Presidente interino e eleições em 50 dias: Entenda a sucessão de Ebrahim Raisi no Irã

Analistas apontam que novo pleito não deve mudar a direção política do regime

Por O Globo, com agências internacionais


Memorial ao presidente iraniano, Ebrahim Raisi, em Moscou Alexander Nemenov/AFP

A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em um acidente aéreo no domingo, representa um golpe para a linha-dura do regime teocrático de Teerã, que tinha em Raisi, de 63 anos, um possível sucessor para o aiatolá Ali Khamenei, de 85 anos. Com a confirmação da morte, nesta segunda-feira, o país inicia um processo de sucessão, com lideranças interinas e novas eleições em menos de dois meses.

No discurso que declarou cinco dias de luto nacional, Khamenei anunciou que o vice-presidente, Mohammad Mokhber, vai assumir de forma interina, respeitando a Constituição iraniana. O vice seria responsável por, ao lado dos chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário, convocar uma nova eleição presidencial em um prazo máximo de 50 dias.

— Mokhber administrará o Poder Executivo e é obrigado a combinar com os chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário a eleição de um novo presidente no prazo máximo de 50 dias — afirmou o líder supremo iraniano.

Vídeo mostra resgate dos corpos de autoridades do Irã após 12 horas de buscas pelo helicóptero que caiu

A realização do pleito, contudo, não deve mudar o direcionamento político do Irã, segundo analistas. A expectativa é que a linha-dura ligada aos setores religiosos mantenham-se no poder.

— É muito provável que a liderança do regime, incluindo Khamenei, trabalhe para realizar uma eleição presidencial para garantir que um substituto adequado suceda Raisi, ao mesmo tempo que mantém fora candidatos reformistas ou moderados, como tem sido a prática desde 2021 — disse Gregory Brew, analista no Eurasia Group.

Área de buscas pelo helicóptero do presidente do Irã — Foto: Editoria de Arte/ O Globo

Embora as articulações políticas ainda estejam por começar, analistas e acadêmicos próximos ao establishment em Teerã apontavam o filho do aiatolá, o clérigo Mojtaba Khamenei, como possível sucessor de Raisi no cargo de líder supremo. A nomeação, contudo, quebraria uma tradição da Revolução Islâmica, que fundou o regime atual em 1979, que se opõe a qualquer sistema que se assemelhe à monarquia que derrubou.

A popularidade de Mojtaba também nunca foi testada, visto que ele não ocupa nenhum cargo governamental e não é visto publicamente com muita frequência. Não se sabe se ele vai tentar propriamente subir por meio da disputa política eleitoral.

Apesar da expectativa por uma eleição direcionada aos setores ultraconservadores, Brew aponta como possível demonstrações de insatisfação popular, incluindo manifestações violentas. Ele classificou como "pouco provável" que essas manifestações evoluam para um desafio sério para as forças de segurança ou para a manutenção do regime no poder. (Com AFP e Bloomberg)

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