Bombardeio de Israel atinge deslocados perto de escola da ONU em Khan Younis; Exército ordena retirada na Cidade de Gaza

Militares israelenses afirmam que operações miram terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica; Comunidade internacional critica sequência de ataques contra instalações que servem de abrigo

Por O Globo, com agências internacionais — Gaza


Palestino ferido em bombardeio é socorrido no hospital al-Nasser, em Khan Younis Bashar Taleb/AFP

Durante novas operações em diferentes áreas da Faixa de Gaza, as Forças Armadas de Israel atingiram instalações da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) na Cidade de Gaza e nos arredores de Khan Younis, no centro e no sul do enclave, respectivamente. As autoridades israelenses afirmam que as instalações são usados como base para operações terroristas, enquanto palestinos e observadores internacionais questionam o risco das ações para as pessoas deslocadas pelo conflito, que buscam abrigo temporário nas instalações — quase 2 milhões de pessoas tiveram de se deslocar desde o início do conflito, segundo a ONU, e o Exército israelense ordenou uma nova retirada de civis da capital do enclave nesta quarta-feira.

O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, anunciou a morte de ao menos 25 pessoas em um bombardeio no sul do enclave na terça-feira. O bombardeio aéreo, confirmado pelos militares israelenses, atingiu uma área adjacente à escola al-Awda, na cidade de Abasan al-Kabira, a leste de Khan Younis — uma área onde civis deslocados de outras regiões de conflito estavam acampadas.

As Forças Armadas israelenses argumentaram que o ataque tinha como alvo um terrorista ligado à ala militar do grupo terrorista Hamas, que participou do atentado de 7 de outubro. Os militares ainda afirmaram que foi utilizada "munição de precisão" durante a operação, e que os relatos de civis feridos estavam sob análise.

O bombardeio foi o quarto, nos últimos quatro dias, a atingir diretamente (ou os arredores) de alguma área utilizada como abrigo por pessoas deslocadas pelo conflito, segundo uma contagem feita pela rede britânica BBC. Antes do ataque no sul, duas escolas da ONU no campo de refugiados de Nuseirat foram atingidas por operações, além de uma escola na Cidade de Gaza. Os ataques em sequência provocaram reações internacionais.

"A morte de pessoas em busca de abrigo em escolas é inaceitável. Civis, especialmente crianças, não podem ser pegas pelo fogo cruzado. Os ataques recorrentes a escolas pelo Exército de Israel precisam parar e uma investigação deve ocorrer rapidamente", escreveu o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, em uma publicação na rede social X, nesta quarta-feira.

O diretor-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, também se pronunciou, condenando os ataques e cobrando ação da comunidade internacional.

"Desde o início da guerra, dois terços das escolas da UNRWA em Gaza foram atingidas, algumas foram bombardeadas e muitas ficaram gravemente danificadas. As escolas passaram de locais seguros de educação e esperança para as crianças a abrigos superlotados, muitas vezes terminando em locais de morte e miséria. Nove meses depois, sob a nossa vigilância, as matanças, a destruição e o desespero implacáveis ​​e intermináveis continuam. Gaza não é lugar para crianças. O flagrante desrespeito pelo direito internacional humanitário não pode tornar-se a nova normalidade", escreveu em uma publicação no X.

No campo de batalha, os sinais são de que a operação não vai ter uma trégua imediata. Soldados de Israel estão engajados em uma operação terrestre contra o prédio central da UNRWA, onde o Exército disse ter eliminado membros do Hamas e da Jihad Islâmica e apreendido armas e explosivos. Um soldado foi morto na terça-feira por um sniper do Hamas no bairro de Tel al-Hawa.

"Os soldados realizaram uma operação contra terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica que usavam a sede da UNRWA na Cidade de Gaza como base para lançar ataques", disse o Exército em um comunicado. "[Os soldados] eliminaram terroristas durante os combates e localizaram grandes quantidades de armas."

A diretora de comunicação da UNRWA, Juliette Touma, disse que era difícil saber se havia pessoas refugiadas nas instalações da capital palestina.

Deslocamento na Cidade de Gaza

Nesta quarta-feira, o Exército de Israel lançou panfletos na Cidade de Gaza com pedidos para que todos os moradores sigam para o sul do território palestino. A mensagem, direcionada a "todas as pessoas presentes na Cidade de Gaza", afirma que há "corredores de segurança" para seguir até o sul e alerta que a cidade "continua sendo uma zona de combates perigosa".

Em uma publicação nas redes sociais na terça-feira, os militares israelenses deram uma estimativa de 150 mortos do que chamou de "terroristas" durante as operações no bairro de Shejaiya. Um vídeo anexo à publicação mostrou a destruição de um túnel — ao todo, seis deles teriam sido destruídos na operação.

Eliminação do Hamas

Os confrontos na Faixa de Gaza, incluindo em regiões que o Exército israelense já havia declarado como "livres do Hamas" anteriormente, acontecem em um momento em que tanto o governo israelense quanto o movimento palestino dizem tentar novamente negociar uma possível saída diplomática para o conflito e para a libertação dos reféns que permanecem cativos no enclave. Um dos pontos de maior discordância, apontado como fator impeditivo para as negociações, é o cessar-fogo definitivo sem a eliminação do Hamas — algo que provocou discussões públicas entre o premier, Benjamin Netanyahu, e setores do Exército e do governo.

Colocada em dúvida pelo principal porta-voz do Exército, Daniel Hagari, que disse ser impossível eliminar o Hamas por meios militares — ao menos enquanto ideologia —, o objetivo é um dos pontos em que Netanyahu e a ala mais radical de seu governo têm sido inflexível em negociar. À medida que a ofensiva continua, ao menos de acordo com o comando militar, as baixas ao movimento palestino continuam a se somar.

Em um pronunciamento à Knesset, o Parlamento israelense, nesta quarta-feira, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que 60% dos combatentes do Hamas foram eliminados até este momento do conflito. O número, ainda de acordo com Gallant, seria equivalente à maioria dos batalhões mantidos pelo grupo. Não ficou claro como o Exército israelense chegou a esse percentual.

O último balanço do Ministério da Saúde palestino indica que 38.295 pessoas morreram em Gaza desde o início da guerra, 52 delas nas últimas 24 horas. Do lado israelense, 327 soldados morreram durante as operações no enclave. (Com AFP)

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