Eleição na Venezuela: Maduro recebeu Amorim no Palácio Miraflores e disse que entregará atas eleitorais 'nos próximos dias'

Segundo fontes diplomáticas, o encontro ocorreu num clima 'cordial'; o presidente venezuelano disse ao assessor internacional de Lula que seu governo corre o risco de ser alvo de "um golpe da extrema direita"

Por — Caracas


Assessor especial da Presidência, Celso Amorim, fotografado em São Paulo, e presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, durante evento em Caracas Ana Paula Paiva/Valor e Zurimar Campos/AFP

O assessor internacional para a Presidência da República, Celso Amorim, reuniu-se na tarde desta segunda-feira com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio de Miraflores. Também participou da reunião o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, braço direito de Maduro. Segundo fontes diplomáticas, o líder venezuelano disse ao enviado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que seu governo “entregará as atas eleitorais nos próximos dias”. No encontro, Amorim pediu a Maduro que a Embaixada da Argentina em Caracas, onde estão asilados seis opositores ao regime, seja preservada de possíveis ataques de simpatizantes chavistas.

O encontro, segundo as fontes, ocorreu num “clima cordial”. Maduro e Amorim conversaram sobre o processo eleitoral, e o presidente venezuelano disse ao assessor presidencial que seu governo corre o risco de ser alvo de um “golpe por parte da extrema direita”.

O Brasil vem pedindo transparência no processo eleitoral, em referência, principalmente, à divulgação das atas eleitorais, algo ainda não feito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e que Maduro disse que fará nos próximos dias. Em paralelo, a oposição insiste em sua denúncia de fraude, e diz ter em mãos provas de que o vencedor do pleito foi o principal candidato opositor, o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia.

Uma das fontes consideradas mais confiáveis pela missão chefiada por Amorim é o Centro Carter. Além dele, observadores das Nações Unidas também conversam com representantes do governo brasileiro, mas existem algumas dúvidas na missão enviada por Lula sobre suas tendências políticas.

Nesta segunda, Amorim reiterou que foi “um grave erro a União Europeia ter dado motivo ou pretexto para ser desconvidada [pelo governo venezuelano para ser observador]”. O argumento do governo Maduro é de que a UE não suspendeu, como prometera, sanções contra o país e funcionários de seu governo, entre eles a vice-presidente Delcy Rodríguez.

— [Se a UE tivesse vindo] Não teria acontecido nada disso — assegurou o enviado de Lula.

Após o encontro com Maduro, o enviado de Lula se reuniu também com González Urrutia. Fontes diplomáticas disseram que a conversa “foi boa”. A líder opositora María Corina Machado não foi convidada para o encontro, disse a fonte.

Na manhã desta segunda-feira, Amorim disse ao GLOBO que o Brasil precisava ter certeza sobre as atas eleitorais antes de se pronunciar sobre a eleição.

Sou amigo de César, mas sou mais amigo da verdade. Estou procurado a verdade — afirmou o assessor de Lula, que nas últimas horas conversou com observadores internacionais, analistas locais e governos estrangeiros.

Amorim confirmou ter falado com o dirigente opositor Gerardo Blyde, coordenador da oposição nos diálogos com o chavismo, e um dos principais interlocutores do assessor de Lula na oposição venezuelana.

Existia nesta segunda a expectativa de um comunicado conjunto entre Brasil, Colômbia e México, mas, segundo as mesmas fontes, isso não deve acontecer na próximas horas, ou dias. Amorim deve retornar ao Brasil nesta terça.

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