Câmara baixa do Arizona aprova revogação de lei do século XIX que veta aborto em praticamente todos os casos

Texto, que havia sido restabelecido pela Suprema Corte no início deste mês, oi aprovado graças ao apoio de três republicanos moderados; medida segue para o Senado estadual

Por O Globo com agências internacionais — Los Angeles


Manifestantes protestam contra decisão da Suprema Corte americana que derrubou direito constitucional ao aborto Anna Rose Layden/NYT

Em uma votação acirrada, e possível graças ao apoio de republicanos moderados, a Câmara baixa do Arizona aprovou nesta quarta-feira a revogação de uma lei do século XIX que proíbe a realização do aborto em quase todos os casos, exceto quando "necessário para salvar a vida" da gestante. O texto havia sido restabelecido pela Suprema Corte do estado no início do mês, sob o guarda-chuva da queda da decisão Roe contra Wade em 2022, e agora segue para o Senado estadual, onde os republicanos têm maioria estreita.

Após duas tentativas fracassadas, a aprovação venceu por 32 a 29 votos, possível graças a três deputados republicanos — Matt Gress, Tim Dunn e Justin Wilmeth — que decidiram apoiar os democratas na iniciativa, apresentada pela deputada democrata Stephanie Stahl Hamilton. A governadora Katie Hobbs, democrata e defensora declarada do direito ao aborto, vinha pedindo aos legisladores que revogassem a lei de 1864, e espera-se que caso a medida chegue à sua mesa, seja sancionada.

A aprovação foi elogiada por ativistas dos direitos reprodutivos, democratas e até pela Casa Branca, com a sua porta-voz, citada pela NBC News, afirmando que a decisão era "uma coisa boa".

— Estamos avançando na direção certa — disse Karine Jean-Pierre.

A legislação em questão foi criada nos tempos da Guerra Civil americana e prevê punição de dois a cinco anos de prisão para quem realizar ou ajudar uma mulher a realizar um aborto, restritos até mesmo em casos de estupro. Para restabelecê-la, a Suprema Corte do estado respaldou-se na derrubada do direito ao aborto legal em 2022, que pôs fim à garantia federal ao procedimento, cabendo a cada estado legislar sobre sua legalidade. Nessa linha, como a interrupção era viabilizada graças à decisão de uma corte de primeira instância, a Suprema Corte alegou que não havia uma "regra federal" vetando a aplicação da lei.

Muitos eleitores denunciaram a proibição como uma intrusão draconiana nos direitos das mulheres, e a procuradora-geral do Arizona, Kris Mayes, chegou a pedir na terça que a Suprema Corte estadual reconsiderasse sua decisão. Até alguns republicanos, incluindo o ex-presidente Donald Trump, afirmaram que queriam a eliminação rápida da medida pelo Legislativo para tentar evitar uma possível reação no ano eleitoral. A medida inclusive, criou uma fenda dentro do partido, que aflorou nesta quarta durante a sessão na câmara.

— Estamos dispostos a matar crianças para ganhar uma eleição — disse o deputado Alexander Kolodin, um republicano.

Analistas políticos disseram que os republicanos contornaram a decisão de seus líderes correram o risco de perder seus próprios eleitores em distritos conservadores, além de colocar em risco suas outras prioridades, já que o Legislativo começa a trabalhar para aprovar o orçamento anual do Arizona. Além disso, o embate no estado ocorre meses antes da eleição presidencial de novembro, sendo o aborto uma questão central da campanha de Biden e de seu rival republicano, Trump. O Arizona é um importante estado-pêndulo, tendo sido palco de uma das disputas mais acirradas em 2020. Ambos venceram as primárias no estado, em março.

O texto segue para o Senado estadual e poderá ser votado já na próxima quarta-feira, depois que for apresentado para uma "terceira leitura", de acordo com as regras da câmara. Segundo uma fonte familiarizada com a situação à NBC News, também deverá ser aprovado. (Com AFP e NYT)

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