Lula aos empresários.
A ideia é que o banco ajude os países sul-americanos a se desenvolverem. Lula também defendeu que os países do cone sul priorizem relações empresariais entre si por meio da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
O presidente brasileiro ainda defendeu a criação de uma Inteligência Artificial (IA) sul-americana e criticou os Estados Unidos e o muro-fronteiriço com México:
— Os Estados Unidos, que deveriam cuidar disso gerando emprego junto aos seus vizinhos, têm uma política de construir um muro para proibir latino-americanos à procura de chance de trabalho na publicidade tão grande que eles fazem. (Latino-americanos) são considerados bandidos.
Em outro momento, criticou a dolarização de moedas na América do Sul — ideia defendida pelo presidente da Argentina, Javier Milei, para salvar a economia argentina. Segundo o presidente brasileiro, "se dolarizar a economia resolvesse", o Brasil e a Colômbia não teriam problemas.
— O problema não é da moeda, é nosso — completou.
Colômbia no Brics
Lula sugeriu que os brasileiros e colombianos se unam a fim de uma possível entrada da Colômbia no bloco econômico Brics, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No ano passado, seis novos países entraram no grupo: Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã.
— Nós temos uma chance extraordinária, possivelmente, chance que nunca tivemos de juntos trabalharmos para unificar a América do Sul, para fazer com que, quem sabe, a nossa querida Colômbia possa participar dos Brics. A Colômbia vai participar de algumas reuniões do G20. Eu certamente irei participar da COP da Biodiversidade, aqui na Colômbia, em Cali.
Petro e Lula tratam sobre Venezuela e Amazônia
No encontro, os líderes sul-americanos trataram sobre o processo eleitoral venezuelano, depois que diversos candidatos da oposição foram barrados da corrida presidencial de 28 de julho. Em declaração à imprensa ao final do encontro com empresários, Petro afirmou que a Colômbia propôs a Lula, ao presidente venezuelano Nicolás Maduro e à oposição venezuelana a criação de um plebiscito para mediar um "pacto democrático" no país que garanta a segurança e os direitos políticos de todos os candidatos venezuelanos.
— Garantias que qualquer ser humano tem que ter em seu país — disse o líder colombiano. Lula evitou falar sobre o tema.
Os dois presidentes também trataram sobre o Haiti, as agendas de comércio e investimentos, desenvolvimento sustentável, cooperação para frear o desmatamento na floresta amazônica, programas sociais, direitos humanos e agricultura familiar.
Conforme O GLOBO apurou, a disputa entre Venezuela e a Guiana pelo território de Essequibo também fez parte da conversa entre os dois presidentes. A região, rica em petróleo, hoje é considerada uma nova região venezuelana pelo presidente Nicolás Maduro, e as crises no país afetam tanto o Brasil quanto a Colômbia, que fazem fronteira com a Venezuela.
O presidente brasileiro desembarcou na capital colombiana na noite de terça-feira para a sua segunda visita ao país desde o início do mandato. A primeira aconteceu em julho do ano passado.
Além de se encontrar com Petro, Lula participou de uma reunião com cerca de 300 empresários brasileiros e colombianos na parte da tarde. À noite, encerrou a visita na inauguração da Feira Internacional do Livro de Bogotá. O Brasil será homenageado como convidado de honra. O evento terá duração de duas semanas e deve receber cerca de 600 mil visitantes.
O Palácio do Planalto chegou a divulgar um discurso que Lula faria no almoço, em que trata de temas como segurança e democracia. Essa fala não ocorreu, disse o governo brasileiro.